caue 31/07/2024
O lugar da branquitude
Pensando sobre o que eu poderia falar sobre esse livro, eu divaguei bastante sobre a fluidez da escrita, a descrição dos personagens, o sentimento de nostalgia na forma como a história é contada e algumas outras coisas. Mas o que mais me fez refletir foi, definitivamente, a temática.
Mais especificamente a temática da obra sob a ótica de quem a escreveu: uma mulher branca. Nesse aspecto, uma pergunta se instaurou na minha mente do começo ao fim da leitura: qual seria a forma mais adequada de um branco introduzir, ou promover, um debate racial?
Parece uma indagação estúpida, a princípio. Ora, o racismo deve ser debatido por qualquer pessoa, afinal ele deve ser combatido igualmente por qualquer pessoa.
Bom, se é assim, por que sempre que nós, brancos, abrimos a boca pra falar de racismo, o que pode se esperar são as mesmas conclusões de sempre? "Racismo é errado", "A cor da pele não importa", "Precisamos dar voz às pessoas pretas".
Sem querer chegar a uma resposta fácil para a pergunta inicial, o que essa obra fez foi me apresentar uma perspectiva: o lugar da branquitude na luta antirracista talvez precise sair do discurso (sem esgotá-lo, obviamente) e encontrar a exposição, a exemplificação, a ilustração. É o que Harper Lee faz aqui. Nas lentes da pequena Scout, a autora narra diversos dilemas morais que envolvem a questão racial nos estados unidos, desde muito tempo atrás, sob o desenvolvimento dos impactos visíveis (a violência física e o preconceito escrachado, desses que a gente vê em novelas e filmes), mas, principalmente, dos invisíveis (a luta sistemática do povo e da comunidade, os mecanismos de opressão estrutural e a manutenção de todo esse status quo).
Recomendaria, então, a quem deseja um livro bem escrito, mas que faça pensar para além de algo, talvez para além do próprio pensamento e da própria palavra.
A quem deseja agir.