Matheus656 25/04/2011minha estanteO livro de Joyce é, de fato meio seco e não possui a tuba canora e belicosa do Ulysses ou do Finnegans Wake. Traduções não ajudam também. À medida que Stephen cresce, e isso só no original se apercebe, a musicalidade bem como a linguagem vão ficando nitidamente mais refinadas.
Afora isso, a temática labiríntica do labirinto (tão explorada por Borges) tem seu cerne central aqui. Jean Paris faz uma análise muito bacana sobre este aspecto do livro. Stephen Dedalus, Dédalo, é preso em inúmeros labirintos ao longo de sua vida (chega até a ser Pasífae com sua vaquinha na colina [ou debaixo da mesa]) e consegue apenas reverter a situação a partir da visão quase que deífica da moça na praia. A partir daí ele é Dédalo que construirá labirintos. E que labirintos! Tão intrincados que ele mesmo, como se vê no Ulysses, se enreda e se perde...
A técnica de composição do livro é digna de nota também. Richard Ellmann faz um bom apanhado em sua grandíloqua biografia: o desenvolvimento embriônico (não ainda o mais-que-perfeito do Ulysses) do texto e das relações intersociais de Stephen vão sendo nitidamente vistas a partir da linguagem. Stephen sem opinião, formando uma junto com seu coração e sentidos. O livro se fecha com o diário de Stephen, uma forma escondida de monólogo interior que iria explodir no Terceiro Episódio (Proteu) do Ulysses.
O livro é, no final das contas, fechados em símbolos e interpretações sombrias que só o advento do macrocosmo do Ulysses decifraria... E que, gosto de imaginar, apenas o Finnegans Wake poderá elucidar e finalizar... Afinal de contas, o Finnegans Wake é a obra da vida e para a vida: o Retrato igualmente, não?