spoiler visualizarRonaldo Thomé 22/11/2020
Tudo o Que se Volta Para Dentro
Sem dúvidas, este foi o livro mais difícil deste ano. Nietzsche, originalmente, escreveu este livro como um complemento para Além do Bem e do Mal (do qual já tenho uma resenha aqui). Mas, na minha humilde opinião, tenho para mim que Genealogia da Moral é ainda mais difícil do que ele, sem dúvidas.
Para começar, ele tem um tom filosófico mais sério e uma linguagem (bem) menos poética do que outras obras do autor. Em consequência disso, o texto se torna mais árido, cansativo. Não se espante se você tiver que voltar uma ou duas páginas na sua leitura (isso aconteceu comigo várias vezes...).
Basicamente, o filósofo alemão aqui se utiliza de sua hipótese sobre o surgimento da moral, e desenvolve considerações teóricas sobre ela. Para ele, a moral é uma criação do homem que, por meio da assimilação social, torna-se uma fonte de poder e controle sobre o ser humano. Nietzsche lança proposições e provocações sobre como a moral surgiu, e de que formas precisamos aprender a lidar com isso.
A primeira parte do livro se ocupa em entender os conceitos de "bom", "ruim", "bem" e "mal". Na segunda, ele nos apresenta ao conceito da má consciência, que teria sido algo que o ser humano desenvolveu ao ter de retrair seus impulsos biológicos para viver em sociedade.
É fundamental entender bem que, para o autor, há dois tipos de moral: a dominante, que é identificada com aquela que permite a liberdade do instinto, e a moral escrava, que seria reativa, reacionária - aquela que recebe a ação, muitas vezes sendo vítima de violência e manipulação social.
Entender isso é fundamental para a terceira parte: Nietzsche identifica que a filosofia e a religião expandiram pelo mundo o ideal ascético, fruto da intervenção religiosa e racional (a fim de regular a vida apenas pela razão).
É preciso entender que, ao contrário de Marx e muitos outros, Nietzsche se mantém em terreno mais abstrato. Por exemplo: dizer que há uma moral escrava NÃO quer dizer que ele naturalize a escravidão. Apenas que sempre haverá uma categoria de pessoas que age dessa forma, que é reativa e muitas vezes age pelo ressentimento (um exemplo seria o vitimismo).
Apesar de curto, é um livro tão denso que, sem dúvida, não recomendaria para quem ainda não leu o autor. Mas para quem é da área da filosofia, não há dúvidas que é um clássico que atravessou o tempo, com provocações tão atuais como em seu lançamento.
Indicado para: quem quer entender o que há por baixo do pensamento social. Nem tudo que é bom e que é ruim são o que achamos.
Nota: 10,0 de 10,0 (este é um livro que com certeza precisa ser relido).