Mathias Vinícius 22/07/2024
Um comentário sobre: O sol também se levanta
Então, Sr. Hemingway, nos encontramos novamente.
Talvez eu gostasse mais deste livro se algo realmente tivesse me dado a impressão de que aquelas coisas haviam acontecido. Parece que o enredo não flui, é como se fosse um lago, todas decisões são uma passagem de um lugar para o outro sem maiores aprofundamentos; são apenas um monte de eventos encadeados que são assim: um pouco sobre o trabalho em uma agência de jornal, andar pelas ruas da Cidade Luz (Paris) em plena efervescência dos anos 20, indo de cafés e bares, ficando bêbados, viajar pela França, discutir, suspirar por uma mulher que juravam ser um homem por várias páginas porque ficam confusos com o nome “Brett”, ir para a Espanha, pescar trutas, tirar um cochilo, ir a algumas touradas, suspirar e reclamar um pouco mais, voltar para Paris.
Basicamente, esse é o enredo do livro, mas será que isso também não é vida? Quando nos damos conta, fazemos isso todos os dias. Não é o meu caso com a bebedeira, porém, andamos do ponto A ao B, acordamos, vamos ao trabalho, cuidamos da casa e dos afazeres pessoais, rimos e choramos. Dormimos. Tudo começa mais uma vez. Talvez seja isso o que esta Geração Perdida — denominação cunhada pela autora Gertrude Stein — representa: “uma geração criada com valores e perspectivas que já não significavam quase nada no mundo do pós-guerra: uma geração perdida. Uma geração que precisava se reencontrar”.
Não faço juízo de valor quanto às atitudes dos personagens Jake Barnes, Lady Brett Ashley e Robert Cohn. Porém, essa era a maneira como eles buscavam alívio, e o local para onde iam dia após dia proporcionava isso. “Quando penso que minha vida vai passando tão depressa e não a vivo realmente […] Não podemos sair de dentro de nós mesmos. Não adianta.” Também vemos que a natureza desempenha um papel crucial, entrelaçando-se com a trama, sobretudo quando o vemos as cenas que passam na Espanha com a Fiesta. A tranquilidade do interior ganha vida nesta parte do texto, como na descrição na pescaria nas montanhas, contudo essa serenidade é contrasta de maneira vívida com a agitação dos festivais e o derramamento de sangue nas touradas. “continuar. Não queriam que o animal fosse morto tão depressa, não queriam que aquilo terminasse, e Romero prosseguia. Encadeava todos os passes, completos, lentos, suaves, regulares. Nenhum truque, nem mistificação. A realização de cada passe nos causava uma dor íntima. E o público não queria que tivesse fim.”
Este foi o primeiro romance publicado por Hemingway, e embora a qualidade de sua prosa, que se tornaria marcante em seus romances “de guerra”, seja evidente, Fiesta parece, de certa forma, experimental. O enredo, porém, é seu ponto fraco. Às vezes, parece vagar sem um propósito claro. Não me arrependo de tê-lo lido, mas, até agora, é meu romance menos favorito de Hemingway.
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