Chamadas telefônicas

Chamadas telefônicas Roberto Bolaño




Resenhas - Chamadas telefônicas


13 encontrados | exibindo 1 a 13


Alê | @alexandrejjr 08/02/2021

O visceral realismo de Bolaño

O primeiro contato com a lenda a gente não esquece. O chileno Roberto Bolaño carrega, para quem não sabe, a alcunha de ser o “último grande escritor” que a América Latina produziu. E não, não digo isso gratuitamente, pois muita gente de peso - e muita gente especializada no assunto - também concorda com essa assertiva.

A escolha do meu primeiro contato com Bolaño seguiu a lógica que aplico com outros escritores de grande porte: começar por livros menores. Por isso, o eleito foi este curtíssimo “Chamadas telefônicas” pois, além de me introduzir ao mito, o livro cumpre outra função importante que é me familiarizar com narrativas breves. E a experiência foi boa.

O livro possui 14 contos divididos em três seções: Chamadas telefônicas, Detetives e Vida de Anne Moore. Posso afirmar que todos, sem exceção, são muito bem escritos. Além disso, a característica comum que dá certa unidade a todos eles pode ser descrita como a busca por um realismo visceral. Você entra nos contos, até nos menos interessantes, porque observa neles uma realidade muito crua, nua mesmo, o que causa uma sensação de identificação, seja em maior ou menor grau. No livro, as breves narrativas lidam com um desses três temas principais: literatura, sexo e violência.

Para não alongar este texto que já está grande, vou destacar apenas os contos que prenderam a minha atenção com mais, digamos, competência. E para isso iniciaremos do começo. O conto “Sensini” é uma boa carta de apresentação para qualquer um que pretende conhecer Bolaño, pois mostra a habilidade do escritor em criar uma história que trata de literatura - tema caro ao chileno - com um misto de mistério. Há também os interessantes “Uma aventura literária” e o “Chamadas telefônicas”, ambos exemplos incríveis do uso de um estilo refinado aliado a uma técnica convincente. No entanto, o grande destaque do livro fica por conta do longo “Detetives”, um primor textual que, não por acaso, tem o alter-ego do escritor entre as personagens: Arturo Belano. Um misto de paranoia com páginas policiais, mistério e choque de realidade. Esse conto por si só já vale o investimento no livro.

Há um porém, como tudo na vida. O livro exala testosterona em demasia, o que não é necessariamente um defeito, mas que torna-se um problema quando o escritor arrisca pisar no universo feminino. Isso é mais notável nos contos “A neve”, “Joanna Silvestri” e “Vida de Anne Moore”, em que as decisões ou atitudes tomadas pelas personagens femininas geram, se não uma certa sensação de inverossimilhança, pelo menos a possibilidade de dúvida, de questionamento dos leitores.

A leitura de “Chamadas telefônicas” não foi marcante, mas me deu vontade de conhecer mais a respeito de um escritor que nos deixou cedo demais e não pôde ver e usufruir do tamanho da sua literatura. Vale.
comentários(0)comente



Nádia C. 29/05/2020

Ligações estranhas
Saio mais uma vez apaixonada e com raiva do Bolaño ao mesmo tempo. Amo sua sensibilidade para falar de arte, da literatura e esse desespero latino americano meio Belchior de ser poeta e não ter onde cair morto. Mas como muitas de suas personagens, dá vontade de abandoná-lo depois de uma ligação estranha quando ele começa a falar de mulheres. O incômodo surge primeiro porque a relação de seus personagens masculinos com as mulheres é sempre com algum envolvimento sexual e também por ele parecer sugerir a ideia - bem masculina - de que uma mulher livre, aventureira e fora do convencional é aquela que transa com todo mundo. Bolaño na sua limitação machista (ah, não pode chamar mais nenhum autor que é bom de machista né? Se for latino-americano piorou) - sim gente, ele é machista, você é machista, todos os homens são, vamo parar de mimimi ta (risos), parece não enxergar que as amarras sociais que prendem uma mulher não se rompem com a quantidade de parceiros que ela faz amor (como ele diz) e abandona. Talvez isso revele também a tristeza dessas relações e não uma libertação. Porque no fundo elas "sabem" que não estão tão livres como pensam e em alguns momentos as mulheres de Bolaño têm um lampejo de lucidez e apenas vão embora. Os contos são literalmente repleto de Chamadas Telefônicas que se tornam conclusivas no que não é dito, na aparente falta de objetivo dessas ligações. É das relações mais catastróficas, sem futuro, tristes ou inusitadas que o chileno resolve tirar a matéria para os seus contos. Os personagens se conhecem e se despedem sem maiores mistérios, as amizades começam e acabam com a naturalidade da vida, sem drama, sem explicações, apenas porque é assim "nunca mais o/a vi", é uma frase dita com frequência, ou "soube que morreu meses depois", também é outra. As coisas não se sustentam muito se tratando de seres tão insustentáveis consigo mesmos. Sentimos certa melancolia por tudo isso, mas também aceitação.
Mas voltando ao machismo de todo dia, nossos hermanos latinos ainda precisam aprender muito com las chicas feministas da America. Assim como em Detetives Selvagens, tem várias coisas que eu não deixaria passar quanto a isso, me incomoda alguns esteriótipos femininos. Apesar de que no romance, ainda temos a maravilhosa Cesárea Tinajero e nesses contos senti falta de uma personagem assim. De todo modo, como disse no começo sinto esse misto, é uma leitura inspiradora para artistas desgraçados, pobres e sonhadores, ei falaria durante a vida toda sobre a primeira parte do livro, a melhor! Mas merece uma leitura crítica e livre de um apego emocional que coloca os escritores num pedestal intocado por essas considerações.

site: http://as-virgulas.blogspot.com/2020/05/chamadas-telefonicas-roberto-bolano.html
comentários(0)comente



Carla Verçoza 08/02/2021

Livro de contos bem interessantes, alguns muito bons! Dividido em três partes, a que teve os contos que achei superiores foi a primeira, que dá nome ao livro. A última parte com personagens femininas, como sempre, fortemente vinculadas ao sexo, como se para ser livre a mulher precisasse ficar transando por aí.. uma pena. Destaco os contos:
- Sensini
- Enrique Martín
- Uma aventura literária
- O verme
- Clara
- Vida de Anne Moore
comentários(0)comente



Mateus com h 19/04/2021

Chamadas telefônicas
Um apanhado de histórias breves, potentes e reais. Histórias que não seguem o cronograma, histórias que nos escavam. Ler Bolano é saber da dificuldade de fechar o livro. Há sempre um convite constante a próxima página. É que se renova já na página seguinte.
comentários(0)comente



Nemec 08/07/2024

Contos nada ortodoxos
Primeiro livro que leio do Roberto Bolaño. Escolhi especialmente este por conter histórias curtas, para ter uma ideia do estilo do autor.

O que eu posso dizer é que o estilo de Bolaño não me fisgou, mas percebo a qualidade de sua escrita e apesar de suas ideias geniais, os contos não possuem um "tempero" que me agradasse.

Para quem nunca leu Bolaño, acho que vale a pena dar uma lida nesse livro (não sei se o estilo é o mesmo para os famosos 2666 e Detetives Selvagens). Mas foi uma leitura tranquila, talvez até rápida demais.

Livro lido na excelentissima plataforma Biblion.
comentários(0)comente



Bernardo Brum 19/07/2019

Mais do que as tais "chamadas telefônicas" que aparecem constantemente ao longo do livro, a tônica mais constante no livro de Bolaño é justamente sobre relações humanas distantes e alienadas. Não há descrição de fatos objetivos aqui, mas crônicas saídas a partir de memórias sobre vidas nômades e amores passageiros em um mundo disforme e hostil - justamente como se alguém que não conhecemos há muito tempo mas perdemos contato resumisse sua vida. O próprio tempo é subjetivo - anos podem durar frases e minutos podem durar páginas. Irregular, mas uma amostra de um narrador inigualável do século XX e seu espírito sempre mutável.
comentários(0)comente



umafacasolamina 14/09/2023

Um poeta pode suportar tudo. o que equivale dizer que um homem pode suportar tudo. mas não é verdade: são poucas as coisas que um homem pode suportar. suportar mesmo. um poeta, em compensação, pode suportar tudo. com essa convicção crescemos. o primeiro enunciado é correto, mas conduz à ruína, à loucura, à morte.
comentários(0)comente



Tauan 23/09/2015

Comecei a ler, apenas para o tempo passar, sem esperar grande coisa dos contos; lá pelo terceiro, me encontrei surpreso lendo avidamente. Talvez o que mais tenha me atraído seja frequência de personagens escritores, falando, ora sobre a escrita, ora sobre a vida de escritor. Isso e a fuga do lugar comum entre os escritores em língua espanhola do século XX, que se apegavam a seus contextos lastimosos, e repetiam a mesma miséria, livro após livro.
Em Chamadas Telefônicas, Bolaño traz contos que são como contos deveriam ser: um recorde de uma história, em que fica a encargo do leitor imagina o antes e o depois.
Logo no primeiro conto, "Sensini", o autor diz a que veio, contando a história de um escritor argentino que se especializou em ganhar concursos literários. Trata-se de um personagem arquétipo na obra do autor: um intelectual latino-americano, retratado como uma mescla instável de rancor e compaixão, que não consegue encontrar seu lugar no mundo.
Por fim, um manisfesto de expectativa: dizem os críticos que Bolaño, usando a repetição de personagens e cenas, constrói, livro a livro, um vasto universo ficcional; assim, espero encontrar uma agradável sensação de déjà vu quando ler um segundo livro do autor.
comentários(0)comente



Gustavo.Baggio 06/04/2024

Bolaño me parece conseguir escrever sobre tudo parecendo que disserta sobre o nada. Os finais que não chegam a lugar algum passam a sensação de que acabamos de ver pequeno fragmento banal da vida desses personagens, como se essas estórias fossem contadas em diálogos banais, como em ligações telefônicas, de fato. Meu conto favorito talvez seja "Detetives", tanto pela presença quase mítica de Arturo Belano, quanto pelo diálogo maravilhoso sobre quais tipos de armas preferem os chilenos.
comentários(0)comente



@literatotti 14/07/2014

"A vida não tem sentido"
Ler Roberto Bolaño é deparar-se com um mundo sem sentido.

A maioria dos títulos dos contos presentes neste livro são nomes de personagens. Não há nada mais fascinante do que se debruçar sobre a vida de uma pessoa, e descobrir seus vícios cotidianos e passados obscuros. Talvez, essa seja a premissa deste livro de contos, no qual muitas das personagens já apareceram em outros livros de Bolaño.

Alguns contos são resultados da mistura entre memória e imaginação, em que Bolaño se faz presente por meio da figura de Arturo Belano. Nesta brincadeira de esconder e revelar passagens sobre sua própria vida, o leitor, que quer descobrir sobre a vida de um dos escritores mais cultuados hoje, se perde e descobre uma verdade que acompanha as obras do latino-americano: toda pessoa é um mistério.
comentários(0)comente



Ricardo.R 23/09/2014

Assim como chamadas telefônicas, os contos apresentados no livro por Bolaño são breves histórias inadiáveis. Seu interlocutor relembra histórias e personagens já perdidos em uma estranha neblina do tempo. A linguagem simples e metafórica, por vezes despretensiosa de Bolaño, revela sempre outro lado misterioso das personagens à medida que nos (re)apresenta seus cenários já familiares: Chile, México, Espanha, Europa. À medida que reintroduz elementos de outras histórias mais consagradas (2666, Os Detetives Selvagens), Bolaño não se preocupa em complementá-los ou fornecer-lhes outras explicações, apenas percorre seus caminhos em busca de novas paisagens. O autor deixa aparecer em Chamadas Telefônicas um lado intimo, despreocupado. Como um velho conhecido cujo número de telefone vem à mente, pela madrugada, em uma cabine telefônica.
comentários(0)comente



Lucas 28/08/2024

?a virtude de costurar a boca da gente e fincar palitos de fósforo nas pálpebras de tal maneira que a gente não conseguia evitar de continuar lendo?
comentários(0)comente



13 encontrados | exibindo 1 a 13


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR