spoiler visualizarRute.Lessa 21/04/2024
Pobre Estevão
Originalmente publicada em folhetins no ano de 1874, "A Mão e a Luva", de Machado de Assis, é um romance que se destaca pela elegância estilística e pela profundidade dos personagens, como sempre aquele narrador não confiável que nos faz ir acreditando na história a medida que é contata, com aquela leve desconfiança.
Ambientado em Botafogo, no Rio de Janeiro, o enredo acompanha a trajetória de Guiomar, uma jovem de 17 anos, afilhada de uma baronesa, que almeja ascender socialmente, que parece ser muito decidida sobre si e, ao mesmo tempo, em dúvidas sobre quem escolher para casar-se.
Guiomar é alvo do cortejo de três homens distintos: Estevão, um ex namorado, Jorge, sobrinho da baronesa, e Luís Alves, o talarico. Estevão, o romântico, nutre um amor puro e passional por Guiomar. Jorge, calculista, busca conquistá-la através da influência sobre a baronesa e a empregada Mrs. Oswald. Já Luís Alves, ambicioso e resoluto, descobre seu interesse por Guiomar ao longo do tempo, mesmo sabendo que é o grande amor do melhor amigo.
Após uma série de acontecimentos, Guiomar opta por aceitar o pedido de casamento de Jorge para evitar desgostos à baronesa, mas seu verdadeiro amor, Luís Alves, também a pede em casamento. A baronesa, percebendo os verdadeiros sentimentos de Guiomar, consente o casamento entre ela e Luís, encerrando a trama com a união dos dois e deixando Jorge resignado com sua falta de sorte e Estevão atormentado por seus sentimentos não correspondidos. O título "A Mão e a Luva" revela-se metaforicamente ao final, ilustrando a perfeita adequação entre Guiomar e Luís Alves, como uma luva feita sob medida para uma mão, simbolizando a harmonia entre seus objetivos e ambições.
Embora seja um texto condensado, os personagens foram bem trabalhados aqui sem perder a essência da escrita do Bruxo, sem fazer com que o leitor se perca da história. Leitura de uma sentada só, que me fez sentir um leve compadecimento de Estavão, pois me fez lembrar do Werther, de Goethe, mas preciso confessar que Luís foi muito estrategista. Foi justo o que ele fez? Não! Mas é bem típico de uma narrativa machadiana.