Márcia 09/09/2023
Contos que encantam
Dessa vez, o @comfy.bookclub foi para a Nova Zelândia atrás de representação literária e a escolha foi por Katherine Mansfield (1888-1923) e sua coletânea de contos ?A festa ao ar livre e outras histórias?. A autora tinha pretensões de se tornar violoncelista profissional e, para isso, foi para Londres, em 1903, com as irmãs. Porém, acabou mesmo sendo uma escritora, em sua terra natal, aclamada como uma mestra do conto modernista. Morreu com apenas 34 anos, em 1923, seis anos depois de contrair tuberculose.
Seus contos fascinam pela análise psicológica dos personagens que cria, tanto é que ela é tida como a pioneira da introspecção psicológica. Neles, Mansfield retrata acontecimentos cotidianos de maneira meticulosa, capta instantes que deixamos escapar, mas ela não, lançando um olhar bem peculiar para a vida, como se estivesse usando óculos de cristal. O centro de suas narrativas são sempre personagens femininos que, ao passar por uma experiência significante, sofre uma grande transformação. Com elas, percebemos as dissonâncias sociais presentes na sociedade da época.
Em ?A festa ao ar livre?, conto que dá nome à coletânea, uma jovem rica se sente desafortunada por um vizinho pobre morrer bem no dia em que ela daria uma festa. Ao se ver obrigada a pronunciar alguma palavra à família do defunto, a menina emudece e a única coisa que consegue dizer é ?perdoe o meu chapéu?. Me chamou a atenção o conto ?A empregada de madame?, que retrata a abnegação de uma empregada que se recusa a ter uma vida própria para não abdicar da patroa. A personagem chega a conclusão de que que pensar é nocivo, porque, se pensasse, enxergaria a vida miserável que escolheu. Mas, o que mais me impressionou foi que Mansfield escreve como se pintasse, uma vez que cada minúcia é detalhada, cada instante é captado e nos sentimos como se estivéssemos passeando por uma exposição, apreciando as cenas e visualizando os personagens.
Vale ressaltar que as queridíssimas Clarice Lispector e Virginia Woolf admiravam a obra de Mansfield. Ela era amiga de Virginia Woolf, cujo marido publicou obras dela. Já a nossa Clarice, ao lê-la, teria dito que Mansfield era ela mesma (mas escrevendo em inglês).