Carla.Parreira 18/10/2024
Casa de Pensão (Aluísio Azevedo). O livro é um retrato da sociedade carioca do século XIX, marcada por uma crítica ao comportamento humano e às relações interpessoais. Aluísio, nascido em 1857, muda-se para o Rio de Janeiro aos 19 anos, onde inicia sua trajetória artística. Ele se destaca no movimento naturalista, especialmente com seu romance "O Mulato", que aborda questões de preconceito racial, e mais tarde com "Casa de Pensão", publicado inicialmente como folhetim em 1883. A narrativa centra-se no estudante Amâncio, também originário do Maranhão, que, ao chegar ao Rio, reflete as experiências de Azevedo. Amâncio é caracterizado como um jovem mimado e egocêntrico, que busca apenas aventuras e relacionamentos superficiais. A trama se desenvolve na casa de pensão dirigida por João Coqueiro, onde Amâncio se instala após sair da casa do amigo Campos. A dinâmica entre os personagens revela um plano ardiloso por parte de Coqueiro e sua esposa, Madame Brizar, que veem em Amâncio uma oportunidade de favorecer a situação da filha, Amélia, que, à medida que os encontros secretos progridem, torna-se amante de Amâncio. A relação entre ambos se complica quando Amélia, ambiciosa, começa a exigir presentes e dinheiro, o que culmina na compra de uma casa por Amâncio para evitar um escândalo. No entanto, ao perceber que está sendo manipulado, ele decide retornar ao Maranhão após a morte de seu pai, mas é impedido por Joao Coqueiro, que orquestra a prisão de Amâncio no porto, tornando-se assim o desencadeador de perigosas reações na sociedade carioca. O desenrolar da história promete aprofundar ainda mais as tensões entre o desejo, a ambição e as armadilhas das relações sociais e familiares, enquanto se aproxima do clímax do conflito e suas consequências para os envolvidos. Amâncio, após ser libertado, é recebido por uma sociedade que rapidamente toma partido, com a maioria apoiando-o e desonrando o Coqueiro, que agora enfrenta vergonha e dificuldades financeiras, pois dependia do jovem. Envergonhado e alvo de zombarias, Coqueiro, em um ato desesperado, busca confrontar Amâncio em seu hotel e acaba por matá-lo. Com a morte do filho, a mãe de Amâncio, ao chegar ao Rio informada por Campos sobre a prisão, descobre o trágico desfecho da vida de seu filho. A obra de Azevedo termina de forma abrupta, refletindo a realidade crua das relações e da moralidade da época. Luís Azevedo, para escrever "Casa de Pensão", buscou conhecimento empírico, visitando cortiços e pensões, capturando a essência da vida urbana em uma época de rápidas transformações sociais e econômicas no Rio de Janeiro. O autor destaca as tensões provenientes da urbanização, que trouxe uma onda de imigrantes e a luta por moradia. As pensões, como a de Madame Brizar, serviam como um microcosmo das diferentes classes sociais e realidades que coexistiam na cidade, refletindo a crescente divisão entre os que tinham e os que não tinham. O realismo e o naturalismo se entrelaçam na narrativa, onde o naturalismo se aprofunda em como as condições sociais e familiares moldam o comportamento dos personagens. A formação de Amâncio é evidenciada através do contexto de sua infância, marcada pelo egoísmo e a falta de afeto dos pais. Esta formação está ligada a correntes científicas da época, como o evolucionismo de Darwin e o empirismo de Comte, que influenciaram a maneira como Azevedo explorou a natureza humana em sua obra. A estrutura do romance permite discussões mais amplas sobre a condição feminina, a sociedade machista e os costumes urbanos da época. A narrativa inclui temas de adultério, violência e ambição, que foram comuns também nas experiências compartilhadas dos estudantes da época, como no caso verídico que inspirou Azevedo. A história de Capistrano, um estudante do Paraná envolvido em um crime semelhante, revela as nuances da moralidade e as consequências tragédias que permeavam o cotidiano da sociedade carioca no século XIX. O romance, embora breve, provoca reflexões significativas sobre a realidade do Brasil daquele período, permanecendo acessível ao público literário moderno.