Notas do subsolo

Notas do subsolo Fiódor Dostoiévski




Resenhas - Notas do Subsolo


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@aprendilendo_ 25/08/2020

Resenha de Notas do Subsolo
O chamado subsolo é a camada logo abaixo da terra, talvez, como forma de metáfora, quando alguém vai em direção a tal lugar, geralmente significa um afastamento total da sociedade, quem sabe de si mesmo. Nesse contexto, perguntamo-nos, quais motivos fariam alguém isolar-se de tal maneira? Publicado em 1864 e escrito pelo autor russo, Fiódor Dostoiévski, Notas do Subsolo trata-se de uma narrativa em primeira pessoa a qual é dividida em duas partes e de forma indireta, responde a nossa pergunta.

Falando sobre o primeiro ato. A obra começa desenvolvendo-se em uma espécie de ensaio no qual, de forma direta e sarcástica, o personagem argumenta com seus adversários (o próprio leitor e suas possíveis ponderações diante de cada afirmação) sobre temas diversos, principalmente pertinentes à liberdade. Nesse sentido, o livro, apesar de propor noções instigantes, começa, de certa forma monótono e um tanto quanto sem sentido, como se tivéssemos caído de cabeça em uma roda de debates. Apesar disso, tal momento é importante para darmos início ao entendimento da personalidade deturpada do protagonista.

No segundo pedaço, no entanto, a obra toma corpo e parte para memórias sobre o passado do narrador. Se na primeira parte já podíamos ver seus rancores, na segunda entendemos perfeitamente as nuances da construção de tal homem perturbado e imergimos em seus traumas. Agora, com uma narrativa mais fluída e já com a introdução dos diálogos tão bem estabelecidos por Dostoiévski, o livro desenvolve-se de maneira muito mais aprazível, apesar de perturbadora. Aqui sentimos um incomodo, a prisão do sujeito principal às suas próprias disforias passa a ser, de tão real, irritante, afinal, os personagens mais difíceis são igualmente os mais humanos e nesse sentido, o autor mais uma vez conseguiu reproduzir a imagem de alguém atormentado por uma vida sem sentido e pela constante fuga de seus sentimentos.

Durante a obra, o protagonista faz uma pergunta poderosa, “é possível alguém ser inteiramente sincero consigo mesmo e não temer toda a verdade? ”. No fim, percebemos algo perturbador. Mesmo sabendo a resposta para essa pergunta (um retumbante não), ele preferiu não enfrentá-la, escolheu esconder-se e negar o constrangimento de admitir precisar de pessoas, de ser carente e sentir-se sozinho, tendo, como consequência, seu afastamento da sociedade (não se trata de spoiler). Notas do subsolo é um livro dolorido, enxugado por um personagem excessivamente dramático e neurótico o qual pode tirar do sério boa parte de seus leitores e mais deixa-los impacientes do que devidamente satisfeitos, apesar disso, a obra traz um icônico estudo de personagem o qual consegue, facilmente, mudar a forma de ver algumas de nossas atitudes (se levadas ao extremo). Uma leitura não tão agradável, mas uma reflexão extraordinária.

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Lamony 26/08/2020minha estante
Sua resenha é incrível! Acho que estou apaixonada por você ??... É brincadeira ??


@aprendilendo_ 26/08/2020minha estante
Hahaha. Muito obrigado!!


almeidalewis 27/08/2020minha estante
Tá vendo Pedro que não é demagogia minha ! Suas resenhas são ótimas ???????.


@aprendilendo_ 27/08/2020minha estante
hahaha. Sempre bom ver seus comentários, amigo, desde o inicio um incentivador, muito obrigado por tudo!


almeidalewis 27/08/2020minha estante
Devemos dá honra???? a quem merece honra ! E a sua é muito merecida meu amigo literário ( virtual ).um abraço fraternal ?


@aprendilendo_ 27/08/2020minha estante
Obrigado! outro abraço pra você, Deus te abençoe.


Isabela Comenta 28/08/2020minha estante
Credo, esses livros são necessários mas tão tristes! Ótima resenha, mesmo notando a clara melancolia do livro...me fez ter vontade de lê-lo.


@aprendilendo_ 29/08/2020minha estante
Muito obrigado!! É aquilo, se você quiser ter uma boa reflexão sobre si e os outros, leia sem sombra de dúvidas, se quiser passar o tempo, nem chegue perto, porque o protagonista irrita viu...


Praxedes 01/09/2020minha estante
Essa obra faz parte da minha atual lista de leituras, ao ler essa resenha só tive mais certeza que o livro deve ser sensacional.


@aprendilendo_ 02/09/2020minha estante
Recomendo bastante a leitura como forma de reflexão, apesar de não cair no meu gosto como algo agradável, foi de grande ajuda pra várias outras conclusões muito pertinentes.


Odirlei.Marques 25/11/2020minha estante
Dentro disso tudo que vc citou, nessa obra tem uma das mais belas narrativas do que é o amor (ou seria paixão?) já escrita. O que me surpreendeu ainda mais é, ao que parece, o personagem não viveu nada do que ele conta sobre isso.


Caroline1686 08/05/2024minha estante
ótimo!!! Achei que eu estava perturbada enquanto estava lendo as primeiras páginas, mas com essa resenha entendi a leitura como um todo, vou prosseguir...




Henrique_ 12/09/2017

Denso
Denso é a palavra que mais bem expressa minha impressão a respeito deste livro. Apesar de curto, sua leitura não é trivial. A primeira parte é um baque pela carga de amargura e pessimismo do narrador-personagem. A segunda, mais fácil de ser lida, leva o leitor a compreender um pouco da vida no subsolo. Observei uma série de referências às mais diversas áreas da política, filosofia, história, sociedade. Para aqueles que se interessam por literatura em seu mais alto grau de sofisticação, essa obra é um deleite. Dentre as obras dele que li, só não supera "Os irmãos Karamázov".
Eduardo 12/09/2017minha estante
Já quero! Hahaha


Henrique_ 13/09/2017minha estante
Eduardo, acho que você se amarrar neste livro.


Eduardo 13/09/2017minha estante
Também acho, Henrique :D
Quando montei minha meta pra esse ano, tava pensando em colocar esse no lugar de Os irmãos Karamázov, mas acho que, se a vida colaborar, leio os dois ainda em 2017 haha




Gustavo 29/10/2019

É melhor uma felicidade barata ou um sofrimento elevado?
É melhor uma felicidade barata ou um sofrimento elevado?

Esta pergunta feita ao final desta sublime novela de Fiódor Dostoiévski, cuja citação pode ser encontrada dentre aquelas exibidas no aplicativo do Skoob, leva-nos a refletir sobre o peso da consciência e do conhecimento em si. É este o tema de Notas do Subsolo, uma espécie de memorial escrito por um narrador sem nome e dividido em duas partes. Na primeira parte temos uma espécie de ensaio filosófico onde o narrador discorre sobre a questão da consciência e do conhecimento e como isso afeta o homem a ponto de torná-lo covarde e inerte por saber e pensar demais. Já na segunda parte da obra temos o relato de uma experiência vivida pelo narrador durante os seus vinte anos de idade, tratando-se basicamente de uma aplicação prática da teoria desenvolvida na primeira parte da novela.

O narrador é o caso mais curioso dessa obra. Por se tratar de uma espécie de memorial, não podemos confiar plenamente nos seus relatos. Entretanto, o texto nos apresenta boas evidências da sua personalidade paradoxal e complexa. Por um lado ele esnoba as outras pessoas, se acha intelectualmente superior a elas e despreza qualquer interação social com elas, mas por outro lado ele as inveja, se acha socialmente inferior e anseia por contato humano. Ele chega até mesmo ao ponto de sentir prazer no sofrimento, ansiando por ser tratado como um inseto e maltratado; mas, ao mesmo tempo, ele trata os outros como insetos e os maltrata, tenta impor sua vontade e jura vingança, nutrindo ressentimento por qualquer um que ofender ou contrariá-lo de alguma forma. São esses os produtos da hiperconsciência do narrador, o qual é capaz de enxergar uma questão por todos os ângulos, mas que, em razão disso, é incapaz de tomar qualquer posição ou mesmo de agir. É esta, enfim, a complexa personagem sobre a qual nos debruçamos em Notas do Subsolo, uma novela percursora do Existencialismo.

Não há quem não possa se simpatizar com o Homem do Subsolo. Ele é, como apontado ao final da obra, um verdadeiro anti-herói: uma pessoa cheia de defeitos, com traços de personalidade negativos, mas que apresenta algumas poucas qualidades ou pelo menos uma que o redime aos nossos olhos.

Assim, voltamos à pergunta: é melhor uma felicidade barata ou um sofrimento elevado? Onde a felicidade barata é o mesmo que ser "abençoado pela ignorância", mas que ao menos se pode desfrutar e enxergar com simplicidade a "vida viva", e o sofrimento elevado é o resultado da consciência, do saber elevado, da racionalização; é a consequência de poder enxergar as coisas tal como elas são e, assim, não poder encontrar consolo, não saber enxergar propriamente o que é bom e o que é mau e, assim, tornar-se inerte.

É uma novela comovente e extremamente atual, pois ainda vivemos em tempos onde as pessoas se sentem tal como o narrador da obra, ou seja, completamente perdidos dentro de suas cabeças.

Notas do Subsolo serviu para mim, enfim, como uma excelente introdução à obra de Dostoiévski. Fiquei impressionado com a riqueza de sua prosa e de suas personagens, bem como das reflexões daí oriundas.

Leitura recomendadíssima a todos os leitores!
Luci Eclipsada 18/11/2019minha estante
Está entre os melhores livros que já li na vida!


Gustavo 20/11/2019minha estante
Entrou na minha lista também!


Luci Eclipsada 20/11/2019minha estante
S2




Tangerina 13/12/2021

Sendo bem sincera, estou muito pomposa, orgulhosa, cheia de mim por ter saído da ressaca de vez e com um livro como esse.

Muito me segurei pra não grifar quase tudo na primeira parte, e na segunda, eu simplesmente mergulhei.
Ousado, amargo, e absurdamente expressivo, pra mim, Dostoiévski se mostrou mais uma vez brilhante nesta obra.

Muitas reflexões, diria que essa experiência fora equivalente a uma sessão de terapia.
Um banho frio para o psicológico de alguns, em contrapartida, surge como um verdadeiro clarão para outros.
Michela Wakami 13/12/2021minha estante
Belíssima resenha, arrasou, amore!???????


Tangerina 13/12/2021minha estante
Obrigada, meu bem! ??? (estava com saudades de você, hahaha)


Michela Wakami 13/12/2021minha estante
Por nada,minha flor!?????
Também estava com saudades de você!????




Ramiro.ag 01/12/2022

"Quem sabe o homem ame não apenas o bem-estar? Quem sabe ele ame igualmente o sofrimento?"
Esse é o meu livro favorito, já reli diversas vezes, e toda vez que leio me identifico mais (e não me orgulho kkk).
O narrador é uma pessoa amargurada, viciado em seu próprio sofrimento. A primeira parte é um conjunto de notas ácidas e sarcásticas acerca do ser humano, suas ações e sua consciência, inclusive, deixando a entender que se sente superior a tudo e todos, embora sua condição - física e psicológica - miserável.

"Asseguro-lhes que ter uma consciência exagerada é uma doença, uma verdadeira e completa doença"

Extremamente rancoroso, não consegue perdoar e esquecer nada, e se martiriza pelas coisas mais mínimas (mesmo que não passe de fantasias que ele mesmo criou), no entanto, não possui nenhum poder de ação, se destruindo cada vez mais, e de propósito.
O narrador fica completamente imerso em seu subsolo, e passa a maior parte do tempo fantasiando e vivendo em suas ideias, e quando se vê no "real" acaba não sabendo como lidar, e nem como colocar suas ideias para fora. E mesmo em constante sofrimento e angústia, se recusa a se "rebaixar", ceder ou relevar qualquer coisa que ache que não é digna de si, e ora culpa os elementos exteriores por sua atual situação, ora se vê consciente de sua própria hostilidade.

Ao meu ver, é um indivíduo que propositalmente cultiva a própria angústia, e não se vê vivendo sem ela.

"É melhor uma felicidade barata ou um sofrimento elevado? Então, o que é melhor?
grazi 03/12/2022minha estante
tá na minha lista, quero muito ler!!


Ramiro.ag 03/12/2022minha estante
Recomendo muito




Carol 13/11/2016

O livro mais sombrio e estranho de Dostoiévski
Notas do Subsolo é dividido em duas partes, nele, um funcionário público misantropo, nunca nomeado, escreve suas memórias como que para expiar os pecados.

Inicialmente, o homem do subsolo explica suas crenças e ideias filosóficas. Instruído e culto, ataca os pensamentos político, filosófico e religioso da época. Em especial, o utilitarismo socialista, em voga na década de 1860.

"Pois, se a vontade um dia coincidir completamente com a razão, nós iremos raciocinar e não querer, propriamente, porque é impossível, por exemplo, conservando a razão, desejar coisas sem sentido, indo, desse modo, conscientemente contra a razão e desejando algo que nos prejudique..." - Pág. 37

Chega a citar a metáfora do Palácio de Cristal, de Tchernichévski: o ideal de sociedade socialista do futuro. Critica também o tratado "Sobre o sublime e o belo", de Kant, muito popular na Rússia. Para o homem do subsolo, o ser humano é um ser irracional, rebelde e não cooperativo.

Na segunda metade do livro, temos a descrição do período em que o narrador viveu na "superfície". Os acontecimentos narrados meio que explicam o porquê de ele ter esses pensamentos. É impossível ficar indiferente, aqui. O protagonista é amargurado, auto depreciativo, niilista. Não sente empatia por ninguém, se humilha e destrata quem lhe estende a mão. Degradante.

No entanto, o que é estranho e fruto da genialidade do autor: é singular perceber que, de uma maneira ou de outra, você já pensou como o homem do subsolo. É um espelho e é desconcertante olhar para a imagem refletida nele.

Dostoiévski foi um escritor fantástico, à frente de seu tempo, extremamente original. Notas do Subsolo é um livro difícil, mas recompensador. Até porque quando que Dostoiévski foi uma leitura fácil?
Natalie Lagedo 13/11/2016minha estante
Amo este livro! Foi uma das melhores leituras deste ano. O subsolo de Dostoiévski sai da história e passa pra cada um dos leitores. É incrível.


Carol 13/11/2016minha estante
Gostei muito, Natalie. É um bom início para quem quer começar a ler Dostoiévski.




Ricardo 31/03/2013

Sério, tirando pequenos detalhes,esse personagem podia perfeitamente ter o meu nome!Terminei de ler e me senti até zonzo do tanto que o livro me pensar,e o mais importante:me identifiquei MUITO com o personagem central.Acho que pela primeira vez me identifico tanto com um personagem.Obra formidável!
Lela 13/04/2014minha estante
O fato de ter se identificado com o personagem foi bom ou ruim? Aprendeste algo com ele?


Ricardo 13/04/2014minha estante
Sobre ter me identificado com o personagem,foi bom, como geralmente penso ser bom quando algo reflete a sua personalidade.Dá aquela sensação passageira e boa de ''Ah, não tô sozinho no mundo!''. Sobre aprender algo...Acho que me fez ver o quão mal as coisas estão comigo, e que isso pode durar mais tempo do que eu imagine/queira.




Marcos 03/12/2009

Alguns spoilers no final
Este é um livro um pouco diferente dos outros do autor, dividido em duas partes.

A primeira é um monólogo de um sujeito que desenvolve suas próprias teorias sobre a pessoa, como ser individual e seu papel numa sociedade, que muitas vezes não corresponde ao seu valor. Esta narrativa, por incrível que pareça, se destaca pelo sarcasmo empregado pelo autor.

Desenvolve, neste ínterim, uma teoria interessante, a de que o ser humano é imprevisível. Que todas as tentativas de descrevê-lo com modelos prontos é inútil. Sugere, indiretamente, o que eu também concordo, que a educação voltada para dizer aquilo que um homem deve ou não fazer é insuficiente, pois ignora a vontade. Uma pessoa pode simplesmente rejeitar algo vantajoso apenas para se afirmar como um ser único, dotado de vontade própria.

Outra teoria é a oposição entre práticos e planejadores, embora não tenha utilizado esta nomenclatura. Ele diz que o homem de consciência pensa demais e que, portanto, tem dificuldade de agir, enquanto os demais apenas executam com facilidade, sem questionar e nada pode pará-los. E estes últimos parecem ter um valor maior na sociedade em que vivia, causando até uma certa inveja.

Ainda falando sobre o homem de consciência, culto e inteligente, ele ressalta como este é um peixe fora d'agua em sua sociedade. Pois não se enquadra em estereótipos sociais, possui mais dificuldade de ser aceito. Cita o exemplo de que até o preguiçoso teria mais valor do que o homem de consciência, pois teria um ideal a que se agarrar e por ele lutar. Teria o rótulo do preguiçoso e se esforçaria para mantê-lo. Tudo carregado de uma dose de sarcasmo, é claro.

A segunda parte é uma estorinha que nada mais é do que um estudo de casos da teoria abordada na primeira parte. Mostra a história de um homem angustiado, culto e inteligente, mas sem aplicação prática no seu tempo. Sente inveja de seus ex-amigos de infância, pois estes possuem seu próprio grupo, se entendem, enquanto ele acha aquilo tudo muito fútil, um modelo de felicidade que não condiz com aquilo que ele espera. Entretanto, a necessidade de se sentir aceito é maior e acaba se metendo numa grande confusão por conta disso, ao entrar "de penetra" num jantar que estes ex-amigos prepararam pra um convidado.

Ainda mais angustiado, perdido, arrependido pelas besteiras cometidas, acaba conhecendo Liza, uma mulher que parecia diferente das demais pessoas. Após um breve jogo psicológico entre os dois, o personagem se surpreende ao ver que foi finalmente compreendido. Porém, sua tormenta é tão grande que seu espírito ainda não está pronto para a aceitação. Sua baixa auto-estima o torna incapaz de amá-la e outros sentimentos se misturam. Mais uma vez, o personagem, que termina esta estória sem revelar seu nome, é incapaz de se inserir na sociedade, de controlar suas emoções e agir corretamente. O anonimato serve para mostrar que é a estória de muitos outros anônimos, que se repete todos os dias.
Thomaz.Filho 10/02/2021minha estante
O Desconhecido parece um Raskolnikov amargurado pós Crime e Castigo




Leo Ramos 14/08/2010

Já foi chamado, alguma vez, de “personagem Dostoievskiano”? Não? Eu também não. O problema em exclamar tal acusação é que 90% das pessoas não entenderiam. Não num país onde a população desconhece a própria literatura, ainda mais a de um país do outro lado do mundo. Mas caso seja chamado de “Dostoievskiano”, você necessitará ler esse conto magnífico de Fiódor N. Dostoiévski para entender a fundo o ultraje.
“Notas do Subsolo” causa desconfortos ao ser lido. Tenha isso em mente ao sentar-se numa poltrona confortável com um drinque de Uísque para acompanhar a leitura. Causa muitos desconfortos.
O livro tem início com o monólogo do narrador-personagem. Há muito sarcasmo permeando seus pensamentos. Ele desenvolve uma duvidosa teoria sobre a imprevisibilidade do homem. A volúpia é constantemente destacada como uma espécie de objetivo a ser alcançado, mesmo após a humilhação sofrida, a dor da traição e tudo mais que pode nos arremessar na frustração. Há uma clara referência a Schopenhauer no monólogo (quem gosta de Augusto dos Anjos, como eu, vai adorar esse monólogo) quando é citada a vontade como motor que impulsiona o homem a sua própria perdição.
Nos primeiros parágrafos o leitor tem uma clara noção da psicologia do personagem. Ele se considera uma pessoa inteligente, um homem acima de todos, porém injustiçado pela sociedade. Identifica-se como portador de um mal hepático desconhecido que o causa grandes desconfortos.
Após a exposição de suas idéias sobre os valores humanos, o personagem conta duas histórias, ambas ocorridas há muitos anos. A primeira diz respeito a sua obsessão por um oficial do exército que esbarrara em si com total indiferença. A outra diz respeito a sua obsessão por uma prostituta que aspira por uma vida diferente (alguém que ele acaba por revelar seus anseios).
O panteão de personagens de Dostoievski pende, geralmente, em dois pólos: Os extremamente frustrados e os vadios. Desconfio que o personagem-narrador de Notas do Subsolo seja o elo entre o misantropismo de Raskolnikov, a arrogância acadêmica de Ivan Karamázov e, quem sabe, a estupidez do Príncipe Michkin.
Notas do Subsolo trata-se do conto mais sofrível de Dostoievski. Sente-se revolta, tristeza, frustração, confusão, compaixão pelas atitudes do personagem-narrador. Uma mixórdia de sentimentos incompletos que fazem desse conto, um dos melhores e mais bem elaborados contos da literatura Russa, quiçá universal.
Julio.Argibay 23/01/2020minha estante
Exatamente.




Giselle Petrelli ð¤ 31/07/2021

O que tem escrito na sua nota?
Esse está no meu top.
Não tem como não se descobrir com "notas". Rendeu e rende vários diálogos com o meu eu. Não sei pq... mas eu tinha a sensação o tempo inteiro... sou eu ou Dostô tá falando desse outro aí...rsrs Essa para mim foi a maior magia de ler esse livro.
Você ñ sai com dúvidas de que de fato é um bosta.
O confronto é certo. Por dentro é mais "fácil " admitir certos pensamentos e condutas, e outros ainda que íntimos, vc chacoalha a cabeça com a intenção de lançá-los fora de tão difíceis que são de admití-los. A história busca uma conexão. A primeira parte ñ é tão fácil de se passar, mas é quando chegamos na segunda que entendemos o que lá foi escrito.
Cleber 31/07/2021minha estante
Estou gostando também Giselle e concordo com a sua resenha :)




barbaradoquorthon 06/02/2020

Nesse livro dá pra perceber que o personagem dava indícios de ansiedade forte, mas doenças psiquiátricas começaram a serem relevantes apenas no final do século XX, o livro foi escrito no século XIX. Me identifiquei com várias partes do livro, até anotei algumas passagens para guardar comigo pela vida, porque posso dizer: só um ansioso entende outro, e esse personagem é a minha ansiedade aflorada 24/7. É basicamente fazer ou dizer algo e se arrepender logo depois, além de não conseguir encarar as consequências de frente e ter que mentir para justificar as ações que você nem mesmo entende.
É meu primeiro contato com Dostoiévski e gostei bastante!
Renata 22/02/2020minha estante
Vou ler o livro só por causa do seu comentário!




Jakeline.Barros 02/08/2016

Marcante
Não sou a mesma pessoa depois que conheci esse subsolo.
Arrebatador, denso, forte, inigualável, esplêndido, e até arrancou-me risadas onde quer que eu estivesse lendo.
Dostoiévski, por enquanto, ganhou o título de melhor de todos os escritores, para mim.
Escrever essas notas de verdade íntima, com certeza, foi de inquestionável coragem e sobretudo crédito no leitor. Lê-las foi desafiar os limites da minha compreensão do que há de mais profundo no ser humano.
Dostô era incrivelmente puro.
Amei com espanto e risos.
Jakeline.Barros 03/08/2016minha estante
Acho que isso não é bem uma resenha ?




Carmella0 16/11/2021

Um retrato absolutamente perfeito de um homem amargurado e solitário (e escorpiano), e suas memórias igualmente miseráveis. Me identifiquei com o protagonista em um nível absurdo. O único defeito é que acaba, mas já estou procurando por mais obras de Dostoiévski.
Alê | @alexandrejjr 16/11/2021minha estante
Indico "Gente pobre", que tem uma pegada parecida com esse livro!




Lucius 28/01/2014

O inferno são os outros... e nós mesmos
Uma história depressiva, com um personagem que tem ao mesmo tempo delírios de grandeza e complexo de inferioridade, que vive tentando causar boa impressão aos outros e sempre que não consegue, se consola com a ideia de que é superior a todos.
O livro me faz lembrar como a humildade e a autoconfiança são importantes tanto para enxergar as qualidades e defeitos de si mesmo e das pessoas, quanto pra viver sem depender dos aplausos de uma plateia que não está lá.
Lanna Victoria 29/12/2017minha estante
Pq 2 estrelas?




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