Morgotth 01/04/2024
O evangelho segundo Saramago.
Albrecht Dürer o mais famoso artistas do renascimento nórdico, inspira Samarago na descrição sobre a crucificação de Jesus na primeira página do livro. Retratando em palavras cada traço da xilogravura. ?O sol mostra-se num dos cantos superiores do rectângulo, o que se encontra à esquerda de quem olha, representando, o astro-rei, uma cabeça de homem donde jorram raios de aguda luz e sinuosas labaredas, tal uma rosa-dos-ventos indecisa sobre a direcção dos lugares para onde quer apontar, e essa cabeça tem um rosto que chora, crispado de uma dor que não remite, lançando pela boca aberta um grito que não poderemos ouvir??
Obra não é narrada por Jesus apesar do título, mas por um personagem muitas vezes consciente do que aguarda no futuro vindouro. Trazendo dando a luz quanto uma leve pausa para reflexão do leitor desavisado. Livro em momento algum deixa de lado aquela sensação de estranheza onde muitas vezes precisa lembrar tanto da proposta do autor quanto simples fato de não ser uma obra religiosa. Muito pelo contrário, ateu, Saramago muitas vezes crítica representações da fé e seus sacrifícios por meio de sangue e violência.
Humanidade demasiada de Jesus e seus familiares aproxima o leitor de uma perceptiva diferente, menino que ao descobrir parte do seu passado renega o pai, questionando-se sobre ser apenas filho de Deus, então de forma brilhante, torna-se Jesus negar Deus e aproximar-se novamente de seu pai José. Relação conflituosa entre Jesus e o Senhor, ao saber do seu destino tornando-se um Mártir mostra um Jesus mais homem e menos deidade.
Círculo familiar apesar de pouco estar presente consegue captar ao mesmo tempo uma simbologia onde amor e incompreensão, arrependimento e orgulho são os pilares de qualquer família no planeta terra. Filho conflituoso, mãe autoritária que pouco releva ao filho sua história. Ambos que com suas cicatrizes e dores partem e perdura o mesmo amor.
Narrativa pesa, trava, mas sem ser cansativa, aprofundando cada personagem e seus questionamentos. Enceramento do livro com diálogos entre Jesus, Deus e o Diabo narrativamente torna trazer uma dissonância entre
Jesus-homem-terreno
e duas forças distorcidas, mas em comunhão.
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"I...] cada um de nós é este pouco e este muito, esta bondade e esta maldade, esta paz e esta guerra, revolta e mansidão."