Aline T.K.M. | @aline_tkm 09/06/2014Tema ainda bem atualEscrito e montado pela primeira vez em 1897, este clássico do teatro francês foi baseado na vida do escritor Hector Savinien de Cyrano de Bergerac. Até os dias atuais a peça continua a ser encenada no mundo todo.
Paixão proibida, cartas e declarações de amor, guerra, triângulo amoroso. Todos esses elementos estão presentes na peça, cuja ação se passa em pleno século XVII – dois séculos antes de sua concepção. O diferencial fica por conta do protagonista: grande em feiura, Cyrano é maior ainda em generosidade, coragem (e petulância) e romantismo. E ainda é poeta. Seu invólucro horrendo – o imenso nariz é a marca do personagem – o impede de confessar seu amor pela bela Roxane, sua prima.
Ao tomar conhecimento de que o jovem Christian – bonito, porém sem habilidade com as palavras – também ama Roxane, Cyrano propõe unir-se a ele na conquista da mulher amada. Christian com a beleza; Cyrano com as belas palavras de amor.
A união tem êxito, Roxane acaba se apaixonando por Christian, tanto por sua beleza como também por seus cortejos e declarações de amor – que ela ignora pertencerem a Cyrano. Mas a guerra (dos Trinta Anos, entre França e Espanha) irá interferir no triângulo amoroso e trará consequências.
Escrita em rima e composta por cinco atos, a peça traz, além da história de amor, um tema bastante em alta nos dias atuais (poderíamos considerá-lo até mesmo atemporal), que é o conceito do belo e a influência da aparência na autoestima de uma pessoa.
Cyrano é feio, ponto. E apesar de sua grandeza de caráter, ele permite que sua falta de beleza interfira em seus atos. Ele não suporta estar diante da própria imagem no espelho e, se é corajoso no que se refere a batalhas e provocações (Cyrano é o símbolo do panache), nem sequer considera a possibilidade de declarar seu amor, pois a certeza da rejeição o assombra.
Às vezes maçante (por conta das rimas), a leitura se arrasta no início. Lá pela metade do livro, quando realmente as coisas começam a acontecer – a união de Cyrano e Christian, a guerra –, a trama envolve e ganha interesse genuíno.
O que mais marca, entretanto, são os personagens. Cada um deles é único e dotado da força e personalidade que apreciaríamos ver em toda trama que nos cai nas mãos. Apesar da previsibilidade da tragédia, o desfecho não deixa de surpreender e de fazer com que fechemos o livro admirando ainda mais o protagonista – e desejando, no íntimo, escrever uma nova trajetória para ele.
É um clássico velho? Decerto. Mas nem um pouco démodé. Seu brilho e essência continuam atuais e não é à toa que ainda é encenado com frequência mundo afora.
LI EM FRANCÊS
Leitura difícil devido ao conjunto rimas + vocabulário antigo.
Indicado para os falantes mais avançados (e com um dicionário sempre à mão).
Edição lida: Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, Pocket Classiques.
LEIA PORQUE...
Clássico francês com mensagem que continua bastante atual. Dica: assistam também à adaptação homônima de 1990, dirigida por Jean-Paul Rappeneau e com Gérard Depardieu – magistral – no papel de Cyrano. Legal para quem curte filme de época.
DA EXPERIÊNCIA...
A leitura custou para começar a fluir – quem me conhece sabe que não sou lá grande fã do gênero teatral; prefiro assistir a ler as peças –, mas a trama é envolvente e, uma vez que a coisa engatou, não consegui sossegar até terminar o livro.
FEZ PENSAR EM...
Outras peças que li sem esperar grande coisa e que acabaram por me surpreender, como Escola de Mulheres (de Molière) e A Importância de ser Prudente (de Oscar Wilde). E, mudando da água para o vinho, lembrei que ainda morro de vontade de ler as peças de Nelson Rodrigues...
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