Rodrigo Arlindo 29/08/2024A mediocridade da supremaciaCéline faz brotar aquele dilema recorrente na arte: separar o artista da obra? “De castelo em castelo” não permite tão facilmente estabelecer essa “fronteira”, não é não-ficção nem ficção, é uma “autoficção autobiográfica” onde jamais conseguiremos estabelecer onde começa a ficção e onde entra o relato biográfico. Inúmeras figuras históricas são pintadas sob o olhar do autor, inúmeros fatos são narrados sob a perspectiva dele. No fim, trata-se de um livro sobre o zênite do delírio n4zist4 sob o olhar de um colaboracionista francês preso num castelo medieval onde a tensão do fracasso supremacista revela a mediocridade dos ideais, dos líderes, dos valores e da estrutura social propostos pelos movimentos de extrema-direita europeus da primeira metade do século XX, calcados em fundar governos classistas e racistas e fadados ao fracasso justamente por serem filosoficamente embasados num individualismo egocêntrico, na crença de uma superioridade inexistente, delirante, imperialista, colonialista, enfim, abjeta.
Enfim, para quem tem dimensão da mediocridade das propostas supremacistas europeias esse livro é um registro histórico de como esses valores afetavam “internamente” as pessoas que eram alienadas por eles e terminaram “saindo de cena” num “cada um por si”, retratado no livro como uma “coitadolândia” egocêntrica dos supremacistas que viram seus delírios arrivistas, burgueses e preconceituosos serem destruídos justamente por seus valores não construírem “unidade social” alguma.