fernandaugusta 27/03/2024O Sol é para todos - @sabe.aquele.livroNo início dos anos 1930, o estado do Alabama e suas pequenas cidades viviam em um marasmo social pós Depressão que se organizava intrinsecamente na manutenção do status divididos em classes: brancos "de berço", brancos pobres e os negros. Sabemos que na sociedade do sul dos EUA predominou uma cultura racista, que lutou contra o norte em uma guerra sangrenta defendendo a escravidão.
E é no pequeno e pacato condado de Maycomb que a família Finch vive há gerações. São conhecidos e respeitados. Atticus Finch é advogado e deputado estadual, pai de duas crianças, Jem e Jean Louise, conhecida por Scout. Jem tem 12 anos, e Scout tem 8, a mãe de ambos já falecida há muitos anos. Atticus os cria com a ajuda de uma cozinheira negra, chamada Calpúrnia, que governa a casa com disciplina e mão de ferro.
Jem e Scout são livres e passam verões tranquilos com o amigo Dill, sempre imaginando brincadeiras e querendo descobrir as peculiaridades de um misterioso vizinho, Boo Radley. Mas uma mudança se insinua na vida das crianças: seu pai foi designado pelo Estado para defender Tom Robinson, um negro, pelo estupro de uma mulher branca. E o conflito social, o debate, as fofocas tornam-se o centro da vida de Maycomb. Afinal, como pode Atticus defender um preto contra uma branca?
Este livro é uma perfeição. Ele me comoveu, me fez rir, me fez chorar, me deu raiva e me fez refletir. Toda a história é relatada pela visão da maravilhosa Scout, uma pequena notável, curiosa, inteligente e muito corajosa. Em dupla com Jem, e com Dill, vemos a realidade de uma infância de brincadeiras inocentes, logo tomada pelo turbilhão de ser a filha do "controverso" Atticus.
Não tenho palavras suficientes para descrever Atticus. De início, parece ausente e desligado da vida dos filhos, mas logo vemos que há mais nele, há tudo em Atticus. Ele brilha na maneira como influencia os filhos, e resplandece no julgamento de Tom. Atticus é daqueles personagens de rara beleza e de extrema coragem, que dá lições importantíssimas em suas falas e ações.
"À medida que for crescendo, vai ver brancos enganando negros todos os dias, mas vou lhe dizer uma coisa e quero que nunca esqueça: sempre que um branco faz esse tipo de coisa com um negro, não importa quem ele seja, quanto dinheiro tenha ou quão distinta seja a família da qual ele vem, esse homem branco não vale nada".
Todos os personagens são uma riqueza, a descrição da organização da vida em Maycomb pelos olhos de Scout é vívida e me senti dentro da historia, envolvida do início ao fim, mesmo com a abordagem de temas espinhosos como racismo, diferenças sociais e injustiça. Harper Lee criou um clássico atemporal que se sustenta em cima de um curioso paradoxo: discutir discriminação pela visão de um personagem infantil com seriedade e sensibilidade.
Tem muito adulto que nunca terá o discernimento que Scout, Jem e seu amigo Dill tiveram. Tem muitas pessoas que nunca vão desenvolver o senso de humanidade de Atticus Finch.
"O Sol é para todos" deveria ser lido por todos mesmo. Do início até seu desfecho, prepare-se para uma leitura inesquecível.