De castelo em castelo

De castelo em castelo Louis-Ferdinand Céline




Resenhas - De Castelo em Castelo


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Rodrigo Arlindo 29/08/2024

A mediocridade da supremacia
Céline faz brotar aquele dilema recorrente na arte: separar o artista da obra? “De castelo em castelo” não permite tão facilmente estabelecer essa “fronteira”, não é não-ficção nem ficção, é uma “autoficção autobiográfica” onde jamais conseguiremos estabelecer onde começa a ficção e onde entra o relato biográfico. Inúmeras figuras históricas são pintadas sob o olhar do autor, inúmeros fatos são narrados sob a perspectiva dele. No fim, trata-se de um livro sobre o zênite do delírio n4zist4 sob o olhar de um colaboracionista francês preso num castelo medieval onde a tensão do fracasso supremacista revela a mediocridade dos ideais, dos líderes, dos valores e da estrutura social propostos pelos movimentos de extrema-direita europeus da primeira metade do século XX, calcados em fundar governos classistas e racistas e fadados ao fracasso justamente por serem filosoficamente embasados num individualismo egocêntrico, na crença de uma superioridade inexistente, delirante, imperialista, colonialista, enfim, abjeta.

Enfim, para quem tem dimensão da mediocridade das propostas supremacistas europeias esse livro é um registro histórico de como esses valores afetavam “internamente” as pessoas que eram alienadas por eles e terminaram “saindo de cena” num “cada um por si”, retratado no livro como uma “coitadolândia” egocêntrica dos supremacistas que viram seus delírios arrivistas, burgueses e preconceituosos serem destruídos justamente por seus valores não construírem “unidade social” alguma.
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Nivia.Oliveira 28/01/2023

Fiquei muito atraída por esse livro porque se trata de um médico francês e escritor a favor do Nazismo - história real - que teve que perambular pela França de abrigo em abrigo... em castelos. Pensei, “Nossa, vai ser diferente de todos os livros que já li... sair do foco da vítima”. Minha expectativa foi maior que a realidade.
Céline publicou panfletos antissemitas, deu risadas com as experiências do tipo Menguele, delatou e torturou judeus e maçons, ajudou a milícia francesa... Jurado de morte ele teve que viver fugindo apelando para protetores alemães.
O período é final de 1944 e início 1945. Isto é, o final da 2ªGM, em que a Alemanha perde. Curioso como ele passa por espaços bombardeados e passa fome e ainda assim, continua a favor de Hitler.
Mas o que não gostei é que o livro é como um diário, mas ele conta mais sobre o que se passou na França. Cita muitos nomes, principalmente políticos franceses (só o apêndice tem 40 páginas! ) que pra ele faz sentido, mas para nós, leitores não-franceses, os acontecimentos ficam soltos, e portando chato de ler. Niilista, com uma visão cética radical e pessimista sobretudo, ele dá muita risada sem graça, fala muito palavrão, utiliza muitas reticências...Confesso que pulei algumas partes...

Eduardo Vainer 21/02/2023minha estante
Céline é o maior escritor francês do século XX, ao lado de Proust. Mas não por este De Castelo em Castelo, mas sim por Morte a Crédito e sobretudo, pelo Viagem ao Fim da Noite, este um dos 5 melhores livros que já li na vida.




Exusiaco 11/04/2017

O que a gente aprende nos dédalos da vida...
Já no final do Viagem ao Fim da Noite, Céline insinuava que estava em busca de uma idéia...a idéia...e a encontrou...a pior de todas..que descambou na Solução Final...a barbárie das barbáries...ideia de uma nova Europa... com tudo aquilo que o fascismo poderia proporcionar...cegados em plena vicissitude do horror...que tipo de sombra terrífica os medusava...não foi pouco odiado...cretinizou-se...abjetizou-se...pagou o preço...hoje em dia...com esse influxo extremadireitista...poderia cair nos braços de Marine Le Pen. Céline estilizou o inferno...literatura febril e delirante...arte literária além do bem e do mal...reticências pra dar com pau...praguejou contra a hipocrisia...imprecações contra Aragón que o considerava, até a guinada antissemita, um anarquista...contra Triolet...contra Sartre...mais ainda contra os editores sanguessugas...tudo cambada de filho da puta...Acreditava que sua danação proveio de seu estilo. Resistência anatematizando Collabos...das Participações-caixões à Depuração...Siegmaringen cidade hospício...suplício de maldades condensadas...com 1142 condenados pelo artigo 75...além de muitos outros refugiados do lado do eixo...e no Castelo...cascata de excremento escorrendo escada abaixo...Paranoias mil...de bombardeios à iminente chegada de Leclerc e a horda de senegaleses degoladores...ah, não esqueço de mencionar uma passagem…a do Chateaubriant...místico insano e colaboracionista...mentor de uma potente bomba moral e espiritual...muito destruidora...junto a seu séquito numa base entre três colinas...mas Céline era médico dos pobres...involuntário Omulu setentrional? E tome traulitada no crânio com o remo de Caronte...delírio recorrente...e destaque para a primorosa tradução de Rosa Freire D'aguiar, viúva de Celso Furtado.
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