Resenhas - Expurgo

[by Me] 15/11/2023

Literalmente, Expurgo
É um leitura, totalmente, inesperada. As vezes, me pego pensando nela. Fazer uma resenha desse livro é um ponto difícil para mim. Acredito que será mais fácil debate-lo com quem já leu.

Dios 182 09/05/2022

Uma leitura bem interessante.
Em diferentes épocas, ESCRAVIDÃO SEXUAL e a OPRESSÃO durante a OCUPAÇÃO SOVIÉTICA DA ESTÔNIA são os assuntos que unem as protagonistas Zara e Aliide.

Em 1992, Aliide Truu vive isolada em uma casa em meio a vasta vegetação, onde cultiva ervas e produz potes de conserva. Certo dia ela se depara com uma jovem desmaiada em seu quintal, e é assim que começa um jogo de desconfiança em que passado e presente são narrados em uma trama que revela quais os laços que unem estas duas mulheres, que sofreram de diferentes, mas ao mesmo tempo de igual forma.

Talvez tenha me faltado um pouco (eu disse um pouco?), ok, bastante (bastante ?!), tudo bem, me faltou muito conhecimento histórico para aproveitar melhor a leitura. Enquanto no presente, Zara, aterrorizada com os horrores a que foi submetida após ter sido vítima de estupro e escravidão sexual pelos russos, foge de seus sequestradores, a história de Aliide se passa totalmente na década de 1940 a 1950, quando a Estônia foi primeiramente tomada pela Alemanha nazista e posteriormente ocupada pela União Soviética. Por mais que a autora consiga imergir o leitor na época descrita, acho que uma atenção maior nas aulas de história teriam feito uma grande diferença.

Uma coisa que me incomodou um pouco é que quando o passado de Aliide começa a ser desmembrado mais a fundo, a história passa de um suspense histórico para algo que lembra uma junção de NOVELAS MEXICANAS com "JOJO'S BIZARRE ADVENTURE". Eu gosto de novelas mexicanas e Jojo's, mas acho que não combinou com o livro. Na minha opinião, fica a leve sensação de que o passado de Aliide não coincide com a mulher que ela se tornou. É a mesma sensação que tive com a EVELYN HUGO (Os Sete Maridos de Evelyn Hugo).

São capítulos curtos e fáceis de ler, o que faz suas 348 páginas parecerem bem menos. A narrativa é bem fluida, mas para meu gosto pessoal, as vezes ela se perde em algumas descrições, dando inúmeras metáforas seguidas para mostrar um sentimento. É intencional, para dar ênfase, mas três, quatro linhas dizer que alguém estava com medo acaba irritando.

Uma mosca, como a que é ilustrada na capa e na contracapa, também aparece em praticamente todos os capítulos. É como aquele episódio de "BREAKING BAD", se você assistiu sabe do que estou falando.

No geral, é um livro bem pesado. Com cenas de estupro e tortura que no pouco que são descritas já causam revolta e repulsa, sem a autora precisar entrar em mais detalhes. Mas também de superação, luta e busca por dignidade.

Curiosidade (1): A trama foi originalmente escrita como uma peça de teatro, e só depois adaptada para um livro. A autora fez questão de mudar o final.

Curiosidade (2): A palavra "Expurgo" é sinônimo de "limpeza" e remete a deportação de estonianos para a Sibéria sob o regime de Stalin, mas também pode significar "purificação", fazendo alusão ao ato de se redimir por algo.

Curiosidade (3): Também existe uma adaptação de filme, lançado em 2012 e tão elogiado quanto seu material de origem. Pretendo assistir o mais breve possível.

Foi meu primeiro livro da autora e já tenho outros na estante. Foi uma leitura interessante, uma ficção com os dois pés em uma realidade cruel, diferente de tudo o que já li.

Não sei se recomendo para uma leitura casual, mas certamente para quem tiver interesse em alguns dos temas propostos.

Sofia.Riechi 28/06/2021

Um passado recente
A história de Zara e Alinii possui todos os elementos de uma literatura de qualidade.
Detalhista, a autora descreve com maestria os efeitos da guerra, da violência e da fome sobre um povo reprimido e esquecido.
Com maestria, o livro conta uma história fantástica, conturbada e violenta.
Uma leitura necessária.

Alessandra.Vollman 06/01/2021

Uma surpresa
Expurgo foi um livro que me atraiu pela capa, primeiro que li da autora e sobre a história estoniana. Como não conheço muito da história da Estônia, para mim tudo foi uma descoberta de um território novo, uma viagem. A mosca na capa me chamou muita atenção, ao longo de todos os capítulos aparecem moscas, seja no presente na casa de Aliide, ou no passado, nas lembranças dos personagens.

O fluxo temporal é instável, dividido entre o presente e diversos meses e anos passados. Zara relembra como entrou para o mercado sexual, e as histórias que a avô contava sobre a Estônia, já Aliide relembra sua juventude na Estônia soviética e nas escolhas que teve para sua vida, todas de forma muito racional.

Hans Pekk é um personagem intrigante, o conhecer pelos olhos de Aliide e através de fragmentos de seu diário, pareceu ser o oposto de Aliide em algumas situações, sendo movido apenas pela emoção.

A narração é direta, a autora sempre vai direto ao ponto, os capítulos são curtos e rápidos para ler, é um livro para ser apreciado e refletido aos poucos se quiser entrar na cabeça dos personagens (tem muito detalhe psicológico) ou para ler em poucos dias e aproveitar a história em si.

DLL21 - Um livro com uma palavra no título

GilbertoOrtegaJr 28/03/2016

Expurgo Sofi Oksanen
Uma coisa que eu nunca havia pensado é que alguns países da Europa também já foram tomados ou invadidos por outros países, mas não como colônia. E este é o caso da Estônia, que em sua história recente, entre 1940 e 1991, ora foi ocupada por tropas nazistas e ora pela União soviética. Parte desta história é retratada, dentre vários outros temas, no livro Expurgo da escritora finlandesa Sofi Oksanen.

Em 1992 Aliide vive sozinha próxima a uma floresta na Estônia, quando um dia pela manhã ela encontra em seu jardim uma jovem, do qual ela não sabe nada nem conhece. A jovem é a russa Zara, que fugiu de Berlin onde ela era uma escrava sexual, e aparentemente é um mero acaso ela ter chegado a casa de Aliide. Aliide a acolhe, e aos poucos elas vão construindo um relacionamento baseado em desconfiança mutua, enquanto Zara está preocupada com seu presente, em Aliide esta situação a fará lembrar do seu passado.

O passado de Aliide está ligado a vários momentos da história e política recente da Estônia, e justamente por isso a história contém vários flashes backs, que começam em 1936 até chegar ao momento presente, mostrando a história de Aliide, sua irmã e seu cunhado, cunhado este pelo qual Aliide é apaixonada e sente profunda inveja da irmã. Já no caso da Zara a história só regride um ano, em 1991 quando ela é pega em uma armadilha para garotas que querem tentar uma vida melhor, mas acabam se tornando escravas sexuais.

Uma das primeiras suposições que o leitor pode fazer é a seguinte; se esta trama tem suas raízes em 1936 e chega até o ano de 1992 ela será longa e minuciosa. Mas esta suposição se mostra errônea Sofi Oksanen escolheu apenas destacar cenas que serão de momento importantes e decisivos para o destino dos seus personagens, nestas mesmas cenas tive vários vislumbres da história da Estônia e de uma gama de situações e ações que seus habitantes tiveram que se sujeitar para não serem perseguidos ora pelo nazismo ora pelos soviéticos.

Nestes mesmos flashes backs da história do passado de Aliide se vai retornando a seu presente, para uma espécie de acerto de contas com seus erros e escolhas, e por mais que Aliide tenha sofrido fica claro que suas escolhas foram feitas de forma conscientes e impulsionadas pela inveja, egoísmo e necessidade de autopreservação, que acaba interferindo diretamente na vida de sua irmã, cunhado e sobrinha, nem mesmo o marido de Aliide Martin é poupado de suas manipulações.

Em Expurgo Sofi Oksanen consegue criar um livro ambíguo, ele pode ser um livro que o leitor lê aos poucos e vai refletindo sobre o percurso que a história vai seguindo, ou simplesmente pode sentar e desfrutar de uma boa história muito bem contada, que abre ao leitor um leque de temas que vão desde a ocupação da Estônia, até tráfico humano e escravidão sexual, e mais do que nunca se transforma em um início muito mais que válido para se conhecer a literatura da Europa oriental, que se depender de Sofi Oksanen seguirá muito bem representada, com uma obra sólida e ao mesmo tempo bela.

site: https://lerateaexaustao.wordpress.com/2016/03/29/expurgo-sofi-oksanen/