José Martino Escritor 17/10/2010Sobre "A Mão e a Luva"O romance A Mão e a Luva, da mesma maneira que Ressurreição, não apresenta grande movimento ou peripécias; antes, o autor procura analisar as personalidades de dois ambiciosos, Guiomar e Luís Alves. A moça, órfã desde os treze anos, mora com sua madrinha, tratada no romance apenas por baronesa, numa chácara vizinha à casa de Luís Alves. Além deste jovem advogado, Guiomar é cobiçada também por outros dois rapazes, Jorge, sobrinho da baronesa e Estevão, amigo de Luís Alves. Mas nenhum dos dois é capaz de tocar o coração da jovem. Ambiciosa, ela deseja o amor, mas o amor de alguém que pudesse elevá-la de sua posição de moça pobre, que mora de favor com a madrinha:
“Ela queria um homem que, ao pé de um coração juvenil e capaz de amar, sentisse dentro em si a força bastante para subi-la aonde a vissem todos os olhos.”
O sonho da baronesa é que a afilhada se case com seu sobrinho, Jorge. Tanto este, quanto Luís Alves, pedem a moça em casamento e a baronesa lhe afirma que ela deve escolher entre os dois. Para não se mostrar ingrata à madrinha, Guiomar diz que prefere se casar com Jorge, contrariando seu coração. A baronesa, porém, percebe que o desejo da menina é outro e lhe conta que se sentirá feliz qualquer que seja a escolha dela. Assim, o romance termina com o casamento de Luís Alves com Guiomar, o ajuste perfeito daquelas duas ambições:
“Guiomar, que estava de pé defronte dele, com as mãos presas nas suas, deixou-se cair lentamente sobre os joelhos do marido, e as duas ambições trocaram o ósculo fraternal. Ajustavam-se ambas, como se aquela luva tivesse sido feita para aquela mão.”
Durante a vida do escritor, A Mão e a Luva contou apenas uma reedição, no ano de 1907. Curiosamente, o romance teve pouquíssima repercussão na imprensa, saindo apenas uma ou outra nota em A Semana Ilustrada e em O Mequetrefe. Como o livro fazia parte de uma coleção intitulada “Biblioteca do Globo”, parece que a concorrência não quis divulgar o romance em suas páginas.
A única crítica a respeito de A Mão e a Luva, que pode receber este nome, não saiu no Brasil, mas em Nova York, na revista Novo Mundo, editada por José Carlos Rodrigues. Assinado por Araucarius, que encobria o nome do cônego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, professor do Colégio de D. Pedro II, membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e que em 1871 havia presenteado Machado de Assis com trinta e nove grossos volumes da Revista daquela instituição, este artigo não era muito simpático ao romance de Joaquim Maria:
“Mostrou-se ainda uma vez o ilustre romancista esmerado cultor da forma, mantendo os foros dum dos nossos primeiros estilistas; a substância, porém, não condiz com esse primor externo; visto como não parecem estar nas notas do seu diapasão temas de longo fôlego. Fracos são os caracteres; a urdidura, despida de interesse comovente; a ação, fria; e o desfecho, intuitivo desde o primeiro ato.”