Camila Gimenez 10/07/2021As pessoas lá de cimaPosso considerar-me uma leitora de listas. Adoro listas. 30 livros para ler antes dos 30. 1001 livros para ler antes de morrer. Livros indicados por Elena Ferrante. Livros citados em Gilmore Girls. Autores laureados com um Nobel. E por aí vai. Um título que sempre aparece nessas listas é A Montanha Mágica de Thomas Mann.
Além de uma leitora de listas, tenho certa fascinação por clássicos e calhamaços. Se um livro tem a importância de virar um clássico, há algo ali para ser aprendido. Se um autor tem a capacidade e volúpia de escrever um grande volume, há algo ali que merece ser lido. Eis que A Montanha Mágica também aparece aqui.
Então, aproveitando a Leitura Coletiva do 'Ler Antes de Morrer' eu decidi encarar as mil páginas de um dos mais importantes romances da literatura alemã e mundial.
Hans Castorp, um jovem alemão, antes de dar início à vida adulta propriamente dita, faz uma visita ao primo, Joachin, um rapaz tuberculoso, no Sanatório de Davos, nos Alpes Suíços. Eis que lá ele conhece uma série de personas que representam a burguesia da época e a mentalidade do pré-guerra (vale citar que Thomas Mann foi um defensor da PGM). E o que era para ser uma visita de três semanas, acaba levando um pouco mais de tempo no alta da montanha...
Meu primeiro contato com a literatura alemã foi com Hermann Hesse e ainda não estou plenamente convicta de que compreendi tudo o que li. É um autor que devo reler num futuro breve. Ler Hesse me causou certo receio em relação à literatura alemã, o que me levou a ter medo de ler Mann por achar demasiado complexo.
Mas que surpresa mais que agradável ao descobrir como as mais de oitocentas páginas vão fluindo de forma gostosa. Iniciamos a jornada com a chegada de Hans no Sanatório Berghof e lá ele conhece um miríade de personagens cada qual com sua idiossincrasia. Claro que preciso citar em especial os dois grandes doutrinadores de Hans: Lodovico Settembrini e Leo Naphta. Os capítulos mais densos são graças às discussões duelísticas que eles travam, com fins pedagógicos.
Os dois, inclusive, são retratados na obra como o duelo entre a fé, defendida por Naphta, e a razão, defendida por Settembrini. Além dos dois, vale ressaltar a figura de madame Chauchat, interesse romântico de Hans Castorp, rendeu os melhores capítulos na minha opinião.
O que seria uma visita de três semanas acaba se tornando uma estadia de sete anos com as pessoas lá de cima, e o que finda esse período na vida de nosso herói é o desenrolar das coisas da planície, a Primeira Guerra.
A Montanha Mágica foi um livro que me ganhou. Não darei as cinco estrelas que merece porque sinto que minha falta de conhecimento sobre a Primeira Guerra trouxe alguns obstáculos para uma compreensão mais profunda, principalmente nas discussões filosóficas entre Settembrini e Naphta, mas do que pude compreender, é um livro realmente valioso. Definitivamente vale uma releitura.