Paulo Silas 12/01/2018Ciúmes, traição, cobiça, sangue e tudo o mais que está envolto ao universo shakespeariano, também fazem parte de "Otelo" - um clássico que arrebata o coração de qualquer leitor. Uma peça muito bem construída que faz jus ao patamar que ocupa.
Em mais uma tragédia que escancara as mais profundas facetas humanas, Shakespeare narra uma história em que o ciúme é o protagonista.
Otelo é um nobre à serviço de Veneza. Bom combatente e líder, apaixona-se por Desdêmona, iniciando assim um romance que resulta em problemas. Isso porque Brabâncio, senador e pai de Desdêmona, é acordado às pressas com a notícia de que sua filha saiu de casa sem sua permissão para viver com um mouro. Furioso, Brabâncio se dirige até Otelo, exigindo que aquela situação se resolva com o julgamento do mouro pelo rapto de sua filha. Otelo, sereno, explica que Desdêmona também o ama, não tendo ocorrido qualquer tipo de sequestro. Em meio à discussão, Otelo é convocado para atuar com suas tropas em um determinado conflito, devendo se reunir com o conselho para tanto. Brabâncio também participa da reunião, aproveitando o momento para exigir o julgamento de Otelo, onde e quando tudo se esclarece, uma vez que Desdêmona confirma sua paixão por Otelo e que saiu da casa do pai para viver o seu amor. Nada resta a não ser aceitar a união do casal, mesmo a contragosto de Brabâncio.
Enquanto os acontecimentos se seguem, com a viagem de Otelo e vários súditos para conflitos bélicos - Desdêmona acompanhando desde então seu companheiro, Iago revela para algumas pessoas toda a raiva que possui de Otelo. Por mais que seja seu alferes, possuindo extrema confiança, Iago planeja a desgraça contra Otelo. Ao saber que Rodrigo, um cavalheiro veneziano, nutre sentimentos por Desdêmona, Iago elabora todo um plano ardiloso para que o relacionamento do casal se desmanche, oportunizando assim à Rodrigo ter acesso ao coração de Desdêmona. E assim iniciam os primeiros passos de Iago. Sabendo que Otelo possui todo um ciúme esperando para escancarar sua face, o método escolhido em sua empreitada maliciosa é insuflar tal sentimento. Para tanto, utiliza-se de diversas pessoas (Cássio, Emília, Bianca, Desdêmona, Rodrigo...), tratando-as como seus fantoches, para que, sem que saibam, cumpram com os papeis de seu plano. E funciona. Após causar muitas intrigas e desavenças, Iago logra êxito em fazer com que Otelo revele o seu ciúme doentio, amesquinhando-se a partir de então em sua postura para com sua bela amada Desdêmona, até o momento em que o descontrole toma conta de si, resultando no trágico desfecho da história.
É uma história excelente, que possui razão de permanecer viva e respeitada durante tantos séculos. A construção dos personagens, considerando toda a riqueza de cada um desses, é um feito notório do autor que se revela como uma marca própria em cada peça que desenvolveu. Com Otelo não é diferente. As nuances, as vicissitudes, as particularidades são conferidas aos personagens de maneira brilhante, adotando cada qual peculiaridades distintas. O enredo, como visto, é muito bem construído, convencendo o leitor com todo o primor que a obra proporciona.
Um livro que merece e deve ser lido!