spoiler visualizarlelereis 24/06/2024
Perturbador
Dei três estrelas e meia para A outra volta do parafuso não por falta de genialidade do autor ao escrever a obra ? há! isso é o que não faltou para ele, de fato. Mas sim porque não é o meu estilo de gênero, descobri ao lê-lo. Ele me deixou muito inquieta e odiei o fato de não saber se podia confiar na narradora, nas crianças, na sra. Grose, na existência dos fantasmas? Ao mesmo tempo, essa ambiguidade que me deixou arrepiada e aterrorizada durante toda a leitura ? o que é, dentro do gênero, um ponto muito positivo. Ela que traz à tona o gênio do autor, que, obviamente, fez isso de propósito. Você, leitor, está no escuro na trama inteira. E você permanece no breu depois de terminar.
Achei a leitura um pouco complicada, você tem que ler o mesmo parágrafo algumas vezes devido aos diversos devaneios da narradora. Tem momentos que os diálogos parecem não fazer sentido ? fiquei feliz ao saber que era porque, realmente, eles não faziam. Digo, eles eram inconclusos demais. Não se concluía, de modo algum, qualquer assunto, te deixando às margens do conhecimento do que TALVEZ se deu.
Durante a leitura inteira eu não sabia se duvidava ou se acreditava na governanta. As crianças pareciam muito estranhas também (contudo, vale lembrar que nós só as conhecemos através da ótica enviesada da narradora), cheguei até a duvidar da sra. Grose que, no fim do livro, aparentava ser a mais sensata dos personagens, em toda sua simplicidade.
E o motivo da expulsão de Miles da escola? Aquilo me deixou perturbada mesmo. Algumas pessoas interpretaram de forma mais branda, já eu acho que foi da pior maneira possível mesmo. Entretanto, de novo, você fica na incerteza de tudo.
No geral, eu, Letícia, acredito que os fantasmas eram reais. Se as crianças sabiam da existência deles? Fica uma incógnita, mas acho que o Miles sim, se as últimas duas páginas servem de apoio. Acho que a governanta se deixou levar, de tal modo, na missão de provar que os fantasmas existiam, na missão de ?proteger? as crianças (pondo-se em um pedestal e voluntariando-se ao martírio ? mulher de vaidade e soberba exorbitantes! pondo todos em risco nesse teatro de virtude heroica! ela jurava que estava ajudando alguém com aquela insanidade) que resultou naquele final infeliz.
A loucura da governanta recaiu como um tormento sobre as crianças. Essa foi minha visão da história ? existem várias outras interpretações, mas eu enxergo assim.
O que ela deveria ter feito? Primeira aparição, não precisava nem que a srta. Jessel tivesse aparecido ainda: vazar daquela merda de mansão, pelo amor de Deus. Contar para o tio das crianças. Mas nãooo, o orgulho dela não permitiu. Entrar em contato com o tio delas era equivalente ao fim do mundo. Mulher DOIDA (agora estou me exaltando kkkkkkk vou finalizar a resenha).
Gostei do livro. Não amei. Terror psicológico me aterroriza demais. Não sei se vou ler outros livros da mesma estirpe. Henry James é genial. A ambiguidade, que faz o livro ser genial, me incomodou muito. Ao mesmo tempo que gostei dessa característica, não gostei. Não me apeguei à escrita também, prefiro outros autores. É um clássico da literatura mundial, leiam.