Gabi 03/02/2022
*3,5
Preconceito, traição, ciúmes... Esses são alguns temas que encontramos nessa peça de Shakespeare, que apesar de ser de 1604 não poderia ser mais atual.
Apesar da peça receber o nome de Otelo, a impressão que temos é que Iago é nosso personagem principal. Um vilão impiedoso e com uma mente ardilosa, que consegue reunir diversas pontas e manipular diversos personagens para que seus planos malignos se cumpram. Com a imagem de um bom e sincero homem, Iago consegue enganar a todos e principalmente a Otelo, que passa a ter sua mente repleta de desconfianças incutidas por Iago.
É interessante como a peça, apesar de antiga, consegue tocar em temas ainda muito atuais. Otelo, como mouro, é visto como inferior e como um bárbaro, apesar de ocupar um papel de destaque e se mostrar eficiente em seu trabalho. Em diversos momentos temos falas preconceituosas e racistas de personagens que apontam Otelo como um ser que não merece confiança e que desperta medo. Infelizmente, o desfecho de Otelo, apesar de condizente com a trajetória, para mim ficou quase como uma comprovação desse racismo, como se não houvesse outra maneira a não ser que ele fosse um homem sem escrúpulos e violento.
O tema do ciúme é o que move a peça. Podemos ver como o ciúmes acaba se tornando algo incontrolável e como o poder do homem sobre a mulher, principalmente como marido e mulher e principalmente naquela época, fazia com que a mulher ficasse a mercê das vontades desse amo. Desdêmona é o estereótipo dessa esposa dedicada, que chama o marido de “meu amo e senhor”, que lhe dá tudo e lhe serve. E, mesmo seguindo toda essa “cartilha” de boas maneiras da época, recebe a ira desse marido que não admite uma suposta traição e a mata. Mesmo Emília, esposa de Iago, que se mostra como uma mulher forte e que decide não se deixar ser calada, tem um destino cruel nas mãos desse marido que não admite sua fala. Uma história que, infelizmente, ainda é muito atual.