Fernanda.Caputo 16/08/2024
Amores práticos
"Sonhará uns amores de romance, quase impossíveis? Digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor, contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir".
Assim Mrs. Oswald aconselha Guiomar, a mocinha do romance - e não que ela precisasse de tal conselho, afinal Guiomar sabia muito bem o que desejava. O conselho, aparentemente sensato, contrasta com os desejos e expectativas que moldam a vida de Guiomar.
Ela é uma jovem órfã, que, apesar de seu passado de pobreza, encontra acolhimento e uma nova vida com sua madrinha, uma baronesa viúva que a adota como filha. A madrinha, em sua tentativa de garantir a felicidade de Guiomar, deseja uni-la a seu sobrinho, Jorge, um jovem de comportamento indiferente e apático.
Por outro lado, temos Estêvão, o sobrinho de uma antiga professora da moça, que nutre por Guiomar um amor intenso e dramático, digno dos grandes romances. Seu sofrimento amoroso é constantemente compartilhado com seu amigo Luís Alves, um homem prático e cético em relação às fantasias românticas.
Machado de Assis, com sua maestria inigualável, nos apresenta um enredo que, embora inserido na fase romântica do autor, é uma astuta crítica ao próprio ideal romântico. O desfecho é uma verdadeira obra-prima de ironia e perspicácia, que só um mestre da literatura como Machado poderia conceber.
"A mão e a luva" é o segundo romance no meu projeto de ler todos os livros de Machado em ordem cronológica, e cada página é um deleite!