Genealogia da Moral

Genealogia da Moral Friedrich Nietzsche




Resenhas - Genealogia da Moral


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Mancha! 06/05/2012

Ótimo! :)
Primeiramente, no prefácio, o autor decorre a respeito dos motivos que o levaram a penetrar nas origens dos conceitos morais, tentando entender de onde surgiram os conceitos de bem e mal a qual estamos acostumados a pensar. Afirma ter receio de criar hipóteses irrelevantes e esquisitas, e sugere alguns trechos de seu "humano, demasiado humano" e "aurora", por notas em comum. Tudo segue com um aforismo natural de Nietzsche, o mesmo afirmando que todos os escritos que serão percorridos irão ser de grande polêmica.
O livro começa enfim com uma dissertação sobre o "Bem" e "Mal" e o "Bom" e "mau", ele disserta a respeito dos psicólogos ingleses, responsáveis pelos primeiros escritos sobre a origem da moral, só que a maneira como foram impostas ainda tendem a serem enigmáticas, fazendo com que o autor desaprove. Nietzsche aprova que a verdade seja revelada, por mais anti-cristã, repugnante, suja... Ela possa vir a ser. Para ele, devemos refrear o coração e largar o desejo em prol da verdade. Por mais dura e "imoral" ela possa vir a ser. Ainda o autor aponta que a inclusão das antíteses "bem" e "mal" se devem às pessoas de "1° ordem", que tacharam o moralmente correto de acordo com suas percepções. E é essa superioridade de um grupo sobre outro de casta inferior que acaba por incentivar a existência desses valores, de acordo com Nietzsche; Ainda faz uma análise etimológica da palavra "mau" em alemão, e descobre que a palavra se assemelha à palavra "simples”, criando uma relação com o homem simples, plebeu. Por justamente as pessoas de "1° ordem" designarem as ordens de acordo com o poder, os seres "inferiores" e humildes acabaram virando associação a algo ruim, mal. Tudo é designado pelas circunstâncias, como posso compreender.
Um pouco antes da segunda dissertação, o autor critica imensamente a fé dos fracos, afirmando que o cristianismo foi facilmente aceito devido ao fato da fraqueza ser benéfica para os covardes; ela nada mais era do que um sinal de humildade, que logo era ligada à virtude e, claro, ao conceito de "bom".
Em um momento interessante do livro, o autor continua sua reflexão sobre a origem do ideal de bom e o surgimento da "má- consciência", afirmando que a última surge pela ala pobre da sociedade, da ala submissa, que se ver incapaz de poder revolta-se tendo, então, que adentrar a raiva em si mesmo, adentrar-se, conter o ódio do exterior e começar um processo de interiorização do homem, e é a partir daí que Nietzsche afirma surgir a má consciência. É dor ressentida, presa. Cujos pensamentos são facilmente censurados por suas próprias crenças, que o policiam em seus próprios pensamentos! Isso, nada mais é, que pura alienação, a meu ver...
Já na terceira dissertação, Nietzsche decorre a respeito do que leva os filósofos a viverem na austeridade, seguindo um ideal ascético, que se privam das coisas mundanas em prol de um corte de gastos; fala sobre características de vida de filósofos, entre elas a impossibilidade de exercer o ofício estando casado, sendo Sócrates o único conhecido dos que se manipularam por uma mulher, esse "instrumento diabólico"... Descreve essa fuga do mundo, das pessoas comuns, para se fechar em si mesmo e ser como uma "alma do mundo", sem prender âncoras em lugares, ser um espírito livre.
Chegando mais próximo do fim, em sua terceira e última dissertação do livro, Nietzsche decorre a respeito do ideal ascético, fazendo uma espécie de interpretação do que leva a pessoa a seguir uma vida de singulares "privações", de um niilista. Essa vida de austeridade, de negação aos valores por justamente estar "desanimado" com tudo é pura consequência da busca pela verdade, e essa busca não necessariamente supre nossos desejos, muito pelo contrário, em sua maioria, tende a nos querer preferir a felicidade da ignorância. A questão é que, para ser filósofo há de largar todos esses receios que a ignorância trata de velar, numa afirmação de que o desprendimento de ideais teológicos sejam mais próximo de se buscar a verdade humana absoluta; para Nietzsche, o ateísta é o que se está mais próximo de uma "segunda inocência" de uma pureza que o faz mais suscetível à Filosofia e assim, à busca da verdade.
Escrevendo essa obra, Nietzsche acabou por revelar toda a sua angústia, todo o seu niilismo, essa última dissertação é o retrato de seu fardo, e a de todos os que tomam a vontade de saber como semblante oficial de si mesmo, esse desprendimento com o que é assimilado como correto, como moralmente correto, isso há de ser superado pelos que se atrevem a se afundarem na busca da verdade; o moralmente aceito deve ser questionado, e é isso que o autor faz aqui, uma busca pela verdade por trás do moralmente correto, uma brilhante reflexão sobre a origem da moral.
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Daniel 12/12/2011

genealogia da moral
Em quais condições o homem inventou os juízos de valor expressos nas palavras bem e mal e que valor possuem tais juízos? Estimularam ou barraram o desenvolvimento até hoje? São signos de indigência, de empobrecimento, de degeneração da vida? Estas são as perguntas que norteiam todo livro deste pensador, considerado como um dos mestres das suspeitas, acompanhado por Freud e Marx.
Todos os conceitos são construídos socialmente num processo histórico. Sendo desta forma, Nietzsche procura em quais lugares históricos do pensamento da humanidade a moral e ética nasceram. Analisa a criação de conceitos fundamentais para a eticidade atual dentro do contexto em que foram criados.
A noção de conceitos criados humanamente é já, em si mesma, uma crítica à filosofia platônico-socrática, a qual ensina que os conceitos e idéias não podem pertencer ao mundo sensível, posto que os sentidos são enganosos, e por isso ficam “flutuando” no mundo das idéias...
Nietzsche não está preocupado em descobrir se foi alguma divindade que ordenou ou não quais preceitos morais deverá seguir a humanidade, pois já chegou à conclusão de que os preceitos morais dizem respeito aos homens e mulheres apenas, logo não são transcendentes, porém, imanentes à natureza.
O livro se divide em tratados, a saber:
1. A origem de “bem e mal” e “bom e mau”;
2. Falta, má consciência e fenômenos;
3. O que significam ideais ascéticos?

Não há como negar que Nietzsche seja polêmico, dada a forma como ele escreve seus textos, que sempre estão acompanhados de uma boa “pitada” de crítica apimentada. Entretanto, não se pode desprezar o pensamento de uma pessoa só por contrariar o pensamento de uma maioria, pois nem sempre a maioria fala a verdade. Em verdade, temos grandes exemplos de grandes maiorias cometendo graves equívocos.
Escreve em forma de aforismos, que segundo o próprio Nietzsche, requer uma arte de interpretar, isto é, aforismos são pedras a serem lapidadas com calma. Para compreender bem seus aforismos é preciso ser quase vaca, é preciso ruminar.
No primeiro tratado, o filósofo separa moral em duas espécies: a moral de escravos e a moral de senhores.
Ele entende por nobre aquele em quem há uma afirmação positiva de si-mesmo, aqueles que eram os dominadores, os poderosos, os senhores; nobre é aquele que age positivamente na construção de seu si-mesmo por meio de si-mesmo. Difere-se do ressentido na medida em que para sentir-se feliz e bom precisa partir de si mesmo para tal, não de outrem.
O ressentido, por sua vez, é aquele que para construir sua felicidade, precisa comparar-se a um outro que lhe é diferente, um não-mesmo (um que não seja si-mesmo); este outro a quem se compara lhe é superior. Desta comparação nasce a inversão de valor “bom” e “mau”: “Bom sou eu, que sou inferior ao nobre (aquele que age) e mau é o nobre que, por ser superior a mim, me inferioriza”. Note-se que o ressentido sofre nesta comparação que ele mesmo faz, sente-se retraído, ofende-se. Ao comparar-se culpa o nobre (que lhe é superior) como causador de sua inferioridade. O ressentido, portanto, é aquele que sofre uma ação, e apenas por meio desta ação sofrida é que age, isto é, reage.
Essa moral ressentida é a moral de escravos que cria valores negativos em relação ao outro e ao próprio sujeito ressentido.
O sim que o nobre diz, diz a si-mesmo; o não que o fraco (ressentido) diz, não diz a si-mesmo, mas a um que não é si-mesmo, a um não-mesmo, negativiza o superior e o diferente de si. É exatamente sob este aspecto que surge o niilismo, que nada mais é do que todo este processo do ressentimento em negar, em dizer não à vida, à vontade de potência que é inerente à vida e à natureza.
No segundo tratado, o autor descreve a origem da má consciência, que é exposta como os instintos reprimidos que não se exteriorizaram e então se voltam para dentro, contra o homem mesmo que possui esses instintos; e da noção de dívida, proveniente das relações entre credor e devedor, é que surge a idéia de culpa.
No último tratado, sobre o ideal ascético, o filósofo batalha contra os negadores compulsivos, ou seja, aqueles que negam a vida, a natureza, os princípios básicos de vida.
Para resumir de forma simples, porém, contundente o que significam os ideais ascéticos para este homem, que eu considero, um dos mais ousados filósofos, podemos usar uma frase do próprio livro:
“O ideal ascético tem sua origem no instinto de proteção e de salvação própria a uma vida em degenerescência.”
Há muito o que se aprofundar nesta pequena frase e podemos seguir os mesmos caminhos de Nietzsche para entende-la.
O ideal ascético professa, direta ou indiretamente (mais indiretamente do que diretamente – os leitores de Nietzsche entenderão bem se eu falar em becos, valados e lugares escuros), que a vida não é um fim em si mesmo, porém apenas um meio para se chegar a uma outra vida que estaria no além. Explicando de outra forma, a vida é enxergada como uma ponte, um teste, uma passagem... A vida ascética é vida post-mortem.
Nas palavras de Friedrich:
“Um modo monstruoso de apreciar a vida não é um caso excepcional na história humana; constitui um dos estados, de fato, dos mais gerais e mais duradouros”.
Este ideal, portanto, foi visto pela sociedade como o único ideal possível de ser vivido. Não houve nenhum outro ideal que lhe servisse de oposição (pelo menos os que tentaram não conseguiram).
Nietzsche também critica os cientistas modernos como aqueles que possuem em seu interior a força propulsora do ideal ascético, pois acreditam ainda na existência da verdade, são seus defensores.
A gênese do ideal ascético se encontra justamente no ponto em que o homem sentiu necessidade de dar sentido para o sofrimento, como vemos:
“O homem, o animal mais corajoso e mais acostumado ao sofrimento não diz não ao sofrimento em si; ele quer, ele até o procura, supondo que lhe seja indicado, um sentido de que seja portador, um para além do sofrimento. É o vazio de sentido do sofrimento, não o sofrimento, que constituía a maldição que pesava sobre a humanidade até hoje – e o ideal ascético lhe oferecia um sentido!”
Traduzamos isso: Contra a falta de sentido, contra a falta de certeza, contra a natureza da mudança, presente na vida, nasce o asceticismo, dando um sentido ao “por quê” do sofrimento, retirando do homem o perigo do niilismo. Entretanto, as conseqüências são bem piores do que se imaginava, criou-se um homem ressentido em relação à vida... Poderia parecer melo-dramático, mas podemos usar até a palavra mágoa neste contexto. Esta mágoa, porém, é reativa, pois se trata de estar magoado profundamente com a vida, de tal maneira que a ação do homem agora converge para nega-la, e, tendo reagido assim, construir todo um ideal pós-morte, onde exista uma outra vida, mais digna, mais aceitável e sem... Sofrimento!
Concluindo a resenha, sinto necessidade de acender uma lamparina nesta escuridão e trazer para mim os olhares de todos os que criticam Nietzsche (os que leram comentários sobre ele e não suas obras mesmo). Por meio do perspectivismo proposto pelo autor, devemos levar em consideração todos os pontos de vista... Entretanto, quais seriam os pontos de vista mais aceitáveis? Respondo: Aqueles que não denigrem, nem pretendem destruir a beleza da natureza e da vida no aqui e no agora!
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Giulia 07/04/2011

Meu primeiro livro de Nietzsche, valeu a pena!
Depois de um tempo querendo ler Nietzsche, consegui este livro emprestado e o li.
Trata-se de um livro bem reflexivo, que me fez refletir bastante sobre o "bem e o mal", "bom e malvado", ideais ascéticos e tudo mais que Nietzsche foi colocando. É um daqueles livros que eu pretendo reler um dia, também.
Valeu a pena, Nietzsche não me decepcionou! Foi ainda além do que eu imaginava. Espero aprender ainda mais (e imagino que irei, e muito) nos próximos livros que lerei escritos por ele.
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