spoiler visualizarRenata1004 13/11/2024
Toda causa tem sua consequência: todo Crime tem seu Castigo?
Sem dúvidas, considerando o período histórico, a discussão que Dostoiévski traz na obra é focada em duas questões principais: a forma como a ética e a moral se fazem seletivas na sociedade, bem como o campo introspectivo do homem sob a lente da filosofia e até aonde a mente humana pode chegar.
Um garoto chamado Raskólnikov, estudante de direito, de vestes gastas, hipocondríaco, russo, paupérrimo, se viu acometido pelo determinismo social e, para provar ao mundo (ou para ele mesmo) que nele não há nada de ordinário para aceitar, não enxergou outra saída: o assassinato de uma senhora penhora e da sua irmã Lisaveta. Enquanto imersos no desenvolvimento da obra, questionamos se Raskólnikov estava a par de todas as consequências que isso o traria. E agora, posso dizer que esse espaço sem resposta foi usado para matar (literalmente falando) a sede de um homem que se via perdido em seu próprio labirinto.
A trama é marcada pela dualidade, a alternância psicológica, a construção de uma segunda identidade de Raskólnikov: existe aquele antes de cometer o crime e existe outro após cometer o crime( e, de bônus, existe aquele após o Castigo).
A obra mostra, com muita clareza, as duas facetas de Raskólnikov. É inegável que tal alternância o adoecia.
E são nas entrelinhas que o livro denuncia, com veemência, a diferença (e a hipocrisia, a contradição) de tratamento entre um poderoso assassino que é aplaudido socialmente- a exemplo Hitler, mas há espaço para pensar em diversos outros cruéis que até podem ser ?sutis? em suas ações, mas são igualmente perversos- e um jovem paupérrimo que mata. Entre uma morte esteticamente boa e outra não. O livro retrata uma Rússia do século XIX com o intuito de revelar o quanto o poder, naquela época, se baseava em que mão o sangue escorria. Assim, mostrando a frenesi de um jovem pobre em querer descobrir se o poder podia ser degustado por gente como ele. É uma denúncia ao fato de que há uma necropolítica histórica que defende a impunidade aos poderosos e a punidade aos pobres: a forma como os poderosos não eram criminalizados (e pateticamente continuam não sendo) e a forma como somente os periféricos são brutalmente criminalizados por crimes que os mesmos cometem.
A surpresa que ninguém esperava, inclusive, eu, foi que Raskólnikov não matou a velha por necessidades financeiras, nem por querer se tornar um ?Deus? para a humanidade,mas eis a questão: queria, de uma vez por todas, descobrir se eras um ser ordinário ou extraordinário, se eras um piolho ou um mártire, se a vida dele era realmente aquilo ou se ainda haveria por chegar a Hora da Estrela? O triunfo? A Vitória.
Raskólnikov não via lógica em assumir algo que geralmente não era assumido pela maioria que fazia. Para ele, era injusto (e hipocrisia) haver apenas dois caminhos (e nenhum ser a idolatria): a cadeia ou o fim da vida.
Teve mais uma coisa que modificou a química do meu cérebro( é algo pessoal que me chamou muita atenção): a forma astuciosa que Porfíri fazia malabarismos psicológicos na mente de Raskólnikov para ele se sentir culpado e indignado. O plano inteligente de Porfíri baseava-se em fazer com que Rodka pensasse (incessantemente) que o FBI já soubesse que ele era o assassino, mas sem precisar falar sobre isso diretamente e formalmente, apenas por meio das indagações introspectivas que indiretamente Porfíri gerou em Raskólnikov. É com esse cenário que eu grifo uma frase que resume grandemente esse episódio; ?O que significa ?fugir?? É uma coisa externa, não é o cerne da questão: não é por não haver para onde fugir que ele não me escapará, mas por estar amarrado psicologicamente??
O bom do livro é que ele nos pega de surpresa no mesmo momento em que achamos que sabemos de alguma coisa das várias façanhas que Raskólnikov.
Uma história recheada de controvérsias, inimigos e castigos. Qual a lição pessoal que eu tirei do livro? Bom, que custe o que custar, a sua moral, a sua paz vale mais que qualquer coisa. Um livro que me fez enxergar que as nossas escolhas e decisões andam conosco o resto de nossas vidas e, principalmente, a consciência delas. Mostra o quanto as nossas escolhas do hoje e as suas consequências do amanhã andam lado a lado com a gente durante nossa vida.