spoiler visualizarthemanoel 01/11/2024
Um aprisionamento muito gostoso.
Amor Fati - a mulher louca que ri da sua própria desgraça. De ter se submetido a uma cirurgia feita por um profissional inexperiente e acabado em uma cama, com uma pressão torácica que apertava teu peito de tal forma a pressionar o coração e o pulmão, tirando dela as forças. ?Que tola fui hahahaha?. As gargalhadas do seu sofrimento demonstram um amor pelo vida, mais que um contentamento, mais um aproveitamento da vida em seu máximo, ?life is joyfull?.
(01:03 - 13/10)
Ubermensch - Hans Canstorp, será? Quanto mais eu avanço no livro, mais eu percebo que o autor foi lendo novas teorias enquanto escrevia, o livro cresce absurdamente, assim como o personagem, a gente vê um homem cheio de si, definhando com uma doença, depois o vê querendo massagear seu próprio ego ajudando os que estão à beira da morte com vasos de flores e conversas com familiares. Vemos uma relação de liderança para com o seu primo, ele lidera tudo o que o primo irá fazer, sem contar que Clavdia se torna seu amor impossível por lembra-lhe dos sentimentos que ele tinha por um jovem menino do colégio. Quando o seu amor se cura, e o seu primo decide abandonar o sanatório e dar sua vida à guerra, conhecemos um Castorp que se deixa levar, de modo quase infantil, ele não influencia mais ninguém, ele não desfruta dos belos cafés da manhã servidos, ou mesmo dos retratos internos (raio X) e da sua medição regular da temperatura, ele se torna um sujeito do que está acontecendo ao seu redor. Ele se conforma com a sua doença. ?A enfermidade separa o homem do animal?. Ele quer estar doente, ele quer estar naquele estado de cuidado.
Setembrini - Um médico que gosta de ter seus ideais e crenças postos a prova em todos os momentos possíveis, talvez por isso ele se aproxime tanto de Hans Canstorp, ele o vê como um estudo de caso e talvez um pupilo, alguém que consegue absorver parte dos seus devaneios e os transformar em algo minimamente útil. Alguém que está ali pra aprender, mas não de forma passiva, ele está ali como uma pedra no sapato, alguém que se nega a deixar o hospício.
Naphta - um judeu que passou por poucas e boas na vida e por questões de saúde foi mandado a Davos Platz para se curar, alguém que tinha tudo para ser um monge transcendental, alguém que questiona a natureza da própria realidade e da realidade alheia, da vida e da morte que vive a beira do absurdismo e colocando o caos por onde passa.
Eu pensei em escrever cada personagem mas não dará certo.
13/10 - NEVE ?? - após todo o papo com Setembrini e Naphta o tempo nos Alpes não melhorara, pelo contrário, uma nevasca enorme assolou nosso herói que se encontrou em uma espécie de tédio nem um pouco produtivo. Vendo os visitantes do vale e até mesmo alguns pacientes, a contragosto, dos médicos aproveitando a neve, já que não havia nenhuma luz solar natural que os satisfizesse; Hans Castorp; tomado pela sua jovialidade e pelo Ubermensch em si, por si achar um homem melhor que quais outro, coisa que havia sido posta à prova no capitulo anterior onde ele em parte mediou a conversa entre Setembrini e Naphta, mas acabou perdendo-se na argumentação para contra o segundo (o primeiro nem o diga); decide se aventurar pelo esqui, coisa que nunca fizera antes, e com apoio de Setembrini embarca em uma jornada auto afirmada de aprender a se locomover por sobre aqueles equipamentos novos, e o faz, com graciosidade. Sobe então até um dos mais altos picos e todo o capítulo pode se resumir em uma odisseia de descida da montanha que subirá a teleférico. Somos contemplados com sua visão turva, somos presos ao frio que ele sente, somos expostos ao silêncio mortal - e enquanto escrevo me pego pensando se não seria melhor deixar algumas páginas em branco para ilustrar esse silêncio frio dos Alpes, mas não, o cérebro humano nunca está em silêncio - a todo instante somos confrontados com os vultos que ele vê pelo caminho, com as coníferas que estão cobertas e com o frio e uma nevasca ainda mais forte que se aproxima, o capítulo é enorme, assim como Hans ficamos sem muita noção de tempo, não sabemos se ainda é o meio da tarde ou se já se encontra o por do [inexistente] sol; passamos por uma choupana de pedra, que ele desvia e segue seus instintos, mesmo mal sentindo suas mãos, com o intuito de explorar ainda mais o esplendor branco, vemos que ele reencontra o caminho, que os esquiadores normalmente tomam, mas ele insiste no seu próprio instinto, e toma um caminho completamente diferente que o leva novamente a choupana cuja parede de madeira trancada lhe serve, de certo modo, de abrigo da tempestade de neve. AQUI vemos nosso Hans Castorp voltar a ser o que fora em seu cerne, o Além Homem, ele apesar de tomar vinho do porto, e ficar entorpecido pelo álcool, ele é elevado a pensar além daquilo que lhe foi dito por seus atuais mentores, ele volta a questionar; caindo no sono, ele se depara com paisagens e cenas de vida praiana belíssimas de vida, de amamentação e também de bruxas devorando crianças (alô Freud) ele meio que acorda tomado de ódio e percebe que já aprendeu de tudo que poderia aprender, que seus mentores eram em realidade charlatões (não acredito que ele tenha dito nesse sentido em alemão, mas sim que seus mentores sabiam tanto ou menos do que ele - Hans é egocêntrico em essência) e decide que para concluir todo o conhecimento sobre a vida era necessário também entender sobre a morte tudo já é tão absurdo, que o melhor a se fazer é deitar e deixar-se congelar e experienciar todo o absurdismo que essa quase morte era capaz de lhe providenciar (alô Camus); [só que ainda estamos nos 60 e muitos % do livro, muito ainda há de se explorar desse personagem, dos seus amores tanto por Clávdia quanto por Hippe] ele então toma a decisão mais coerente com Nietzsche, levanta e segue a vida em direção ao vale, pois não vê no suicídio a solução, mas em encarar os outros em continuar a estudar os seus comportamentos quase individualistas. Ele é efetivamente superior, e Mann nos lembra disso.
14/10 - Joaquim - deste pouco falei aqui, é um dos principais personagens da narrativa de Mann, um soldado que teve de se abster do serviço militar por conta de determinada enfermidade. Primo de Hans Castorp ele era o seu oposto direto, um homem sisudo, um jovem sisudo, que nos introduziu ao retiro nos Alpes, que mantinha o nosso herói na linha que evitava que ele se metesse em encrencas. Que o acompanhava, na maioria das vezes, nas suas aventuras por volta do estabelecimento, que participara passivamente das discussões que ocorriam naquele espaço febril e hostil, sendo uma das únicas cabeças realmente sãs do ambiente, tomando regularmente suas medicações e seguindo rigorosamente os tempos de repouso e de ambientação. Certo dia ele nos surpreende ao dizer-se cansado e pronto o suficiente para retornar ao vale e assumir o posto militar que lhe era cabido, o que fora desaconselhado por Behrens, de forma até rude, chamando o de desertor do tratamento que o faria curado em mais alguns meses (ou anos). Então sem a companhia de Hans, obviamente ele desce e logo cresce dentro das forças armadas sendo condecorado tenente e tendo prospectivas de evoluções ainda maiores de careira, tudo enquanto se comunicava com seu primo nos Alpes. No entanto essas cartas de felicidade ficam esparsas e a gente percebe que algo está ocorrendo: resfriados, dores, sangramentos; o levam novamente à Montanha, e aí somos apresentado a um novo Joaquim que mesmo em decadência, é reconhecido pela coragem de ter descido e lutado pelos seus ideais. Ele se aproxima como nunca de Hans, e definha em posição horizontal por semanas, tendo sérios problemas de traqueia que o conferem ao mesmo tempo uma aparência penosa, mas sábia, com o crescimento da barba ?ele morre bonito?. E vemos a primeira manifestação real de um sentimento por parte de Hans que não fora sexual. Ele se vê triste com a partida do primo, ele que lhe fecha os olhos, lhe posiciona as mãos como as de um soldado, que ajuda a lhe colocar no caixão. Mas permanece lá de sua sacada ouvindo os tiros em reverência à Joaquim Ziemssen, que conquistou honrarias militares mesmo em um tempo tão ínfimo de contribuição.
Um capítulo após a Morte de Joaquim somos confrontados com praticamente um interlúdio que trata do tempo e da distância como as coisas são relativas. ?Como uma sonata de 5 minutos dura 5 minutos, mas uma história sobre um acontecimento de 5 minutos pode durar horas.
Myeneer Peeperkorn: acredito que tenha sido o primeiro personagem escrito para o livro, é na primeira parte totalmente referente a As Nuvens de Aristófanes. Após uma longa espera do nossos herói pelo retorno de Clavdia, ela retorna acompanhada de um militar carrancudo. Que conquistava as pessoas com as suas aparentemente sábias palavras; sem nexo ou comprometimento com a realidade, Myeneer, fala fala e fala, mas sem sentido, e as pessoas ficam admiradas com o modo como aquele homem expressa algo que já é sabido ou que nem ele mesmo entende, mas finge compreender. Pouco de proveitoso se tira da sua introdução à Hans Castorp, mas no capítulo seguinte, que deve ter sido escrito muito depois, vemos inúmeras discussões de Setembrini com Hans acerca da inabilidade intelectual daquele homenzarrão. Que com uma PERSONALIDADE diferente conseguia seduzir seus ouvintes a darem atenção, mesmo que nada de importante fosse dito. Nosso herói começa tendo ranço e ciúmes de Myeneer, mas já no caminho para o capítulo seguinte acaba caindo na lábia daquele enorme e extravagante velho. Eles amam uma mesma mulher, a Mme. Chauchat, e aí se concentra um elemento discursivo que indica que essa parte foi escrita quase no final da redação do livro. Hans, que mesmo tendo tanto contato e conhecimento adquirido através de seus encontros com Setembrini e Naphta, no primeiro momento se deixa encantar por Myeneer. Todavia no capítulo seguinte vemos um Hans que tem postura para enfrentar o velho e mesmo o próprio velho acaba sendo reescrito, ele não mais fala sem nada a dizer, suas falas são coerentes. Sabendo dos affairs da sua companheira de viagem e de tudo que lhe cercava, vemos em Myeneer a figura caricata de um niilista que se não se conforma com os infortúnios da vida, que escolhe o caminho do hedonismo para seguir em frente, e ao final rende-se ao suicídio com veneno de cobra e outros ingredientes, tal qual aprendera em alguma viagem, para ter uma morte instantânea, quando a vida já não lhe guardava mais prazer algum.
Sob efeito de drogas terminei de Ler A Montanha Mágica e já estou na estação de Davos-Platz correndo também. Depois de uma grande corrente de cólera na narrativa que acaba em um duelo entre Setembrini e Naphta que tira a própria vida. Estoura a guerra e os últimos pensionistas, acredito que inclusive Hans Castorp tenho sido vitimados de tal conflito. Me perdi um pouco com a Clavdia não sei se ela se afastou de vez do sanatório após a morte de seu companheiro de viagem. E a garotinha que tinha ?poderes sobrenaturais? foi meio que jogada ao léu. Não sei o que aconteceu?
Não é um livro que eu recomendaria hoje, mas quem sabe no futuro.