CooltureNews 07/04/2014
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Inocência roubada é o livro de uma jovem que resolveu contar o mundo o que ela e sua família passaram por anos em uma seita religiosa no estado de Utah (EUA). O livro assusta, chega a chocar muitos leitores pelas ações que aconteceram (já que, infelizmente é uma biografia), mas de importância única para percebemos que devemos sempre buscar conhecimento e argumentação teórica quando o assunto é fé.
Para melhor esclarecer: seita é a palavra utilizada para denominar toda religião que vai contra alguns conceitos de outras religiões ou da sociedade. Geralmente é uma vertente vindo de outra religião, que questiona ações ou dogmas da igreja. No caso da igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Últimos Dias, foi criada após uma ruptura da igreja conhecida como Mórmons.
Alguns membros da igreja Mórmon decidiram fundar uma nova igreja após a mudança de uma das mais conhecidas normas da igreja: o casamento múltiplo. Para evitar problemas com as leis, a igreja mórmon decidiu não permitir o casamento de um homem com mais de uma mulher, evitando dessa maneira contrariar leis civis a respeito da bigamia.
Os mórmons seguiam um hábito de casamentos múltiplo, muito comum nos tempos dos velhos mandamentos (e em alguns locais onde a religião islâmica existe). Nos casos bíblicos, a maioria desses casamentos acontecia por infertilidade da esposa. Para os mórmons, o conceito é que Deus dá aos homens várias esposas de acordo com seu grau de relacionamento entre Deus e o homem. Dessa forma multiplica sua semente com muitos filhos. Com o fim dessa regra muitos membros não aceitaram.
No livro Elissa Wall conta como foi criada a igreja e como seus dogmas e regras dominavam a vida de todos os membros, mostrando a ditadura imposta em sua casa. Filha da segunda esposa de um membro da IFSUD, Elissa já nasceu tendo reservas quanto a sua vestimenta e amizades (já que podia conversar com quem era de fora da igreja. Seu pai era uma pessoa inteligente, chegou a montar empresas rentáveis, mas sempre que começava a ter altos lucros é forçado a vender – a igreja o mandava vender sob a afirmação de que ele estava se afastando de Deus com isso – e tinha que recomeçar do zero.
O pai de Elissa também sofria por dar liberdade e conhecimento as seus filhos. Apesar dos casamentos na religião que estavam fossem combinados entre famílias (na verdade, provinha de uma revelação dada pelo líder da igreja, que depois foi mostrado que era um embuste) ele não permitia que suas filhas se casassem muito novas (com 17 ou 18 anos). Porém, era fiel a igreja, chegando ao ponto de expulsar um filho de seu lar e nunca mais vê-lo.
Elissa mostra em seu livro que a vida ali não era um mar de rosas: as esposas viviam discutindo e brigando pelo espaço e amor do marido, os filhos acabavam sendo segregados pelas mães, que buscavam sempre o melhor pros seus e provocavam os de outros. Em uma dessas brigas, acabou que o irmão mais velho de Elissa, que sempre defendia a mãe, começasse a questionar a religião e a forma como as coisas eram resolvidas: por isso acabou expulso de casa.
A partir daí tudo mundo. Além da tristeza na residência, a mudança do líder da igreja e suas novas determinações começam a trazer conflitos: foi proibido que crianças da igreja estudassem em escolas publicas – deveriam estudar na escola fundada pelo líder, onde se estudava somente disciplinas que estes desejavam -, os casamentos começaram a acontecer com garotas cada vez mais novas e as crianças “problemas” eram enviadas para o Canadá para trabalhos forçados (quando é um rapaz). No caso das mulheres, a forma mais utilizada era forçar um casamento seguido de uma gravidez. Dessa maneira a pessoa acaba sendo pressionada a permanecer na religião sem reclamar, caso contrario seria expulsa e nunca mais veria seu filho. Uma situação que pouquíssimas pessoas decidiriam sair e largar o filho para trás.
Nos anos que viveu nesta seita, Elissa viu seus irmãos fugirem, seu pai ser separado da família, sua mãe se casar novamente e ter que se casar com apenas 14 anos. Neste casamento, foi espancada, sofreu diversos estupros e vários abortos. Por sua idade nova e proibida de ir a um verdadeiro médico, ao sabia por que sempre perdia os filhos e entrava em depressão constantemente. Todas as vezes que pedia ajuda a igreja ou a mãe para acabar com os estupros e espancamentos, recebia um “não” como resposta.
Só depois de alguns anos – já casada e com um pouco mais de liberdade devido a isso – Elissa começou a perceber os problemas que haviam na igreja. Seus irmãos que haviam fugido pediam para que ela fosse embora e ficassem com eles, mas ela temia por suas irmãs menores e sempre recusava. Após mais um espancamento e aborto Elissa conhece um rapaz, por quem se apaixona e, então, cria coragem para ir embora da igreja.
Depois que finalmente saiu da igreja, a luta de Elissa permaneceu. Depois de muita insistência dos irmãos, Elissa decidiu entrar na justiça contra a igreja por tudo que passou – casamento forçado de uma menor, estupro e omissão. A igreja já era processada por pedofilia e o líder acusado de roubo e estupro de meninos de diversas idades. Mas somente com seu testemunho começou a desmantelar a igreja que lhe causou tantos infortúnios.
Hoje Elissa é casada e possui dois filhos. Sua principal luta é ajudar meninas que passaram ou passam o que ela passou. Seu livro é um relato triste de uma infância dolorosa, mas necessária para ajudar muitos outros a evitar esse infortúnio.