Carol 13/11/2016O livro mais sombrio e estranho de DostoiévskiNotas do Subsolo é dividido em duas partes, nele, um funcionário público misantropo, nunca nomeado, escreve suas memórias como que para expiar os pecados.
Inicialmente, o homem do subsolo explica suas crenças e ideias filosóficas. Instruído e culto, ataca os pensamentos político, filosófico e religioso da época. Em especial, o utilitarismo socialista, em voga na década de 1860.
"Pois, se a vontade um dia coincidir completamente com a razão, nós iremos raciocinar e não querer, propriamente, porque é impossível, por exemplo, conservando a razão, desejar coisas sem sentido, indo, desse modo, conscientemente contra a razão e desejando algo que nos prejudique..." - Pág. 37
Chega a citar a metáfora do Palácio de Cristal, de Tchernichévski: o ideal de sociedade socialista do futuro. Critica também o tratado "Sobre o sublime e o belo", de Kant, muito popular na Rússia. Para o homem do subsolo, o ser humano é um ser irracional, rebelde e não cooperativo.
Na segunda metade do livro, temos a descrição do período em que o narrador viveu na "superfície". Os acontecimentos narrados meio que explicam o porquê de ele ter esses pensamentos. É impossível ficar indiferente, aqui. O protagonista é amargurado, auto depreciativo, niilista. Não sente empatia por ninguém, se humilha e destrata quem lhe estende a mão. Degradante.
No entanto, o que é estranho e fruto da genialidade do autor: é singular perceber que, de uma maneira ou de outra, você já pensou como o homem do subsolo. É um espelho e é desconcertante olhar para a imagem refletida nele.
Dostoiévski foi um escritor fantástico, à frente de seu tempo, extremamente original. Notas do Subsolo é um livro difícil, mas recompensador. Até porque quando que Dostoiévski foi uma leitura fácil?