Craotchky 30/04/2017Verissimo, remorso, redenção"Aquela manhã Eugênio saiu para a rua em lua-de-mel com o mundo."
Este é o quinto livro do autor que leio e o quarto resenhado aqui. Como eu já disse antes, as histórias de Erico são simples, sem grandes enredos, sem grandes acontecimentos, sem reviravoltas surpreendentes, não têm nada de extraordinárias, é apenas a simples narração da vida de suas personagens. Porém agora percebo as coisas de forma diferente, melhor; a vida em si tem algo de extraordinária, algo de inexplicável, e as histórias também.
Olhai os lírios do campo me lembrou Um dia. O grande dilema aqui, assim como em Um dia, é o remorso por um passado que já não pode ser mudado. Assim como faz em Um lugar ao sol, Erico é inapelável na sua divagação e crítica sobre a condição humana num mundo impermanente, imperfeito, impiedoso e efêmero. O livro é recheado de passagens marcantes, diálogos ricos e conteúdo vasto para a reflexão.
Erico, é meu autor nacional favorito, cada vez mais favorito. Admiro-o e, não posso evitar, invejo-o. Como é possível alguém escrever, explorar, desnudar com tanta destreza, perícia, domínio, algo tão intangível, abstrato até, como é a existência humana? Como é que se atinge essa sabedoria? Será a maturidade, a vivência, as experiências de vida que o tempo nos traz? Ou será uma espécie de aptidão imanente ao homem?
Valorizo minha sensibilidade que, por vezes, me transforma num alvo fácil para o mundo. Essas minhas paixões, minhas obsessões, meus exageros que permitem que eu me encante por um assunto que desperta meu interesse. Essa coisa que permitiu que eu me jogasse no amor por uma garota e por isso cometesse erros que ainda cobram seu preço com juros; isso que me constitui, que me permite ser intenso nas coisas, que me permitiu chorar lendo este livro; essa coisa sem nome que me permite escrever isso agora.
Ou será tudo isso charlatanismo de pessoas que disseminam essas invencionices e um punhado de palavras bonitas? Ou, como no próprio livro é sugerido, tudo isso é uma construção de "românticos" covardes que temem encarar a vida como ela é?, o quase tal indivíduo que Nietzsche chamará de niilista: aquele que nega a vida real e prefere utopias, ideias de mundos melhores porém inexistentes.
Em pensar que gradativamente as pessoas perdem essa parte importante, essa especificidade em extinção num mundo rotineiro e robótico que é este. E quando estas se deparam com aquelas, sensíveis, intensas, exageradas, ainda estranham! Você! Cuidado para não ficar insensível, perder a capacidade de se encantar com as coisas, perder a capacidade de ter uma felicidade inútil, perder o essencial. Cuidado.
"Talvez daqui a muitos anos nós nos lembremos desta hora com saudade."