lujin 17/11/2024
?E, afinal, é sempre mais fácil ter medo de algo que você não pode ver.?
Neil Gaiman cria, em Coraline, uma história que mistura inocência infantil com um terror sutil e incômodo, uma jornada que revela como a curiosidade pode ser tanto um impulso para a descoberta quanto um convite ao perigo. Com sua escrita envolvente, Gaiman apresenta um conto sombrio que flerta com o macabro, sem perder a essência do que significa crescer e enfrentar os medos.
A trama gira em torno de Coraline Jones, uma menina inteligente, curiosa e ligeiramente entediada com sua vida comum e com os pais desinteressados. Tudo muda quando ela encontra uma porta em sua nova casa. Através dela, descobre um mundo paralelo, aparentemente idêntico ao seu, mas infinitamente melhor ? até que revela suas garras.
Coraline logo vai descobrir: aquele mundo é apenas um espelho distorcido, onde tudo parece perfeito, mas há algo profundamente errado.
O livro se aprofunda no verdadeiro horror: o desejo de controle disfarçado de amor. Gaiman usa metáforas eficazes para representar as armadilhas da perfeição ilusória, a ideia de que há um preço sombrio a pagar pela fantasia da vida perfeita.
Coraline é uma heroína cativante justamente por não ser perfeita; ela é teimosa, curiosa demais para seu próprio bem, mas também corajosa o suficiente para enfrentar seus medos, especialmente quando percebe que seus pais reais estão em perigo.
A obra ganha quatro estrelas por sua habilidade em capturar o leitor desde o início, com uma narrativa direta e personagens que cativam pela simplicidade. A construção do mundo paralelo é rica e perturbadora, e mesmo nos momentos mais assustadores, Gaiman mantém um tom quase lúdico, que faz com que a leitura se torne irresistível.
No fim, Coraline é um livro o filme alerta dos perigos da negligencia parental. Enquanto os pais ignoram Coraline, existem pessoas mal-intencionadas se aproveitando dessa vulnerabilidade, e eles nem se quer percebem.
A única razão de não dar cinco estrelas está no desfecho, que, embora satisfatório, deixa a sensação de que poderia ter se aprofundado um pouco mais nas consequências emocionais dessa aventura fascinante.