_eurobeitinhuuu_ 19/07/2024
A culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste.
Acabo de ler um dos melhores livros de toda a minha vida. Foi uma obra q me fez entender melhor a figura mais desconhecida e incompreensível q já tive contanto em toda a minha passagem, até então, pela existência: o meu pai.
Tendo os meus pais se separado desde muito cedo, não construí minha visão a respeito dele em base doq eu vi, mas sim doq me era falado, pela minha mãe e meu tio, a respeito dele. Eram tantos fatos contraditórios e histórias inacreditáveis para uma pessoa só q era praticamente impossível concebê-lo com coerência. Por mais q, desde então, ele não tenha sido ausente, em todos os momentos q nos encontrávamos, eu não sentia qualquer tipo de conexão. Tudo q ele sabia fazer no pouco tempo em q passávamos juntos era falar como me amava e me dar lições de moral, q eram reutilizadas de todos esses encontros. Tudo isso só me fazia sentir cada vez mais distante dele, por toda essa forma repetitiva de se comunicar cmg. Quem me dera se eu tivesse compreensão, desde aquele tempo, doq tudo aquilo significava.
Ler o esclarecimento final de Paulo Honório a respeito de toda a sua brutalidade e de seu egoísmo, e da forma tão injusta que isso tudo se instalou em sua personalidade, e de que maneira isso trouxe tanto sofrimento a ele, sem que ele pudesse ter a escolha de querer isso ou não, foi algo que, ao mesmo tempo que partiu meu coração, explodiu a minha cabeça. Os paralelos com meu pai estão todos ali, e ao analisar isso, tudo se fez tão claro...
Toda aquela repetição de meu pai soa agr para mim como se fossem desesperadas tentativas de estabelecer uma ligação cmg, mas q seu pouco estudo e brutalidade, intrínsecos a sua trajetória de vida sofrida, onde a desconfiança smp teve q andar ao seu lado, impediam de alcançar (assim como Paulo Honório para aqueles q amava).
Dps de terminar de ler o livro, liguei para o meu pai. Tivemos uma boa conversa, e terminei falando-lhe um "eu te amo", que deve ter sido um dos mais sinceros q eu já dei na minha vida.
Isso tudo me faz refletir sobre como a literatura é uma coisa extraordinária, de fato. Ela lhe oferece respostas para as perguntas q vc menos espera solucionar, te fazendo entender q seus problemas não são tão pessoais assim. A universalidade do sofrimento é algo q pouco se passa na nossa cabeça. De vez em quando, vc pode até já ter as soluções para essas dúvidas, mas enquanto isso não tocar seu coração, de forma q incite a sua transformação, nada ocorrerá. Eu até podia falar pra mim mesmo q o meu pai me amava muito e q eu devia valorizar isso, pois nós só damos valor pras coisas qnd as perdemos, mas nunca a minha compreensão conseguiu enxergar oq levava o meu pai a ser como ele era, e isso era oq ainda me separava dele. Os livros expandem seu horizonte de consciência, de maneira q vc passe a enxergar um mundo q se perdia aos seus olhos.
Paulo Honório não é só um personagem isolado e complexo criado pelo incomparável Graciliano Ramos. Também não é somente, por um acaso, uma figura que me lembrou meu pai e me fez entendê-lo melhor. Paulo Honório é reflexo de toda uma multidão que, até hoje, sofre por conta de sua vida agreste, que lhe deu uma alma agreste. A dificuldade de estabelecer ligação com aqueles q ama é só um dos muitos dramas intrínsecos a essa condição sofrível. Conforme vamos avançando na leitura, Paulo Honório, com sua animosidade e sua linguagem simples, vai se estabelecendo como um respeitável porta-voz dessa luta miserável.
Infelizmente, a maioria das pessoas, atualmente, escolhe ler livros irrelevantes, q apenas proporcionam entretenimento, sem conceder o conhecimento; a mudança. Sendo assim, fica o meu apelo: leiam livros bons, clássicos, aqueles q todo mundo fala pra ler antes de morrer. Esses são os que compõem, verdadeiramente, a literatura da qual todo mundo fala de forma apaixonada. Esses são os que, verdadeiramente, irão te aperfeiçoar e amadurecer. A vida é curta dms pra gastá-la lendo lixo, e, às vezes, vc pode acabar descobrindo isso tarde demais...