Dai @veraaode92 17/12/2018O barão Enézio Mondevideu é conhecido por ser frio e extremamente rigoroso. Suas ordens eram para ser acatadas e jamais questionadas. Um senhor feudal muito rico e que se importa apenas com status. Culpa sua esposa, Antonelle, por não ter lhe dado um herdeiro homem, no entanto é pai de duas meninas, Elizabeth e Caroline. Elizabeth segue as ordens do pai rigorosamente, é linda e tem uma postura impecável. Já Caroline é uma menina risonha, aventureira e que fala tudo o que lhe vem à cabeça.
Por essa ousadia, de desafiar o pai com perguntas que não deveria fazer, ela vai ser dolorosamente castigada e essas marcas ela carregará pra sempre em seu coração. Mas, é essa castigo que a faz enxergar a vida diferente, se questionando porque ela tem que obedecer ao pai ao invés de ser livre e fazer o que quiser?!
“As marcas sumiram de sua pele em algumas semanas. No entanto, naquela mesma noite, enquanto chorava sozinha, desenhou em sua alma a personalidade e ideologia que a acompanhariam pelo resto de sua vida. Descobriu, da maneira mais difícil, que aquelas marcas jamais se apagariam do seu coração.”
O ano é de 1227, uma época onde as mulheres eram submissas aos homens e se casavam com quem tinha mais terras e dinheiro a oferecer, onde deveriam obedecer e jamais expor seus pensamentos. Tempo onde ou você era dono de terras ou era um vassalo. No entanto, Caroline nasceu com ideias totalmente diferentes do que era obrigada a seguir, e quando seu pai anunciar seu casamento a sociedade antes de comunica-la, ela se sente completamente arrasada e em sua fuga do anuncio ela se encontra com Bernardo. Um domador de cavalos.
De início, Bernardo é um homem arrogante e Caroline o despreza por isso, mas perceberá que somente com ajuda dele ela vai conseguir a liberdade que tanto deseja. Unindo seu sonho ao dele, e ultrapassando todas as diferenças que têm, ela propões um plano que mudará um rumo de suas vidas para sempre.
Sabe quando você tem a sensação de que está lendo o último romance publicado de um autor e não o primeiro?! Pois é, tive essa sensação com O Pássaro, onde a escrita da Samanta está tão superior ao seu último lançamento que eu me sinto grata por ter lido este posteriormente ao outro. É uma evolução de narrativa que eu me surpreendi em ter amado e me emocionado com o enredo.
Por se passar em uma época tão antiga, é claro que a escrita da autora não está perfeita. Existem alguns deslizes em usar termos de época, como por exemplo quando ela cita “uma fossa de amor” ou quando em um momento chama um criado de servo e no outro pelo primeiro nome. No entanto, a história é tão bem construída que você não leva esses detalhes em consideração. Até porque, acredito, que quando você não deixa detalhes da época que são importantes de fora, pouco tem relevância um vocabulário sem padrões.
Um desses detalhes, é o fato de na época a Bíblia Sagrada ser escrita somente em Latim, e você ser obrigado a repetir o que o padre fala na igreja, sem ter ideia do quê você realmente está falando e acreditando. Não ter deixado isso de fora foi o ponto principal para eu gostar tanto desse livro, pois é em uma cena com a Bíblia que os motivos que nossa protagonista teve para iniciar sua busca pela liberdade é explicado.
Caroline é uma moça que eu admirei, por sua crença em querer mais que ouro, mas principalmente por sua coragem de enfrentar o que for para buscar o que deseja. Filha de um homem muito rico, ela sempre se questionou porque seu pai que nunca trabalhou tinha tanto enquanto os empregados que trabalham o tempo inteiro, não tem nada. Ela nunca aceitou as diferenças da sociedade. Uma criança ingênua mas que ao crescer mostra uma garra invejável.
“- Diferentes? Óbvio que não! – Agora, ela ria com vontade. – Você é igualzinho a mim! Só tem a pele um pouco mais escura, mas deve ser porque fica muito tempo debaixo do sol, como as jardineiras…”
As atitudes de Caroline não remetem somente a sua vida, mas também de sua mãe e sua irmã, que aos poucos vêem o que era para ser errado como um exemplo a seguir. E essas ramificações tem uma construção ao longo do enredo e são finalizadas. Ou seja, tudo o que a autora constrói em O Pássaro ela também conclui, não deixando pontas soltas.
Temos uma história de amor muito bonita, que me fez além de suspirar, levar questionamentos para o resto da vida, com certeza. Porém, não é só de amor de homem e mulher que se trata o livro. Mas de crescimento pessoal, e principalmente coragem feminina em enfrentar tudo o que é plantado pela sociedade e modifica-lo para algo que você realmente acredita.
Não tive um bom início com Samanta Holtz (Quando o Amor Bater a sua Porta), mas tive uma ótima sequência que deixou meu coração bem aquecido. E uma vontade tremenda de conferir outras obras da autora, na expectativas que me tragam todos os sentimentos bons que este livro me trouxe.
site:
http://resenhandosonhos.com/o-passaro-samanta-holtz/