spoiler visualizarMatheusPetris 09/03/2021
Alegria de uns, tristeza de outros…
Uma mulher. Três homens. Um homem, terá sua vida despida. O outro, continuará inerte – como já o era. Já o casal escolhido pelo “destino”, vestirá as mesmas luvas.
A esperança insistente no espírito daquele que sonhava, tornou sua dor mais severa. Luis, seu amigo, se é que assim podemos chamá-lo, adverti-o desde o início, tentando atina-lo um pouco de juízo. Tudo em vão. O narrador Machadiano é perspicaz e minucioso em suas descrições, ao ponto de cada detalhe espacial contribuir para uma construção daquele distanciamento que existia entre Estevão e Guiomar. O reencontro é emblemático, na breve conversa, a cerca os dividia. O distanciamento físico era o sinal – além das descrições de suas diferentes personalidades.
No casal que será conectado, interesses em comum. A razão, aliada à emoção? Talvez. Ou, nem tanto? Guiomar era pobre, tornou-se abastada. Assim, adentrou numa classe social que difere da de sua criação. Sua madrinha, mãe adotiva (o que quer que seja), tem seus caprichos cumpridos, inclusos, o de conseguir uma substituta para a filha morta. Ou, o de conseguir seguidores que, a todo custo, insistem em servi-la? Um pouco de lá, um pouco de cá.
Teria esse detalhe, sido repassado a Guiomar? Não é assim que Machado a pinta. Pois, na sua configuração, se delineia uma personagem com espírito independente, audaz, e em busca daquilo que não sabe bem o que é. Aquele, quem será sua escolha final, é tão abastado e espirituoso quanto ela. E, além disso, com futuro promissor. Ela busca reconfigurar o conforto criado? Talvez. Voltar a pobreza, tenho certeza que não é seu desejo.
Mas nem tudo são convenções sociais, panoramas de época, etc… Comumente, Machado adota uma perquirição subjetiva pela alma de alguns escolhidos. Outros mais, outros menos. Naquele personagem esperançoso, sonhador, sempre devaneando em conluio com seu coração, encontramos o paroxismo da figura romântica. Esperança como mote absoluto. Inalcançável a busca por sua amada. A realidade é bruta e cruel, diferentemente de suas conjecturas.
A primeira desilusão de Estevão com Guiomar foi apenas ocultada pelo tempo. Em seu retorno e reencontro, a faísca brevemente soprada pela brisa matinal, chamuscou a fogueira que, em breve, iria consumi-lo por completo.
Ah, e como essa fogueira é traiçoeira. Ao fim, nem percebeu que ele próprio estava alimentando-a. E, aquele, que riscaria a faísca final, era seu confidente.
Machado advertiu: “Não era mau rapaz, mas tinha o seu grão de egoísmo, e se não era incapaz de afeições, sabia regê-las, moderá-las, e sobretudo guiá-las ao seu próprio interesse.”