Sr.Matsui 22/01/2010Leia antes que vire filmeShantaram é um daquele livros que você espera encontrar a cada 5 ou 10 anos.
Sabe como é?
No começo dessa enorme aventura (944 páginas!) um jovem australiano com um passaporte neozelandês falso voa para Bombay (hoje Mumbai) sob o pseudônimo "Lindsay" em algum momento da década de 80.
Em seu primeiro dia lá, Lindsay encontra duas pessoas que irão influenciar bastante seu destino na cidade.
Uma delas é seu guia, Prabaker, cujos talentos incluem um sorriso largo e um coração impossivelmente alegre. Com a ajuda de Prabaker, Lindsay aprende Marathi (uma língua que os gora - estrangeiros - não costumam falar), conhece vilarejos da Índia e consegue abrigo temporário em uma favela, onde ele monta uma clínica comunitária.
A segunda importante é Karla, uma bela mulher com ascendência suíça-americana de olhos verdes e com um círculo de amizades composto de expatriados. O amor de Lindsay por Karla - e sua suposta inabilidade de retribuir esse amor - cria parte da tensão do livro.
A vida de "LinBaba" na favela termina repentinamente quando ele é preso sem acusações formais e jogado no inferno que é o presídio de Arthur Road. Quando finalmente ele é libertado, decide não morar mais na favela e começa a lavar dinheiro e falsificar passaportes para um dos chefões da máfia local - o sábio Abdel Khader Khan.
Eventualmente ele segue Khader em uma improvável guerrilha durante a guerra contra os russos no Afeganistão.
Ali ele descobre a ligação de Karla com Khader e também quem o denunciou para as autoridades que o prenderam.
E isso é Shantaram. Uma história de primeira que cativa você da primeira página e mantém o interesse ao longo de suas 944 páginas. O livro transborda com a quantidade de personagens dos mais variados espectros morais e persuasivos - bons e maus.
E também é rico de temas grandiosos, sobre a natureza humana e o esforço humano para sobreviver e seguir em frente, por bem ou por mal.
Para melhorar mais ainda, o estilo do autor é muito interessante; descritivo e muito bonito, sem jamais descer para o sentimental ou piegas. Gregory Roberts consegue encontrar constantemente as palavras e frases corretas para ilustrar a quantidade de experiências por quais passou.
O autor, que escreveu o primeiro esboço do livro na prisão, colocou tudo o que sabe e sente dentro de sua obra. E você percebe isso claramente. Existe dentro da história uma sensação de "wide-screen". Se existem ocasionais passagens que não fariam muito bonito em uma avaliação de faculdade, o livro tem imagens, histórias, personagens, diálogos filosóficos e mistérios que compensam - de longe - os defeitos da narração.
Gregory Roberts não pensa duas vezes em romancear e tomar licenças poéticas. Porém ao longo de todas a história, você tem a sensação de que tudo é real e aconteceu de verdade. Roberts é um Joselito de bom coração, capaz de se comportar criminosamente mas que na verdade é um homem inteligente e basicamente decente que jamais machucaria alguém de propósito. Especialmente quem ele conhece.
Ele é um pára-raios de problemas, soldado do acaso, um herói de um dramalhão: um sobrevivente que tenta viver com sua sabedoria em uma sociedade corrupta. Sua história é irresistível.
Esse é um livro que eu tenho minhas dúvidas se conseguiriam transformar em filme.
Que é o que vai acontecer em breve. Johnny Depp leu este livro e está financiando pessoalmente a produção dele - além de fazer o papel principal.
Não fosse pela greve dos roteiristas americanos a três anos atrás, o filme teria ficado pronto e lançado ano passado (2009).
A diretora Mira Nair ainda continua no comando e a previsão de estréia é para 2011.