Luiz Gustavo 31/10/2020 “A volta do parafuso” é uma novela clássica sobre fantasmas, publicada em 1898. No início da narrativa, um grupo de pessoas está reunido ao redor de uma lareira conversando sobre o sobrenatural. Um dos participantes, Douglas, diz ter acesso a uma história realmente assustadora, escrita pela pessoa que vivenciou tudo, uma mulher que ele conheceu. Após atiçar a curiosidade dos demais, Douglas lê o manuscrito feito, há muito tempo, pela jovem mulher. Ela foi contratada, pela primeira vez, para ser a governanta de Bly, uma casa de campo, e cuidar de duas crianças, sobrinhas de seu patrão. Toda a narrativa é contada em primeira pessoa por essa jovem mulher inexperiente e impressionável, e vemos suas observações e reflexões sobre tudo que acontece em Bly. A narração em primeira pessoa torna a narradora suspeita, há muita ambiguidade em todo o texto, que possui uma sintaxe rebuscada, e é isso, afinal, que torna a história macabra. O leitor não sabe o quanto pode confiar na narradora nem ter certeza do sentido do que ela quis dizer com suas palavras. Esses elementos contribuem para a ampliação de possibilidades de leitura, que permitem debates sobre amadurecimento, educação, saúde mental, sexualidade, entre outros. Com isso, a crítica literária sobre a narrativa acaba sendo mais interessante do que o próprio texto. A escrita rebuscada torna a leitura cansativa com o passar dos capítulos, e confesso gostar mais das versões audiovisuais do que da leitura da novela. Indico, para quem se interessar, duas adaptações da obra: o filme "The Innocents" (1961) e a série "The Haunting of Bly Manor" (2020). O filme adapta com muita fidelidade a narrativa de Henry James, enquanto a série de Mike Flanagan adapta muito mais livremente a história (além de fazer algumas referências ao filme); ambos são excelentes.