Daniel Assunção 24/01/2021
Um épico em Hollywood com a Grande Batalha de Marilyn Monroe.
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Romance grande, na espessura e conteúdo. Contempla o mito de Marilyn Monroe, só que por um viés mais intimista: a garota, mulher, esposa, por trás da Atriz Loura. Abrangendo a vida dela desde a infância, ao estrelato e até seus últimos anos de vida, as possíveis e secretas causas para o seu desastre. O assunto também se expande para o ofício do ator e o ato da
representação, aqui com boa dose de especulações fundas por meio de visões de personagens e suas diferentes formas de encarar a essência da encenação. O ambiente pulsante é a lendária Hollywood dos anos 20 aos 50 durante os ruídos do cinema, quando a máquina cinematográfica parace tragar tudo em torno; em Blonde, Los Angeles é flamejante, com os seus habituais incêndios, proletários em expectativas com a guerra, empresários traiçoeiros, celebridades drogadas, fofoca, festas em grandes mansões regadas a tensão social, loucura, "chacais " do Canyon rodando por toda parte. E acima, brilhando em neon acima do horizonte, os letreiros das grandes produtoras que imergem a região nesse conto de fadas sombrio.
Como de costume o épico é repleto de eventos de significado, com vários estilos narrativos, coisa bem ambiciosa mesmo (dava pra não ser se tratando de um tema tão mitificado e batido como MM?). Pra quem gosta de um realismo psicológico mais perturbador - espelhado, impressionista, gótico - esse vai fundo nessa atmosfera. A autora Joyce Carol Oates (um dos mais prolíficos escritores de todos os tempos) tem muito poder para dramatizar suas histórias: o ritmo e belas figuras de linguagem dão o tom. Ótima experiência pra quem é curioso para ver que formas múltiplas a literatura pode tomar.
"Passei toda minha vida vendo este filme, embora nunca o tenha assitido até o final..."
"...desafiou Monroe a apostar cinquenta pratas, mas Monroe disse, com aquela sua vozinha de criança, que nunca jogava, porque só perdia e sabia que as chances da casa estavam contra ela, e H interrompeu-a como faz um diretor... dizendo, "Querida, jogue a porra dos dados e mais nada, certo?", e Monroe riu, aquela sua risadinha nervosa, como se estivesse apostando sua vida simplesmente ao arremessar os dados, e ela jogou e ganhou, e foi preciso explicar que ela ganhara... E no entanto disse a H que queria parar enquanto estava ganhando, porque com toda certeza perderia se jogasse novamente... "Estamos apenas começando"... Ela disse: "O quê? É para jogar até perder? Mas isso não me agrada nem um pouco". E H respondeu "Correto, querida. Você joga só até não ter mais nada a perder"..."