lahmot 22/02/2024
Enrolei bastante para fazer essa resenha porque, afinal, o que mais eu poderia acrescentar à essa obra tão aclamada, que muitos já não o tenham feito? Então decidi que essa resenha será menos bonitinha do que as minhas anteriores, vou só falar o que vier a minha cabeça como se estivesse contando o que eu achei do livro para um amigo que não conhecia a trama.
Nunca tinha lido nada do Dostoievski antes disso e como uma grande fã de Bungou Stray Dogs (um personagem baseado no Fyodor é o vilão do anime), quis ler para ver se descobria mais sobre o personagem, já que há muitas coisas que não sabemos sobre ele ainda, como o que a habilidade dele faz, por exemplo; talvez ao analisar as obras dele, eu poderia compreender melhor o personagem. Há quem diga que Os Irmãos Karamazov é um pouco melhor nesse sentido, mas nem se eu fosse maluca eu começaria a ler Dostoievski por esse livro de 1000 páginas. Decerto compreendi algumas coisas, mas isso daqui não é uma resenha de Bungou Stray Dogs então não vou me alongar mais nisso.
Crime e Castigo é sobre um sujeito que largou os estudos por falta de dinheiro e um dia simplesmente resolve matar uma velha. Muitas vezes eu me peguei perguntando a mim mesma: "Qualé a desse cara, afinal?". Você lê e percebe que o sujeito é um maluco; lelé das ideias, mas não é que seja louco de fato, ele é apenas extremamente perturbado, e sabe muito bem quais são suas próprias intenções. (pequeno spoiler a seguir) - A justificativa dele para o crime vem de uma tese que ele elaborou sobre os seres humanos, mas vou resumir de forma leiga: Ele pensa que alguns homens são melhores que outros, e estes que são melhores, estão acima de tudo e podem fazer o que quiserem, enquanto os que não são, "tem que se ferrar mesmo", de acordo com ele, a velha é desse segundo tipo. Às vezes pode parecer que não, mas Raskolnikov é muito inteligente e sabe muito bem o que está fazendo.
Não é um livro particularmente difícil de ler, só que se você não tiver paciência, pode muito facilmente se cansar dos monólogos giganteeescos do Raskolnikov. Sério, imagine se alguém transcrevesse cada pensamento que surgisse em nossa mente, um atrás do outro; os monólogos dele são assim, mas quer saber de uma coisa? É incrível, porque te coloca dentro da cabeça do personagem. Nas cenas de suspense, então! Você sente a aflição da possibilidade de ter o crime descoberto na própria pele (entre aspas). Minha parte favorita da trama são os momentos em que Raskonikov está em algum lugar (seja no bar, no apartamento dele) e começa a ouvir a conversa entre as pessoas ali, que coincidentemente estão falando do próprio crime; é muito bom (para mim, não para o Raskolnikov, que eu imagino estar morrendo por dentro enquanto escuta aquilo), é como se eu estivesse ouvindo uma fofoca fresquinha de primeira mão, recontada por vários pontos de vista.
Tem vários personagens notáveis e carismáticos, como a irmã do protagonista - a Dúnia (lenda demais), e o amigo dele, Razumikhin. Assim como personagens detestáveis, como o noivo da Dúnia que é tão chato que eu esqueci o nome dele, e o Svidrigáilov, que é um asqueroso nojento. Considero o detetive, Porfiri (o L do nosso Kira), um tipo de antagonista pelo papel dele na trama e ele é muito bem desenvolvido, mas não gosto dele não. Ah, e sim, para quem não tem costume de consumir literatura russa, os nomes podem ser um pouco confusos (cada personagens é chamado de trocentas maneiras e tem trocentos apelidos, por ex: o Raskolnikov é chamado também de: Rodion, Ródia, pelo sobrenome e pelo nome + patronímico) mas você se acostuma.
É um livro com muito conteúdo, mas não é cansativo porque cada detalhe é relevante. Confesso que o final não era o que eu esperava, mas não digo isso num sentido ruim; a verdade é que eu não sabia bem o que me esperava e tá tudo certo. Adoro a literatura russa e pretendo consumir as outras obras de Dostoiévski assim que possível. Acho que, num futuro próximo, uma releitura desse livro me faria bem, inclusive.
Leiam esse livro, sim, mas sem pressa. Mesmo que as paredes de texto pareçam um pouco assustadoras, eu juro que vale a pena!