Alana N. 31/12/2022
"Se as crianças exibissem marcas visíveis de corrupção ou violência, a sra. Grove sem dúvida se tornaria, ao levantar as causas, tão abatida quanto elas; tal como se apresentava a situação, porém, eu sentia que, quando as contemplava, com os grandes braço
“A outra volta do parafuso” é um livro que, inegavelmente, tem seu valor, mas isso não quer dizer que a gente tem que gostar dele.
Pois bem, é notório que o autor quis deixar tudo em aberto. Tanto o final, quanto qualquer possível “solução” do livro, está COMPLETAMENTE a cargo do leitor, o que abre um leque para infinitas interpretações. (E nenhuma delas vai ser suficiente para explicar o total do livro)
Uma coisa que me ajudou a formar uma visão mais concreta (ou tão concreta quanto dá para ser), foi ler o Posfácio presente na obra e pesquisar alguns vídeos a respeito, mas, mesmo assim, ainda tenho mais questionamentos a respeito, do que conclusões. (Se essa era a ideia do autor, ele está de parabéns.)
Enfim, por ser um livro com tão poucas páginas, o mínimo que esperava era dinamismo no texto, mas nem isso foi entregue. Acredito que seja uma obra que vale a pena ser lida, afinal é um clássico do terror, mas o leitor precisa entrar ciente de que ele vai sair da leitura da mesma forma que entrou. (Talvez um pouco mais estressado, mas só)
A adaptação feita pela Netflix é muito boa e melhora, E MUITO, esse livro. Mas também, basicamente, ela só pega o centro dos acontecimentos presentes aqui, então é quase que uma obra completamente a parte.
Como não existem respostas, acho bacana trazer alguns questionamentos (e apontamentos/conclusões) que permearam minha mente após concluir a leitura. Quem sabe isso possa ajudar alguém ou abrir uma linha de discussão interessante, não é mesmo?
É legal a explicação da Tatiana Feltrin sobre o título, que tem relação na verdade ao conceito de “ponto de virada”.
A narradora não é confiável.
Ela não tem nome.
Pode ser que tudo isso seja obra da cabeça dela para chamar a atenção do tio das crianças.
Mas como ela sabia a aparência do Peter e da Jessel se eles já estavam mortos quando ela chegou?
Aparentemente só ela via os fantasmas. Ela até acreditava que os meninos viam também, mas eles afirmaram categoricamente que não.
Pensando na época de publicação da obra, muito não era dito abertamente por ser tabu. Então é de fácil interpretação (até porque é dito) que o comportamento do Peter e da srta. Jessel era impróprio e que eles eram explícitos, sexualmente falando. Mas a empregada também diz que o Peter era impertinente com todos, principalmente com o Miles, e que passava muito tempo com o menino. Será que isso não quer dizer que ele abusava dele?
No final, quando a governanta finalmente questiona o motivo do menino ter sido expulso do colégio, ele diz que foi porque ele disse coisas inapropriadas para os meninos de quem ele gostava e que isso acabou chegando aos professores. Será que isso não foi alguma indireta a uma possível homossexualidade ou uma forma dele externar os abusos sofridos pelo Peter? Se o Peter dissesse a ele que fazia aquilo com ele por gostar dele, faz sentido que, sendo criança, ele achasse que aquilo era uma coisa normal de se fazer com quem ele gostasse, certo?
Será que tudo não passou de uma moça fervorosamente religiosa se deparando com crianças que foram abusadas (logo exibiam comportamentos divergentes) e achou que isso só podia ser “obra do demônio”?
No final o Miles morreu de susto por causa que realmente viu o Peter ou foi a governanta quem o assustou?
Será que ela, vendo que seria demitida, já que a menina a odiava, tentou convencer a si, e ao menino, que realmente haviam fantasmas e isso o matou?
Bem, fica claro que ela segue com a vida e trabalha para outra família, já que ela entregou esse manuscrito ao irmão de uma outra garota que ela cuida.
É engraçado como todo o núcleo dos contadores de história é completamente esquecido no churrasco.
Enfim, é um final ambíguo e abrupto. Só nos resta criar teorias e conviver com elas.