nicorobin 13/09/2024
"Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez."
Sobre a leitura: Não vou mentir, demorei muito pra me acostumar com a escrita do Saramago e, por um bom tempo, enrolei e procrastinei sob essa desculpa. Mas valeu muito a pena. De uma forma quase imensurável. Creio que a partir da 100° página a história se desenrola de uma forma que é quase impossível não se maravilhar, você sente como se tivesse aprendido a ler apenas para que, algum dia, pudesse ler esse livro. E eu sinceramente acredito que esse é um dos melhores livros que eu vou ler em toda a minha vida.
Sobre o livro: Saramago soube subverter muito bem os elementos cristãos, isso provavelmente incomodaria muito um religioso, mas é preciso saber separar e entender o que está sendo dito, a crítica não necessariamente é direcionada a Deus, pois sendo Saramago o ateu que era, não poderia criticar algo que não acredita existir, mas ao conceito que temos e que disseminamos desta divindade.
Falando ainda a respeito do Deus de Saramago ( e quero deixar claro que, quando eu falar de Deus aqui, estarei falando do Deus retratado neste romance), dá pra ver claramente que ele é mais inspirado na versão do velho testamento, enquanto a versão mais benevolente e misericordiosa acaba sendo completamente manifestada através de Jesus, que foi retratado de uma maneira tão humana e sincera que só poderia ter acontecido através dele.
Achei absolutamente genial a ideia de não tratar o Diabo como um inimigo, mas como um irmão gêmeo do próprio Deus, os dois nascidos ao mesmo tempo, pois jamais haveria um sem o outro.
A referência aos heterônimos de Fernando Pessoa naquela conversa do Barco foi um dos ápices para mim. Não sei se tô tirando leite de pedra, só que, assim como Jesus, Deus e o próprio Diabo, fiquei assustada. Uma sensação de perigo iminente, como se uma outra dimensão tivesse se sobreposto de repente e não fôssemos capazes de sequer compreender o que estamos presenciando. Enfim, foi só um parágrafo. E foi muito bom. (leiam Saramago).
O final é estarrecedor e, mesmo que todos nós saibamos que fim levou o Cristo, ainda nos choca. Não podemos almejar sermos mais do que peões, manipuláveis e descartáveis, no grande jogo de Deus. É cruel.
Não pautei tudo o que eu queria (até porque seria impossível), porém acho que consegui expressar o quão espetacular esse livro foi e ainda está sendo mesmo agora que o concluí. Sério, apenas leiam Saramago.