daniel_ 01/10/2023
Leitura fluida e esclarecedor
O que mais me chamou a atenção nesse livro foi como o Sowell enxerga tantas coisas sutis que ocorrem atualmente e ocorreram no último século no ocidente.
Sowell explica, basicamente, qual a função dos intelectuais na sociedade atual. Define que intelectuais são pessoas que trabalham com ideias, e que eles possuem atualmente a intelligentsia, um aparato de pessoas – jornalistas, burocratas, políticos, professores, assistentes sociais – que as põem em prática.
Ele também nos apresenta o conceito do “intelectual ungido”, que são os intelectuais que não se veem simplesmente como uma espécie particular de elite, mas como portadores da missão de guiar os outros para a realização de uma vida melhor. Essa é a visão predominante que estrutura o pensamento da intelligentsia. Os intelectuais ungidos acreditam que existem “problemas” criados pelas instituições existentes, e que cabem a eles o papel de resolvê-los. O que contrapõe a visão do intelectual ungido é a visão trágica, que vê as restrições sociais como simples meios imperfeitos para lidar com os defeitos e restrições dos seres humanos.
O livro é uma grande crítica aos exageros e a falta de responsabilidade dos intelectuais modernos pelas coisas ditas e escritas. A ação dos intelectuais é bastante discutida aqui. O cerne da crítica é questionar por que muitos intelectuais tendem a opinar sobre assuntos que ultrapassam os limites de suas competências. Sowell entende que por não sofrerem (ou pouco sofrerem) restrições pelas suas ações, muitos intelectuais agem de maneira irresponsável, sem ao menos prestar contas pelo que dizem e/ou escrevem. Além disso, a intelligentsia é amparada ou pelos cargos nas instituições em que trabalham ou por grupos que os sustentam financeiramente, desde que estejam segundo as visões do grupo. O autor cita diversos exemplos desse tipo de imprudência ao longo do último século, como o pacifismo militante na França no período entreguerras, que desarmou moral e militarmente a nação, tornando-a presa fácil dos alemães, quando os mesmos intelectuais franceses que pediam pela paz e pelo desarmamento da França se esqueceram de cobrar, ou ao menos analisar de maneira sensata, a Alemanha nazista, que no mesmo período se armava para a guerra (o mesmo aconteceu com a Grã-Bretanha). O resultado é que a França acabou sendo invadida em 6 semanas, e esses mesmos intelectuais ou fugiram, ou foram mortos pelos invasores.
Thomas Sowell não se limita a nos entregar percepções interessantes. O livro é uma forte crítica. Os intelectuais têm uma grande responsabilidade. Eles, querendo ou não, exercem uma grande influência sobre as massas – nas escolas, nas faculdades, na mídia, etc. O que Sowell pede é que essa classe, da qual ele faz parte, pare de formar cruzadas em busca de hegemonia cultural, moral e ideológica com o intuito de criar realidades paralelas, pois isso gera uma força capaz de desintegrar sociedades, produzindo apenas morte e destruição.
O livro discute o papel dos intelectuais em diversas áreas, como política, economia, segurança nacional, guerras, com um excelente capítulo sobre justiça, onde faz críticas sobre o ativismo judicial e as consequências ao se ultrapassar a mera interpretação das leis para a implementação de políticas sociais, e nos apresenta o conceito de autocontenção judicial, que é quando um juiz exerce a justiça conforme as leis criadas por terceiros (o legislativo, por exemplo).