spoiler visualizarRebeca.Mariana 29/03/2018
Pilar relembra um fato de sua infância: era chamado de Seu Pilar e numa segunda-feira do mês de maio de 1840, na Rua Princesa, Pilar tenta se decidir se passará a manhã brincando ou na escola. Depois de muito pensar, ele resolve ir à escola, pois se lembra da última "sova" que levara do pai por ter feito dois suetos na semana anterior. Ao chegar à escola, subiu com cautela as escadas para que não fosse descoberto pelo severo mestre e, por sorte, chegou três ou quatro minutos antes dele. Pilar era um bom aluno, sempre o primeiro a terminar as atividades. Seu pai sonhava em vê-lo lendo, escrevendo, fazendo contas e sendo comerciante. Já na sala, um colega de classe chamado Raimundo por ser filho do mestre que era muito severo, ele era muito cobrado e tinha dificuldades de aprendizagem, por isso faz uma proposta a Pilar: uma moeda de prata por uma explicação sobre a matéria. Seu Pilar pensou que fosse brincadeira, mas quando percebeu que Raimundo falava sério, decidiu aceitar. Com cautela fizeram a troca, afinal o mestre estava ali diante, e se os pegasse seriam castigados com a palmatória. Outro colega, Curvelo, atento à conversa, deleta os alunos para o professor Policarpo.O fato de Pilar estar ensinando a lição para Raimundo em troca de uma “pratinha” foi considerado como suborno pelo mestre, que a solicitou, porém Pilar joga a moeda pela janela e o mestre os castiga com batidas de palmatória. Depois da aula Pilar resolveu dar uma surra em Curvelo, que se escondeu e acabou se livrando de levar uns murros. Um dia depois, Pilar sai atrás da moeda, mas é atraído por um batalhão de fuzileiros e resolve segui-lo, indo parar na praia da Gamboa. O menino, assim, volta para casa sem a moeda e sem arrependimentos. Adulto, Pilar relembra os fatos e destaca que Raimundo e Curvelo mostraram a ele o significado de corrupção e delação.
ANÁLISE: Machado de Assis aborda principalmente as rígidas regras que ditavam o cenário escolar do século XIX. A história narrada tem como contexto histórico o fim do Império, a Abolição dos Escravos e a Proclamação da República. O foco narrativo é feito em primeira pessoa. Ao lembrar-se da surra, nosso personagem conclui que o melhor é ir à escola. Percebemos nesse fato uma crítica machadiana à escola que causava repulsa e motivo de evasão escolar visto que Pilar era inteligente, porém sentia-se atraído mais pelos colegas de rua do que pelo ambiente antidemocrático da escola, ambiente esse onde o professor era dono exclusivo do conhecimento, não permitia questionamentos cuja autoridade deveria ser respeitada mediante o medo que incutia nos alunos através de severos castigos. Podemos notar também que pessoas como o garoto Curvelo estão presentes em todos os âmbitos da sociedade: dedo duro, capaz de trair os colegas apenas para ganhar mérito em cima das desgraças alheias. Machado de Assis ficaria perplexo se vivesse nessa época ao ver o quanto a corrupção e a delação tomaram proporções gigantescas tanto na vida social quanto política e econômica nesse imenso país que é o Brasil.