Otávio - @vendavaldelivros 08/08/2022
“’Não busquem explicações, porque elas não existem. É o silêncio dos túmulos, nada mais. Uma sepultura comum silencia sob a terra. Já a pirâmide silencia sobre ela.’”
Nosso entendimento sobre a passagem do tempo é, em geral, bem confuso. Saber que a pirâmide do Faraó Quéops foi construída há mais de 4500 anos nem sempre faz com que tenhamos consciência de quanto tempo realmente representa esse número e, menos ainda, nos ajuda a entender que a humanidade já tinha seus tiranos desde seus princípios.
Escrito em 1988, mas somente publicado integralmente em 1992, “A Pirâmide” do autor albanês Ismail Kadaré é um romance que narra a construção da pirâmide de Quéops, faraó do Egito, por volta de 2500 A.C. Pirâmide essa que segue em pé até os dias de hoje, sendo considerada a única Maravilha do Mundo Antigo a permanecer praticamente intacta e o grande símbolo das Pirâmides de Gizé junto com as de seus sucessores Quéfren e Miquerinos.
Da decisão em construir a pirâmide, passando pelas milhares de mortes de trabalhadores, as intrigas políticas, as perseguições e torturas até a finalização da obra, Kadaré faz um trabalho genial traçando paralelos não-falados com a realidade da Albânia a época e, também, com outros regimes totalitários nos tempos modernos. Você lê, reconhece os padrões e ainda que a obra seja uma ficção, tende a acreditar que foi de fato daquela forma que tudo aconteceu.
Além disso, Kadaré apresenta a pirâmide como a representação material da morte do faraó. A partir do momento que ela está completa o faraó pode morrer e isso traz uma série de perturbações a Quéops por ter erigido, ele mesmo, sua sepultura. É a morte do faraó e a morte dos trabalhadores. É a morte sendo erguida sobre a terra, mostrando seu poder e sua eternidade. É a eternidade em si mostrando o quão pequenos somos todos nós, faraós ou escravos.
Belo, filosófico e profundo, “A Pirâmide” é um livro que impacta mesmo com suas poucas páginas. Trabalho de um autor que não conhecia, mas que em breve espero ler muito mais.