Will 30/06/2023
Mataram João Ninguém
Quando o próximo sangue jorrar
daquele por quem ninguém irá chorar daquele que não deixará nada para se lembrar
daquele em quem ninguém quis acreditar.
Quando seus olhos só puderem fitar o escuro
quando seu corpo já estiver inerte, frio e duro,
quando todos perceberem morto João Ninguém
e quando longe de todos ele será seu próprio alguém.
Tantas mãos, tantas linhas incertas, tantas vidas cobertas, sem ninguém pra sentir, tantas dores, tantas noites desertas, tantas mãos entreabertas, sem ninguém pra acudir.
Qualquer dia vou despir-me da luta pisar em coisas brutas, sem me arrepender.
Tão difícil ver a vida assassinada quando estamos já tontos pra tentar sobreviver.
As perguntas sem respostas, sem nada, as vidas curtas e desamparadas o último grito que não foi ouvido calaram mais um homem iludido.
E no mundo não dão mais argumentos pra fugir aos lamentos de quem sozinho falece.
Para esses, não há mais compreensão, não há mais permissão, para que se tropece.
Na televisão o aguardo da cotação um instante ocupado, para dizer morto João Ninguém mas a aflição ataca, a cotação subiu ou caiu?
e João morreu... ninguém ouviu.
Eu vou distribuir panfletos, dizendo que João morreu talvez alguém se recorde do João que falo eu.
Falo daquele mendigo que somos pelo menos em matéria de amor, daquele amor que esquecemos de cultivar o qual com tanto dinheiro, ninguém jamais coroou.