Danielle 16/04/2012
Jonas.
Na orelha do livro tem assim: … Patricia Melo acrescenta uma figura singular à galeria romanesca de pobres-diabos que é um dos veios centrais da literatura brasilera.
Pobre-diabo: Jonas.
Jonas é especialista na arte advinhatória de ler fezes. Suas fezes, baseadas em um sistema que ele mesmo criou – que mistura mística cristã, hieróglifos, Rubens Fonseca, iluminismo e filosofia antiga, paranóia-delirante e uma não-vida – falam sobre seu não-futuro e lhe proporciona uma bad trip, uma crença, que algo de realmente extraordinário vai acontecer no meio daquele mar de nada.
Jonas, o Copromanta [Cia das Letras, 2008] foi uma leitura que posterguei sei lá porque [sei sim: não sabia nada do livro nem da autora e não tinha gostado da capa], mas aí naquelas de conhecer o desconhecido, fui lá, e não me arrependi.
Patricia sabe o que faz: joga bem com as palavras, tem ritmo e, apesar de em um ou dois momentos eu pensar que ela corria em círculos sem tirar a história do lugar, as partes em que avançava, bem, elas compensaram aquele sentimento.
Fora isso, um trunfo no meio do romance [não digo, não quero estragar nada] que me deixou de cara por ser algo simples que, para mim, demonstrou, se não um domínio pleno da sua obra, pelo menos, uma sagacidade absurda.
A orelha estava certa. Jonas é mesmo um pobre-diabo. Um, dentre tantos que a literatura brasileira gosta de perfilar.
Penso que isso queira, de verdade, ter algum significado.