Dan 19/05/2021
*ALTOS E BAIXOS NA ILHA DO TESOURO*
Confesso que criei muitas expectativas sobre "A ilha do tesouro" do Sr. Robert Louis Stevenson, pois já havia tido uma experiência inesquecível com "O médico e o monstro". Para a minha tristeza, Stevenson não atingiu a excelência deste último em "A ilha".
Contudo há acertos na obra. Dentre eles, o mais notável é o desenvolvimento do personagem Jim Hawkings, narrador-personagem do livro. Jim, a princípio um garoto fraco e pacato, vai desenvolvendo sua personalidade à medida que enfrenta os desafios impostos pela vida. Assim sendo, as aventuras vividas pelo jovem servem como pano de fundo para o crescimento do menino, a passagem da inocência da infância para a brusca chegada da maturidade.
É justamente esse choque de realidades, o universo infantil versus a hostilidade do mundo adulto, que transforma o protagonista: a covardia cede espaço à coragem, a fraqueza cede à força de caráter, a timidez recua para dar lugar à ousadia; em outras palavras, o menino ,aos poucos, torna-se um "homem de verdade", apesar da pouca idade.
A questão da identidade masculina, das virtudes do homem, é outro ponto bem explorado em "A ilha do tesouro". Isso, por si só, já comprova a importância da leitura deste clássico, visto que vivemos num contexto de desconstrução da masculinidade, no qual quase qualquer expressão de um comportamento tipicamente masculino é tachado de ?machista? ou ?retrógrado?, como se a feminilização do homem (ou sua desvirilização) fosse uma forma de corrigi-lo.
Quanto aos aspectos negativos, aponto um: a irregularidade do ritmo narrativo. Stevenson começa a obra com um ritmo constante, no entanto, do meio para o fim, falha. A narrativa arrasta-se em inúmeras cenas estendidas desnecessariamente, a ponto de tornar a leitura maçante em diversos momentos.
Não é um livro espetacular, mas vale a leitura.