filipetv 21/03/2022
"O Amor nos Tempos do Cólera" é, sem dúvida, um dos títulos mais conhecidos de Gabriel García Márquez, ao ponto de ter sido adaptado para o cinema em 2007 pelo britânico Mike Newell com um elenco estelar e internacional. (E nesse caso ficou quase impossível não cair no clichê de que o livro é melhor do que o filme.)
Mas, voltando ao que interessa, há duas circunstâncias que engrandecem ainda mais o romance. Em primeiro lugar, foi o primeiro livro publicado pelo autor após receber o Nobel em 1982. Em segundo lugar, essa obra seguiu três outras grandiosas: "Cem Anos de Solidão", "O Outono do Patriarca" e "Crônica de uma Morte Anunciada". Ambos os fatores poderiam ter exercido significativa pressão, porém fomos presenteados com um livro magnífico e bastante diferente dos anteriores, tanto temática quanto tecnicamente.
Embora o amor seja recorrente na obra do colombiano, em "O Amor nos Tempos do Cólera", percorremos todas as fases desse sentimento durante a vida das pessoas acometidas por ele. Situado na Cartegena de Índias do fim do século 19 e das primeiras décadas do século 20, o romance conta a história de Florentino Ariza e Fermina Daza, que é condenada pelo pai da jovem, que a obriga a partir em uma viagem pelo interior da Colômbia no intuito de que a distância separe o casal. Até esse momento, os fatos são idênticos aos que ocorreram nos primeiros anos do relacionamento entre os pais do autor. No entanto, as semelhanças entres as duas histórias param por aí, pois Fermina se casa com o renomado médico Juvenal Urbino, oriundo de uma família tradicional da cidade. Cinquenta anos depois, Florentino aproveita a morte do doutor para se reaproximar de Fermina, quando ambos já são idosos. Qualquer informação além dessas já seria spoiler.
Quanto à técnica, essa talvez seja uma das obras mais acessíveis de García Márquez, destoando do fluxo de consciência de "O Outono do Patriarca" e do movimento elíptico da narrativa de "Crônica de uma Morte Anunciada", porém claramente com a assinatura estilística do autor e o espaço colombiano inconfundível e descrito às minúcias.
Para concluir, uma curiosidade: esse foi o primeiro livro que García Márquez escreveu utilizando o computador. Ele gravou os arquivos em diferentes disquetes e os levou pendurados no pescoço aos EUA, onde imprimiu algumas cópias, que seriam distribuídas a amigos e à sua agente.