O homem duplicado

O homem duplicado José Saramago




Resenhas - O Homem Duplicado


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Márcia Regina 04/02/2010

Gosto muito do Saramago e gosto de duplos. O livro é bom, mas em alguns momentos achei cansativo. Demorei para ler e tive dificuldades para me concentrar. Acho que não era o momento certo para a leitura. Vou guardar para rever futuramente. Porque Saramago merece leituras e releituras, é sempre presença na minha estante de favoritos.

Aliás, não consigo entender porque temos a mania de pensar que se existirem duplos, eles tentarão tomar o lugar um do outro, que somos incapazes de conviver com a ideia de não sermos únicos, singulares, especiais. Gosto de duplos pelo fato do duplo em si, ou seja: eles me comprovam que não existe originalidade no mundo, que somos um monte de cópias malfeitas. Ou, quando estou de bom humor e otimista, me comprovam que nunca estamos sozinhos, que se eu penso de um jeito, pelo menos uma pessoa vai existir no mundo que pensará da mesma forma.

Ando enjoada de originalidade (autores e gênios do mundo, perdoem, a Márcia não sabe o que diz)


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Carla D 28/06/2010

Este sim, dos livros que li, é o que mais ilustra o estilo de Saramago. Não apenas usando os parágrafos que duram quase um capítulo inteiro, mas também abusando da falta de pontuação, paradoxalmente, "O Homem Duplicado" é a prova que José Saramago sabia usar as palavras de maneira sábia. Olhando as frases enormes, algumas tomando quase uma página inteira, pode parecer que a leitura deste livro é extremamente cansativa. Mas eu afirmo que não é! Enquando deslisamos pela narrativa, o que lemos é, muitas vezes, o diálogo de um homem com sua própria consiência. É aí que o estilo de escrita de Saramago se torna evidente. Sem pontuações para amarrarem o texto, as palavras fluem como fluiriam em nossa mente. Perguntas, respostas e réplicas se misturam, e por incrível que pareça, uma história de mistério e ação começa a se formar, com um final surpreendente.
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Gláucia 29/03/2010

Original
Mais um inusitado romance de Saramago que consegue ser original em cada livro. Duas pessoas exatamente iguais, em cada detalhe, se confrontam. Duas vidas diferentes e porque não inverter os papéis? O final mostra que talvez não seja tão boa ideia, ao menos não para ambos...
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Aline T.K.M. | @aline_tkm 03/05/2012

Surpreendente e cheio de astúcia
Com uma narrativa impecável que utiliza do suspense, chegando a emparelhar-se com um thriller, Saramago nos traz o homem contemporâneo e toda a rede intrincada de problemas de ordem psicológica e social que o acompanham.

O texto retrata um mundo degradado que abriga homens degradados, tal como vemos se prestarmos atenção a nossa volta. Aparências que não refletem a verdade, relacionamentos vazios, comunicação escassa, egoísmo, a mentira utilizada como abrigo. Tertuliano Máximo Afonso e Daniel Santa-Clara, idênticos na aparência (em cada sinal e cicatriz) e tão dissonantes no caráter, envolvem-se em um verdadeiro jogo a fim de provar um ao outro quem é “o duplicado” – papel recusado por ambos – e quem é o primeiro, o “original”. E, em tal jogo, o leitor se questionará sem pausa: será que existe mesmo um vencedor?

O título e o tema podem falsamente sugerir ao leitor alguma pitada de ficção científica. No entanto, não esperem encontrar algo do gênero na obra, que é totalmente centrada nas turbulências do homem e apresenta no tema um aspecto mais introspectivo, voltado à reflexão.

LEIA ESTA RESENHA COMPLETA AQUI:
http://escrevendoloucamente.blogspot.com/2012/04/o-homem-duplicado-jose-saramago.html
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Daniel Lunas 20/05/2013

Uma das maiores contribuições para a literatura contemporânea!
Saramago foi sem dúvida um grande gênio da literatura.
Está obra em especial, foi uma das mais ricas de sua carreira, pois abordou um dos temas mais recorrentes da literatura fantástica, o Duplo!
Entenda melhor assistindo minha vídeo resenha completa.
www.youtube.com/watch?v=0ceXTqrLAC0

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Paulinho 31/05/2013

“Ser, é ser percebido. E assim, para conhecer a si mesmo só é possível através dos olhos do outro. A natureza de nossas vidas imortais, está nas consequências de nossas palavras e ações, que vão, e estão se esforçando à todo instante.” Frase Cloud Atlas
O Homem Duplicado escrito por um dos meus autores favoritos, José Saramago, é uma viagem sobre a identidade e a auto-percepção. Não a toa começo com a frase supracitada. O professor de História, Tertuliano Máximo Afonso, vive só. E possui uma rotina inalterada por anos, mas após assisti a um filme (Quem Porfia Mata Caça) e descobrir que um dos atores secundários é igual a ele, ele começa uma jornada de autoconhecimento e identidade.

O Homem Duplicado é seu espelho, leva-o a pensar como poderia ter sido sua vida, há aqui o medo e a curiosidade. O romance possui 316 páginas e foi publicado em 2002. A foto de capa sugere a duplicação do DNA.

Usando esse enredo, Saramago aborda temas interessantes e importantes tais como cinema, relacionamentos, identidade, sociedade e outros, vejamos alguns trechos:

Sobre os efeitos especiais do cinema.

“Tal como vejo e entendo, os tais efeitos especiais são o pior inimigo da imaginação, essa manha misteriosa, enigmática, que tanto trabalho deu ao seres humanos inventar, Meu caro, você exagera, Não exagero, quem exagera são o que querem convencer-me de que em menos de um segundo, com um estalido de dedos, se põe uma nave espacial a cem mil milhões de quilómetros de distância, Reconheça que para criar esses efeitos que você desdenha tanto, também se necessita imaginação, Sim, mas é a deles, não é a minha, Sempre terá a faculdade de usar a sua começando do ponto aonde a deles tinha chegado, Ora, ora, duzentos mil milhões de quilómetros em lugar de cem, Não esqueça que o que chamamos hoje realidade foi imaginação ontem, olhe o Júlio Verne, Sim, mas a realidade de agora é para ir a Marte, por exemplo, e Marte em termos astronómicos até se pode dizer que está ali ao virar da esquina, são necessários nada menos que nove meses, depois haverá que ficar lá à espera mais seis meses até que o planeta esteja de novo no ponto óptimo para se poder regressar, e finalmente fazer outra viagem de nove meses para chegar à Terra, total, dois anos de suprema chatice, um filme sobre uma ida a Marte em que a verdade dos factos fosse respeitada, seria a mais enfadonha estopada que alguma vez se viu.”

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 1º Intervalo da página 09 a 25. Página 13-14.

Questionamentos

“Serei mesmo um erro, perguntou-se, e, supondo que efectivamente o sou, que significado, que consequências para um ser humano terá saber-se errado. Correu-lhe pela espinha uma rápida sensação de medo e pensou que há coisas que é preferível deixá-las como estão e ser como são, por que caso contrário há o perigo de que os outros percebam, e, o que seria pior, que percebamos também nós pelos olhos deles, esse oculto desvio que nos torceu a todos ao nascer e que espera, mordendo as unhas de impaciência, o dia em que possa mostrar-se e anunciar-se, Aqui estou.”

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 2º Intervalo da página 27 a 42. Página 28.

A Vida

“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros, e que, para a maioria, é só um dia mais.”

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 2º Intervalo da página 27 a 42. Página 32.

"Sabendo que a única coisa que dura toda a vida é a vida, o resto é sempre precário, instável, fugidio, a mim o tempo já me ensinou essa grande verdade."

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 4º Intervalo da página 61 a 75. Página 68.

Culpabilidade

“Às vezes pergunto-me se a primeira culpa do desastre a que este planeta chegou não terá sido nossa, disse, Nossa, de quem, minha, sua, perguntou Tertuliano Máximo Afonso, [...] Imagine um cesto de laranjas, disse o outro, imagine que uma delas, lá no fundo, começa a apodrecer, imagine que, uma após outra, vão todas apodrecendo, quem é que poderá, nessa altura, pergunto eu, dizer onde a podridão principiou, Essas laranjas a que esta a referir-se, são países, ou são pessoas, quis saber Tertuliano Máximo Afonso, Dentro de um país, são as pessoas, no mundo são os países, e como não há países sem pessoas, por elas é que o apodrecimento começa, inevitavelmente, E por que teríamos tido de ser nós, eu, você, os culpados, alguém foi, [...].”

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 2º Intervalo da página 27 a 42. Página 39.

"Erramos não por que fosse esse o nosso propósito, mas por que o erro se confundiu com um traço de união, com uma cumplicidade confortável, com a piscadela de olho de quem cria saber do que se tratava só porque outros o afirmavam."

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 5º Intervalo da página 77 a 91. Página 84.

“O melhor caminho para uma desculpabilização universal é chegar à conclusão de que, por que toda a gente tem culpas, ninguém é culpado.”

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 2º Intervalo da página 27 a 42. Página 39-40.

A Linguagem

“Aquilo a que certa literatura preguiçosa chamou durante muito tempo silêncio eloqüente não existe, os silêncios eloqüentes são apenas palavras que ficaram atravessadas na garganta, palavras engasgadas que não puderam escapar ao aperto da glote.”

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 4º Intervalo da página 61 a 75. Página 68.


Não posso escrever muito sobre este livro, pois ele é ao mesmo tempo filosofia e suspense o final é impensável. Li em frenesi, apaixonado, angustiado e em êxtase. Tornou-se um dos meus livros favoritos de José Saramago.
O que você faria se encontrasse alguém exatamente igual a você?

"Olharam-se em silêncio, conscientes da total inutilidades de qualquer palavra que proferissem, presas de um sentimento confuso de humilhação e perda que arredava o assombro que seria a manifestação natural, como se a chocante conformidade de um tivesse roubado alguma coisa à identidade do outro."

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 13º Intervalo da página 213 a 224. Página 217.

Sentiria raiva? Medo?

"Rancor, Sim, rancor, você disse ainda não há muitos minutos que se tivesse uma arma me mataria, era a sua maneira de declarar que um de nós está a mais neste mundo, e eu estou inteiramente de acordo consigo, um de nós está a mais neste mundo e é pena que não se possa dizer isto com maiúsculas, a questão já estaria resolvida se a pistola que levei comigo quando nos encontrámos estivesse carregada e eu tivesse a coragem de dispará-la, mas já se sabe, somos gente de bem, temos medo da prisão, e portanto, como não sou capaz de o matar a si, mato-o de outra maneira, [...]."

O Homem Duplicado - José Saramago - 316 páginas - Companhia das Letras. 17º Intervalo da página 271 a 287. Página 278.

Saramago sempre trabalha com "SE" e se um homem encontrasse seu duplicado? A resposta? Ou as possíveis respostas, estão em O Homem Duplicado de José Saramago. Boa leitura, espero que você nunca encontre um duplo.
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Danielle 09/06/2014

Brilhante, genial
Resenha – José Saramago – O homem duplicado

Minha segunda experiência com Saramago, a primeira foi com Ensaio sobre a cegueira, que gostei muito. Apesar do jeito peculiar de escrever do autor e a leitura ser cansativa, não consigui abandona-lá. Foi muito difícil para mim que tenho TOC de ter que terminar o capítulo para poder parar a leitura, sendo os livros de Saramago sem capítulos, indo direto e com parágrafos longuíssimos.

Na trama temos o protagonista Tertuliano Máximo Afonso, um professor de história, um homem entediado com sua vida e recém saído de um relacionamento que não tava dando certo.

Tertuliano ao ver um filme indicado por um colega de trabalho se depara com um figurante idêntico a ele, deixando-o muito intrigado, então ele arruma outros filmes da mesma produtora para ver se consegue descobrir o nome do autor.Depois de muito trabalho Tertuliano descobre que o nome do ator é Daniel Santa-Clara e começa a busca frenética para localizá-lo.

Quem já leu Saramago sabe que ele gosta de falar sobre o comportamento humano, então fica a dica para filosofar no final do livro, pois com certeza o leitor se pegará pensando no final, se entendeu a mensagem. É aquele tipo de final não esclarecido nos mínimos detalhes, o autor dá dicas durante a trama onde o leitor deve prestar bastante atenção ao detalhes e ao sentido figurativo.

Eu confesso que fiquei pensando muito naquele final e busquei também a opinião de outros leitores para então chegar a uma conclusão da mensagem enviada pelo autor. Eu particularmente achei sensacional e com certeza irei ler mais livros desse brilhante autor.

Lembrando que filme estréia dia 19 de junho e com certeza estarei lá para prestigiar tão grandiosa obra.

Alguns quotes:

"Se dormes na mesma cama com uma mulher que te ama e não te abres com ela, pergunto-te que estás a fazer ali."

"A história não seria a vida, apenas um dos possíveis retratos dela, parecidos, sim, mas nunca iguais.”

"Não é raro que o senso comum se equivoque nas seqüências, para o mal depois de ter inventado a roda, para o pior depois de ter inventado a bomba atômica."

Recomendo a leitura para quem gosta de filosofia junto a uma boa trama. Não recomendo para quem gosta de livros de fácil entendimento e escrita.


site: www.facebook.com/minhasresenhasdp
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ananda17 05/08/2014

Ótimo,mas um poco lento.
Demorou um pouco para prender a minha atenção,levei mais tempo para lê-lo do que levaria normalmente. Depois de ler o ensaio sobre a cegueira esperava algo diferente,não sei bem como explicar.Mas acima disso,o enrendo é ótimo,o desfecho compensa a falta de emoção inicial.Encontrei nele aquilo que esperava de um livro desse grande autor,questionamentos ontológicos,desenrolar e desfecho surpreendentes para uma temática que parecia não ter muito o que inovar.

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Mariele 18/10/2015

E se eu não fosse quem sou?
Eu me envolvi tanto com o livro que cheguei a ter insônia algumas noites me colocando no lugar do protagonista. É fantástica a reflexão que o autor nos provoca: e se nossas escolhas tivessem sido diferentes? e se houvesse um outro eu mais confiante? mais bem sucedido? com mais amigos? uma visão de passado e futuro, mundo das escolhas e das possibilidades.
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LetIcia 16/11/2015

vá até o fim!
O começo do livro foi bem interessante. Porém, após uma certa parte do livro, dei uma desanimada. Deixei o livro de lado e nestes dias resolvi dar uma nova chance. E foi uma grande mudança de ritmo do meio para o fim que te prende a leitura! incrível!
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@fabio_entre.livros 23/02/2016

A essência dissolvida, a identidade duplicada

Encerrando, por ora, o meu itinerário de leituras saramaguianas (iniciado por “O Evangelho segundo Jesus Cristo” e seguido por “Caim”, “Ensaio sobre a cegueira” e “As intermitências da morte”), “O homem duplicado” é um livro que me surpreendeu de muitas maneiras. Como nas demais obras de Saramago, há, neste romance, a presença de elementos característicos do autor que me agradaram desde a primeira leitura: a metalinguagem, a digressão, o humor – por vezes cínico e direto, outras vezes sutil, esperando para ser descoberto nas entrelinhas – e, não menos importante, uma questão complexa e totalmente condizente com o mundo contemporâneo, uma vez que os livros desse autor (pelo menos os que li) possuem um apelo universal e atemporal.
Particularmente, em “O homem duplicado” temos uma intrincada e vertiginosa trama na qual a identidade buscada/perdida é o ponto alto dos questionamentos de Saramago. Assim, a fantástica história do professor Tertuliano Máximo Afonso, que por acaso fica sabendo de um ator que é idêntico a si, isto é, um duplicado, desencadeando uma obsessão no professor por conhecê-lo, é um convite a refletirmos acerca dos nossos próprios limites intelectuais no mundo globalizado em que vivemos hoje; um mundo que, a despeito de suas inovações constantes, vai minando nossa identidade, diluindo-a no vórtice do cotidiano. À medida que Tertuliano busca saber quem é Daniel Santa-Clara (o seu sósia), busca também saber quem é a si mesmo, saber quem é o “original” e quem é o duplicado; em outras palavras, nessa jornada de investigação da identidade do outro, Tertuliano entrelaça a sua própria vida à desse outro, numa sequência de pequenos episódios aparentemente banais e corriqueiros, mas que, na verdade, evidenciam a complexidade e os paradoxos da sua existência, a partir de agora confrontada pela existência do duplicado.
Com o estilo vigoroso que lhe é próprio, mas sem abrir mão da intimidade com o leitor, Saramago construiu em “O homem duplicado” uma obra sinuosa, crítica e dramática, inclusive com um traço que, a meu ver, permite uma comparação com “Ensaio sobre a cegueira”: enquanto em um a falta de visão (em todos os sentidos) acarreta uma degradação contínua no ser humano, sobretudo do ponto de vista da coletividade, no outro é a perda da identidade, da essência, de si mesmo, que conduz o homem (como espécie, não como gênero) a consequências inquietantes e não raro desastrosas.
Daniel 24/02/2016minha estante
Depois de ter degustado o forte sabor Saramaguiano e apreciado o contraste entre a razão e a insanidade, a ordem e o caos, tenho certeza que você nunca mais será o mesmo. Farei planos para vivenciar essa incrível jornada.


@fabio_entre.livros 24/02/2016minha estante
Disso eu já tinha certeza desde que terminei de ler o primeiro livro dele, mas a impressão de nunca mais ser o mesmo apenas se intensificou! E sim, Daniel, procure reunir a coragem, o tempo e a determinação para desbravar o universo de Saramago. Também já estou fazendo planos de fazer uma nova maratona com ele, com outros títulos, mas provavelmente não será mais neste ano.




Peterson.Silva 11/05/2016

Delícia
Esse livro é maravilhoso. Alguns comentários:

É preciso ter em mente uma dupla escolha que foi feita em termos de marketing, na minha opinião: uma delas foi boa, outra foi “neutra”. A neutra é que a história não tem nada a ver com a perda de identidade no mundo moderno ou coisa parecida – pelo menos nenhum elemento me fez pensar nesse paralelo simbólico, e olha que ao longo do texto fiquei esperando que algum aparecesse. A boa é que não se disse o que a história realmente quase é, isto é, uma tragédia. Está certo que ela não termina tão mal quanto uma, mas o jeito como o autor constrói termos como o destino e o senso comum é fenomenal – na verdade toda a ideia do senso comum como um personagem não só é uma infusão de um humor ranzinza incrível como, ao meu ver, torna essa história algo muito semelhante a uma tragédia: a tragédia se compõe justamente das decisões ruins do herói que o levam a essa ruína. E, como a história faz pensar (e indicar), essas decisões em grande parte são justamente um contrariar o senso comum.
O final é excelente. Todas as coisas que acontecem nele.
A meta-linguagem é muito, muito, muito bem executada.
Eu lembrava que ler Saramago era cansativo, mas não tenho muita noção se esse é pior ou melhor nesse sentido que ‘Cegueira’ ou Intermitências da Morte. Talvez os parágrafos pareçam ainda mais avassaladores porque se trata de uma versão de bolso a minha, mas ainda acho o estilo dele fantástico – ainda que entenda quem possa se afastar dele.
Inclusive, se há uma coisa negativa que posso ter percebido, é como o estilo de diálogo dele favorece que cada diálogo se torne quase um ensaio para uma peça de teatro. Não tem muita fluidez, movimento – sim, na fala sim, e quantas conversas fantásticas ele nos dá; mas parece que elas são entregues enquanto os personagens ficam parados, com caras de tacho, as bocas servindo de alto-falantes passivos. Fica uma coisa meio estática, mas acho que teria dado muito errado se a linguagem, que nesse caso vira a estrela do show, não fosse tão bem talhada e trabalhada. Nenhuma analogia parece forçada, nenhuma poesia, brega; o narrador, nunca identificado, tem uma voz bacana e a história é cheia de insights. Ah, e os diálogos, esses que se fez com coisas boas, também são traçados como bem naturais em suas pausas e desvios, fluxos e refluxos.
É curioso como o palavrão é tratado às vezes, na literatura em geral, como uma questão de estar por todo o lugar ou não estar em lugar nenhum. Isso porque se ele não aparece com frequência, quando aparece pode confundir o leitor e parecer fora de lugar, já que a narrativa nunca indicou que era esse tipo de história. Mas aqui funciona porque, mesmo que por centenas de páginas ele não tenha aparecido (até que o tenha feito), há um certo tom ranzinza no narrador e uma certa névoa de tensão nos personagens que não nos faz desgostar quando eles aparecem. E, por terem sido raros, quando aparecem, tem muito impacto. Demonstram descontrole do personagem, raiva, energia narrativa.
Absolutamente recomendado!

site: http://petercast.net/blog/comentarios-sobre-o-homem-duplicado-de-jose-saramago/
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Deghety 14/10/2016

Simplesmente Genial
Não farei aqui uma resenha, e sim um minisculo relato da reação que o livro despertou em mim.
Envolto no mistério, criando possiveis explicações durante toda a obra tenho que destacar a genialidade do enredo, das reflexões, das sensações humanas bem descritas por Saramago, te tragando para dentro da história, te tornando íntimo de Máximo, com um desfecho impactante de fazer prendermos a respiração. Um conselho: escolha uma explicação que julgar sensata a ti e fique com ela rsrs
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yuri.ulrych 18/04/2017

O Homem Duplicado Análise Estrutural e Semântica
O Homem Duplicado - Análise Estrutural

A narrativa da ficção usa a metalinguística como principal recurso para o desenvolvimento do sentido do enredo, sendo que a linguagem se manifesta falando de si mesma em várias camadas sucedidas ao texto: quando o protagonista, prosaico professor de história, por um momento sabe que está sendo narrado; ou quando o narrador aparece de repente como autor, escusando o próprio Saramago das suas próprias interpretações; ou até mesmo a personagem principal que se vê em outras personagens, heterônimos dela mesma.
Em muitos momentos o protagonista narra consigo mesmo, em diálogos, as situações hipotéticas de seus futuros devires. Os pensamentos sempre acabam falando mais alto, tanto que, ocasionalmente, aparece a figura arquetípica do Senso Comum dentro dele a conversar. Neste caso, Saramago atualiza a técnica do “Coro” utilizada por séculos no Teatro Grego, singularizando-a como personagem mental, a fim de expressar o que eram muitas vozes em uníssono, dando as opiniões arquetípicas do ser humano, no espectro do inconsciente coletivo, o Senso Comum, tenta ajudá-lo, como pode.
Como Saramago conseguiu alinhavar tantas metalinguagens diferentes e sobrepostas? A resposta é simples, existe um centro narrativo, além de ser uma tremenda ironia do autor-personagem, sempre quando ocorrem tais mudanças de ordem metalinguística, o texto volta por escrito à tríade, Tertuliano Máximo Afonso, diga-se de passagem, nome que a personagem odeia, dispondo assim o texto para uma nova mudança literária, a cada retomada.
Fora do centro narrativo Tertuliano Máximo Afonso, existe outras três personagens chamadas pelo nome completo que o texto modula para dar o seu movimento, Maria da Paz, e Antônio Claro, depois mais tarde Carolina Máximo. As outras personagens incitadas no texto, “Helena”,“Professor de Matemática”, “A vizinha”, “O Diretor da Escola”, “A Professora de Línguas”, “A secretária”, “O rapaz da locadora”, são plenamente terciários tanto pelo nome que lhes é atribuído, servindo apenas como notas de passagem.
Atenhamo-nos que quando o texto caminha em direção a Maria da Paz, há uma preparativa de tensão direta a Antônio Claro, que ao chegar por sua vez, o texto aumenta gravemente o seu grau de suspense, para depois amenizar ao centro conflituoso de Tertuliano.





O Homem Duplicado - Análise Semântica

Saramago levanta questionamentos sobre o modo operante da pós-modernidade, em que os seres humanos tem dificuldades de olhar para si mesmo, crise existencial, e de identidade de Tertuliano Máximo Afonso, no qual, não suporta o próprio nome, nem as maneiras de lidar com a profissão, muito menos amorosamente, se tem por fracassado mesmo com muitas chances batendo na porta da janela, se recusa em crise, visto às dúvidas e a insatisfação provinciana na qual se encontra, cheio de medos.
O seu duplo, é uma pessoa estabilizada em vida, ator secundário de cinema, tem poder econômico, e também tem suas escapadinhas do matrimônio, justamente o oposto de Tertuliano, atua sobre o pseudônimo de Daniel Santa-Claro, embora seu nome seja Antônio Claro. Saramago põe outra profunda discussão sobre a arte da atuação, personagens são heterônimos dos seus próprios atores?
Aconselhado pelo colega Professor de Matemática, vai à locadora e obsessivamente, acaba voltando mais e mais, a buscar filmes de Daniel Santa-Clara, cuja parecença é exatamente a mesma que a dele, de rosto, de corpo, de cicatrizes e por aí vai... Assiste todos aos filmes. Esconde essa façanha com tamanho apego, que evita de qualquer forma que seja descoberto. Alguns costumes característicos dele paulatinamente vão mudando, como ir de carro ao trabalho, ao invés de ônibus, ou propor ideias em meio a reuniões no emprego, de algum modo tenta esconder principalmente a sua angústia latente em si.
Maria da Paz vira joguete do seu pretendido Tertuliano, a partir da proposta dela assinar uma carta como fã do tal ator, para que o venha conhecer secretamente. Ela faz porque ama, ele faz porque deseja se encontrar. Acaba descobrindo o endereço, liga, e quem atende é Helena, esposa de Antônio Claro, que se assusta por ter a mesma voz do marido, aumenta mais ainda o suspense, a crise de relacionamento com ele. Tertuliano para encontrá-lo aparece disfarçado, para não ser identificado, conversam. Antônio Claro, surpreendido, quer evitá-lo como desde o começo dos contatos. Contudo, tem o desejo pernicioso de afundar psicologicamente de algum modo, dizendo ter nascido primeiro, e que Tertuliano seria seu duplicado, que não fariam testes de DNA, para não prejudicar a carreira.
Tertuliano, indefeso desiste, volta a querer se estabilizar com o que tem em mãos, sua mãe e Maria da Paz, propondo o tão almejado noivado que sua mãe queria. Mas manda ao endereço de Antônio Claro o disfarce, a barba postiça. Antônio provocado investigou a vida de Tertuliano, querendo passar uma noite de Tertuliano de adultério com Maria da Paz.
Invectivas acontecem no apartamento de Tertuliano, Antônio Claro entra, e sugere a troca de identidades, completamente fraco, aceita. Porém resolve se vingar dormindo com Helena. Afinal, um é duplo do outro, tudo isso acontece. Mas Tertuliano recebe a notícia, de que está morto, pois Antônio sofrera um acidente de trânsito matando também sua noiva, ambos se forcejaram, ela havia descoberto que não era seu noivo, segundo o narrador-autor. O choque é grande, mas Helena, compreensiva resolve continuar com “o duplo de seu marido”, como se fossem o mesmo, estando aberta para as diferenças.
A mãe, que chorava copiosamente teve oportunidade de vê-lo como Antônio Claro, no velório fingiu com Helena, valendo ressaltar que ela bem avisou Tertuliano. Saramago usa a imagem de Cassandra como oráculo de ação preventiva a ameaça que seria o Cavalo de Troia na cidade natal. Até que então toca o telefone, e alguém liga, com a mesma voz dele quando ligou para Antônio Claro. O livro termina com ele saindo armado até o local.
O duplo é sempre o segundo, quando o primeiro ressurge. Portanto, Tertuliano, poderá se matar, porque ele e o duplo são um só. Ao menos que ele aprenda a lição, tanto que até ele mesmo dizia a Antônio Claro que se um morre, o outro também morreria na sequência.
Saramago deixou este final em aberto, para a própria reflexão de escolha entre matar a si mesmo, ou se construir a partir de seus próprios pontos. Também é uma decisão duplicada.
Augusto Isaac 19/05/2017minha estante
Muito boa resenha, colega.


Djalmo 10/08/2017minha estante
A sua análise sobre o último capítulo ao meu ver é a mais abrangente e plausível, obrigado por compartilhar sua compreensão.


Dara 01/06/2019minha estante
Resenha incrível!


skuser02844 18/05/2023minha estante
Não, o final não é aberto. Existe sim um terceiro duplicado.
Após Tertuliano Máximo Afonso descobrir o nome do ator secundário, começa a telefonar a todos aqueles nas lista telefónica que detêm o mesmo sobrenome. Em uma chamada particular, o interlocutor afirma que alguém já havia perguntado pelo Daniel Santa-Clara, informação que deixa o professor de história incomodado ao ponderar a hipótese de alguém estar também à procura do seu duplicado.
"...e foi ela ter-se recordado o homem das cordas vocais destemperadas de que havia mais ou menos uma semana outra pessoa tinha telefonado a fazer idêntica pergunta, Suponho que não terá sido o senhor, pelo menos a voz não se parece, tenho muito bom ouvido para distinguir vozes, Não, não fui eu, disse Tertuliano Máximo Afonso, subitamente perturbado, e essa pessoa era quem, um homem, ou uma mulher, Era um homem, claro. Sim, um homem, que cabeça a sua, pois não se está mesmo a ver que por muitas diferenças que possam existir entre as vozes de dois homens, muitas mais as haveria entre uma voz feminina e uma voz masculina, Ainda que, acrescentou o interlocutor à informação, agora que penso, houve um momento em que me pareceu que se esforçava por disfarçá-la.
[...]
Da fortíssima perturbação que lhe causara a notícia de que um desconhecido andava também à procura de Daniel Santa-Clara ficara-lhe uma inquieta sensação de desconcerto como se se encontrasse diante de uma equação de segundo grau depois de se ter esquecido de como se resolvem as do primeiro."
Páginas 119 e 120
É importante relembrar que no final, o terceiro duplicado afirma estar à procura de António claro há semanas.
"É o senhor Daniel Santa-Clara, perguntou a voz, Sim, sou eu, Andava à semanas à sua procura, mas finalmente encontrei-o"
Página 317




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