Alane.Sthefany 15/04/2022
A Morte de Invan Ilitch - Liev Tolstói
?A Morte de Ivan Ilitch? é uma reflexão sobre a morte. Muitas vezes, quando ela se apresenta diante de nossos olhos, ela se torna algo inaceitável e injusto, como se a morte necessitasse de algum tipo de justificativa para ocorrer ou nos visitar.
Uma coisa que todos devem ter em mente, é a certeza da morte. Ela não é novidade para ninguém, desde que o mundo é mundo.
A sentença de morte foi escrita para todo o gênero humano: É homem, deves morrer. Dizia Santo Agostinho:
?Só a morte é certa; os demais bens e males nossos são incertos?.
É incerto se o recém-nascido será rico ou pobre, se terá boa ou má saúde, se morrerá moço ou velho. Tudo isto é incerto, mas é indubitavelmente certo que deve morrer.
?Todos temos de morrer, e nós deslizamos como a água sobre a terra, a qual não volta para trás? (2Sm 14,14).
No entanto, a sociedade, a mídia, a correria do dia a dia, nos apresenta ela como algo muito distante, ou que não está a nossa porta.
A morte corre ao nosso encontro mais rápido que um corredor. E nós, a cada instante, corremos para ela (Jo 9,25).
Muitas pessoas, nem mesmo percebem que os anos estão se passando, e que a cada passo, a cada respiração chegamos mais próximo da morte; outras, nem mesmo notam as rugas, linhas de expressão surgindo em suas faces, que antes eram cheias de vida, rigidez, robustez. Até hoje , muitos acreditam ou têm em mente, um Brad Pitt, Angelina Jolie, e tantas outras celebridades... como eram apresentados há muitos anos atrás, ainda jovens, que não envelheceram.
A mídia faz o possível para afastar-nos desse pensamento, que todos passaremos pela morte um dia, sem exceção alguma, todos que vieram a esse mundo estão fadados a ela.
Fazendo com que venhamos a termos vidas superficiais, como se tivéssemos todo o tempo do mundo ou vivêssemos eternamente.
Daí surgem os arrependimentos diante da morte repentina (que nunca vem com aviso prévio), de viver por viver, ou simplesmente existir (se é que podemos usar esse termo), e a morte de Ivan Ilitch, é um alerta sobre como vivemos e como queremos vivermos daqui em diante, sem que seja necessário ter um encontro repentino e desagradável com a morte, pois como muitos, Ivan Ilitch abriu os olhos tarde demais ao adoecer, viu que viveu da pior forma possível, viveu de modo errado, e o seu maior desespero durante todo o sofrimento que sobrevenho com a doença e dores, foi o de querer começar a viver da forma correta, entretanto, agora ele não tem mais tempo, a morte jaz a porta, no entanto, para ele, não para nós, podemos hoje mudar a forma em que vivemos, para não termos o mesmo fim que Ivan Ilitch teve, um trágico e infeliz fim.
Neste quadro da morte, caro irmão, reconhece-te a ti mesmo, e considera o que virás a ser um dia:
?Recorda-te que és pó, e em pó te converterás?.
Pensa que dentro de poucos anos, quiçá dentro de alguns meses ou dias, não serás mais que vermes e podridão. Este pensamento fez Jó dizer para si mesmo:
?À podridão eu disse: tu és meu pai; aos vermes: sois minha mãe e minha irmã?
?Que é vossa vida? É um vapor que aparece por um momento? (Tg 4,15).
Os vapores que a terra exala, quando sobem ao ar, sob o efeito dos raios solares oferecem, às vezes, aspecto vistoso; mas quanto tempo dura essa aparência brilhante? Ao sopro do menor vento, tudo desaparece.
Que é nossa vida? Assemelha-se a um tênue vapor que o ar dispersa e desaparece completamente.
Todos sabemos que temos de morrer. Muitos, porém, se iludem, imaginando a morte tão afastada que jamais houvesse de chegar. Jó, entretanto, nos adverte que a vida humana é brevíssima: ?O homem, vivendo breve tempo, brota como flor e murcha? (Jó 14,1-2). Foi esta mesma verdade que Isaías anunciou por ordem do Senhor. ?Clama ? disse-lhe ? que toda a carne é erva... verdadeira erva é o povo; seca a erva, e cai a flor? (Is 40,6-8). A vida humana é, pois, semelhante à de uma planta. Chega a morte, seca a erva; acaba a vida e murcha, cai a flor das grandezas e dos bens terrenos.
Neste mundo todos os homens nascem em condições desiguais, mas a morte os iguala ? disse Sêneca.
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Lembro que a primeira vez em que soube da existência de A morte de Ivan Ilitch foi por meio de um amigo que me disse que odiara o livro. Não que fosse mal escrito, pelo contrário: era tão bem escrito que, segundo ele, quase havia morrido junto com o personagem durante a leitura. De fato, se a literatura nos permite viver muitas vidas, também nos possibilita morrer muitas mortes. E esse morrer junto, na literatura, só pode ser realizado no diálogo amoroso entre ?m bom escritor e um bom leitor.
?Homem Pequeno?, homem sem realizações e sem mobilidade social. Temos a maior representação desse arquétipo em Akáki Akákievitch, protagonista do conto ?O capote?, de Nikolai Gógol. Akáki é um funcionário de baixo escalão, ridicularizado por todos, para quem um capote novo e sem furos representaria o fim da injúria e da infelicidade.
Tolstói estendeu a dimensão do ?homem pequeno? para o interior do ser ao compor Ivan Ilitch, grande burocrata de alma pequena.
Ivan, afinal, se crê respeitado e bem-sucedido em sua carreira de juiz, alheio ao fato de que fez pouco mais do que emular uma personalidade com sua trajetória emergente e angariar inveja em relacionamentos interesseiros.
A todo momento Tolstói escancara a pequenez sentimental de Ivan e reduz sua vida a nada, enquanto faz da morte seu maior instante de esclarecimento, o único verdadeiramente ?seu?, livre das amarras sociais da conveniência e da expectativa.
De nada adiantou projetar sua felicidade em seus bens, já que o que tem diante de si agora é nada além de um império de poeira.
Em seu livro Do amor, o escritor francês Stendhal faz uma bela defesa da literatura como forma de autoconhecimento. De modo geral, ele diz que, da mesma maneira que não estudamos anatomia abrindo as próprias tripas, mas, por comparação, estudando outro corpo, também desconhecemos a face de nossas paixões sem um estado observador da fraqueza alheia, por causa da ?vaidade e várias outras causas da ilusão?.
Eis a beleza da literatura: Tolstói, desde sempre um obcecado pela morte, mata com minúcias de agonia um personagem desinteressante e altivo, apenas para que seu leitor conheça aquilo que é honestamente importante em sua própria vida ? sem que para isso tenha que se tornar um moribundo de fato.
O escritor, em um texto inteiro sobre a morte, faz um chamado à vida.
Tolstói escreveu um livro curto como a vida, e é impossível lê-lo sem pensar em mudar algo que nos insatisfaça no momento. Da minha parte, espero que esta leitura lhe sirva para pelo menos três coisas: testemunhar uma escrita magistral, amar a literatura russa do século XIX e olhar no olho fictício da morte para poder realizar algo que verdadeiramente faça sentido para você. Antes tarde do que tarde demais.
YURI AL'HANATI
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Capítulo I (Reflexões)
Ivan Ilitch era companheiro de trabalho dos senhores ali reunidos, e todos o adoravam. Estava doente havia já algumas semanas; diziam que sua doença era incurável. O posto dele fora guardado, mas conjecturava-se que, caso ele morresse, Aleksêiev poderia ser indicado para seu posto; já para o posto de Aleksêiev, ou Vínnikov, ou Chtábel. Assim, ao ouvirem sobre a morte de Ivan Ilitch, o primeiro pensamento de cada um dos senhores reunidos no gabinete foi sobre o significado que aquela morte poderia ter para a transferência ou promoção dos próprios membros ou de seus conhecidos.
Além das reflexões de cada um a respeito das transferências e possíveis mudanças de destino que aquela morte poderia acarretar, o próprio fato da morte de um conhecido próximo despertou em todos que ficaram sabendo dela, como sempre, uma sensação de alegria por ter morrido o outro, e não eles.
?Pois é, morreu. Mas eu, não?, pensou ou sentiu cada um deles.
Além disso, os conhecidos mais próximos, os assim chamados amigos de Ivan Ilitch, pensaram involuntariamente que, agora, teriam que cumprir aquelas obrigações decorosas muito enfadonhas e ir ao funeral, e também visitar a viúva para oferecer condolências.
[...]
Lembrei-me de um livro que fala sobre a brevidade da vida, e de como morrer bem nessa vida:
Retrato de Um Homem que Acaba de Expirar
És pó e em pó te hás de tornar (Gn 3,19)
Considera que és pó e que em pó te hás de converter. Virá o dia em que será preciso morrer e apodrecer num fosso, onde ficarás coberto de vermes. A todos, nobres e plebeus, príncipes ou vassalos, estará reservada a mesma sorte. Logo que a alma, com o último suspiro, sair do corpo, passará à eternidade, e o corpo se reduzirá a pó.
(...)
Ao ouvir a notícia de sua morte, limitam-se uns a dizer que era homem honrado; outros, que deixou à família grande riqueza. Contristam- se alguns, porque a vida do falecido lhes era proveitosa; alegram-se outros, porque vão ficar de posse de tudo quanto tinha.
Por fim, dentro em breve, já ninguém falará nele, e até seus parentes mais próximos não querem ouvir falar dele para não se lhes agravar a dor que sentem.
Nas visitas de condolências, trata-se de outro assunto; e, quando alguém se atreve a mencionar o falecido, não falta um parente que advirta: Por caridade, não pronuncies mais o seu nome! Considera que assim como procedes por ocasião da morte de teus parentes e amigos, assim os outros agirão na tua. Os vivos entram no cenário do mundo para desempenhar seu papel e ocupar os lugares dos mortos; mas do apreço e da memória destes pouco ou nada cuidam.
A princípio, os parentes se afligem por alguns dias, mas se consolam depressa com a parte da herança que lhes couber e, talvez, parece que até a tua morte os regozija. Naquela mesma casa onde exalaste o último suspiro, e onde Jesus Cristo te julgou, passarão a celebrar-se, como dantes, banquetes e bailes, festas e jogos. E tua alma, onde estará então?
[...]
O servo doméstico Guerássim (criado de Ilitch - jovem camponês, ajudante do mordomo dos Golovin. Cuida do patrão e o ajuda sem reclamar, estabelecendo com ele, durante sua doença, uma espécie de único vínculo verdadeiro), passando diante de Piotr Ivánovitch com passos leves, polvilhava algo pelo chão. Ao ver aquilo, Piotr Ivánovitch imediatamente sentiu o leve odor do corpo em decomposição.
(...)
Piotr Ivánovitch (colega de Ivan na faculdade de Direito e no Tribunal de Justiça, além de parceiro no jogo de uíste. Embora considerado o melhor amigo do protagonista, vai ao seu enterro não por vontade própria, mas por obrigação social, e ainda fica chateado por ter perdido o carteado com os colegas), parou e pôs-se a olhar o defunto.
O defunto jazia, como sempre jazem os defuntos, particularmente pesado, à moda dos defuntos, com os membros enrijecidos afundados no leito do caixão, a cabeça para sempre arqueada sobre o travesseiro, e elevava, como sempre elevam os defuntos, sua testa amarela de cera, com pontos escalvados nas têmporas afundadas, e o nariz, que assomava, como que espremendo o lábio superior. Ele tinha mudado muito, emagrecera ainda mais desde a última vez em que Piotr Ivánovitch o vira, mas, como em todos os defuntos, seu rosto estava mais bonito e, sobretudo, mais significativo do que tinha sido quando vivo. No rosto, havia uma expressão de que aquilo que deveria ter sido feito estava feito, e da maneira correta. Além disso, nessa expressão havia também uma censura ou um lembrete aos vivos. Esse lembrete pareceu a Piotr Ivánovitch despropositado ou, pelo menos, não concernente a ele. Começou a sentir algo desagradável, e por isso Piotr Ivánovitch fez o sinal da cruz mais uma vez, com pressa, e, como lhe pareceu apressado demais, em desacordo com a decência, virou-se e foi em direção à porta.
Possivelmente, o Piotr Ivánovitch, se sentiu incomodado, ao notar que aquele era o fim de todos, pois a vida é breve e frágil, e chegará o dia em que todos teremos que morrer e voltar ao pó, de onde viemos.
Como diz no livro de Eclesiastes, Capítulo 7:
"Um bom nome é melhor do que um perfume finíssimo, e o dia da morte é melhor do que o dia do nascimento. (Eclesiastes 7:1).
?Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, pois naquela se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração? (Eclesiastes 7:2).
Ou ainda em outras traduções;
É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério!
(É melhor ir a uma casa onde há luto do que ir a uma casa onde há festa, pois onde há luto lembramos que um dia também vamos morrer. E os vivos nunca devem esquecer isso. NTLH)
A tristeza é melhor do que o riso; pois a tristeza faz o rosto ficar abatido, mas torna o coração compreensivo. NTLH (Eclesiastes 7:3).
O coração do sábio está na casa onde há luto, mas o dos tolos (insensatos), na casa da alegria. (Eclesiastes 7:4)
No entanto, na mesma hora em que venho o incomodo sobre esse pensamento, ele fez o possível para expulsar esse sentimento "ruim", na mesma proporção em que ele venho, o mais rápido possível.
[...]
O incidente do funeral de Ivan Ilitch de modo algum poderia constituir motivo suficiente para considerar perturbada a ordem da sessão, ou seja, nada poderia impedir que, naquela mesma noite, abrissem, com um estalido, o selo de um baralho ... não havia qualquer fundamento para presumir que aquele incidente pudesse impedi-los de passar alegremente a noite.
Lembre-me ainda de uma parte do livro:
"Imagina que estás em presença de uma pessoa que acaba de expirar. Contempla aquele cadáver, estendido ainda em seu leito mortuário: a cabeça inclinada sobre o peito; o cabelo em desalinho e banhado ainda em suores da morte, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto acinzentado, os lábios e a língua cor de chumbo; hirto e pesado o corpo. Treme e empalidece quem o vê.
É ainda mais horrível o aspecto do cadáver quando começa a corromper-se. Nem um dia se passou após o falecimento daquele jovem, e já se percebe o mau cheiro. É preciso abrir as janelas e queimar incenso; é mister que prontamente levem o defunto à igreja, ou ao cemitério, e o entreguem à terra para que não infeccione toda a casa. Mesmo que aquele corpo tenha pertencido a um nobre ou potentado, não servirá senão para que exale ainda fetidez mais insuportável.
Vês o estado a que chegou aquele soberbo, aquele dissoluto! Ainda há pouco, via-se acolhido e cortejado pela sociedade; agora tornou-se o horror e o espanto de quem o contempla. Os parentes apressam-se a afastá-lo de casa e pagam aos coveiros para que o encerrem em um esquife e lhe dêem sepultura. Há bem poucos instantes ainda se apregoava a fama, o talento, a finura, a polidez e a graça desse homem; mas apenas está morto, nem sua lembrança se conserva."
[...]
Praskóvia Fiódorovna Michel (é a antipática esposa de Ivan, caracterizada como egoísta e desinteressada pelas agonias do marido, exceto quando elas a afetam diretamente), de novo alcançou o lenço, como se fosse chorar, e de repente, como que se refreando, tomou ânimo e começou a dizer calmamente:
? No entanto, tenho um assunto a tratar com o senhor.
Piotr Ivánovitch inclinou-se.
? Nos últimos dias ele sofreu terrivelmente.
? Sofreu muito? ? perguntou Piotr Ivánovitch.
? Ai, terrivelmente! Gritava sem parar, não nos últimos minutos, mas nas últimas horas. Durante três dias seguidos ele gritou, sem dar descanso para a voz. Foi insuportável. Não sei como eu aguentei aquilo; dava para ouvir atrás de três portas. Ai, o que eu tive que suportar!
? Mas será que ele estava consciente? ? perguntou Piotr Ivánovitch.
? Sim ? sussurrou ela ?, até o último minuto. Ele se despediu de nós quinze minutos antes de morrer (...)
Pensar no sofrimento de uma pessoa de quem era tão próximo, primeiro como um menino alegre, na escola, depois adulto, como parceiro, de repente deixou Piotr Ivánovitch horrorizado, apesar da desagradável consciência da hipocrisia dele mesmo e daquela mulher (esposa de Ivan). Ele viu novamente aquela testa, o nariz espremendo o lábio, e sentiu medo por si mesmo.
?Três dias de sofrimentos terríveis, e depois a morte. Pois isso pode acontecer comigo agora mesmo, a qualquer minuto?, pensou ele, e por um instante ficou assustado. Mas, imediatamente, sem que ele soubesse como, veio ao seu auxílio o pensamento costemeiro de que aquilo acontecera a Ivan Ilitch, e não a ele, e de que aquilo não devia nem poderia lhe acontecer; de que, pensando assim, ele se entregaria a um estado de espírito sombrio, o que não se deve fazer (...)
Tendo feito essas considerações, Piotr Ivánovitch acalmou-se e, com interesse, começou a perguntar acerca dos detalhes do falecimento de Ivan Ilitch, como se a morte fosse uma aventura peculiar apenas a Ivan Ilitch, e que de modo algum dissesse respeito a ele.
Depois de falar em detalhes sobre os sofrimentos físicos realmente terríveis que Ivan Ilitch sofrera (detalhes de que Piotr Ivánovitch só ficou sabendo pelo modo como os tormentos de Ivan Ilitch afetaram os nervos de Praskóvia Fiódorovna), a viúva claramente considerou necessário tratar do assunto que desejava.
? Ah, Piotr Ivánovitch, como é difícil, é terrivelmente difícil, terrivelmente difícil. ? E voltou a chorar.
Piotr Ivánovitch suspirou e esperou que ela assoasse o nariz.
Quando ela assoou, ele disse:
? Tenho certeza que sim? E ela voltou a falar, e revelou aquilo que claramente era seu principal assunto com ele; que consistia na questão de como se poderia obter indenização do governo em caso de morte do marido.
Ela fingia pedir conselhos a Piotr Ivánovitch a respeito de uma pensão; mas ele viu que ela já sabia, nos mínimos detalhes, até o que nem ele sabia: tudo o que se podia arrancar do erário no caso daquela morte; mas que ela queria saber se não era possível, de algum modo, arrancar ainda mais dinheiro. Piotr Ivánovitch tentou pensar em algum meio, mas, depois de refletir um pouco e de recriminar, por educação, o nosso Estado por sua avareza, disse que não parecia possível conseguir mais. Então, ela suspirou e claramente pôs-se a inventar um meio de livrar-se de seu visitante.
Ele entendeu, apagou o cigarro, levantou-se, apertou a mão dela e foi até a antessala.
? E então, meu amigo Guerássim? ? perguntou Piotr Ivánovitch para dizer alguma coisa. ? Triste?
? É a vontade de Deus. Nós todos vamos para o mesmo lugar ? disse Guerássim.
Piotr Ivánovitch achou particularmente agradável respirar ar fresco depois do cheiro de incenso, cadáver e ácido fênico.
E Piotr Ivánovitch partiu. De fato, encontrou os demais no fim do primeiro rubber (no jogo de vint), de maneira que pôde muito bem entrar como quinto jogador.
Enquanto o Piotr Ivánovitch joga cartas, sendo totalmente indiferente a morte do amigo, Ivan Ilitch, ele deveria se tocar que a vez dele será chegada, por mais que comemorou que não tinha sido ele, mas o Ivan:
?Pois é, morreu. Mas eu, não?
Por muitos anos, querido leitor, que ainda tenhas de viver, há de chegar um dia, e nesse dia uma hora, que te será a última. Tanto para mim, que escrevo, como para ti, que lês este livro, está decretado o dia, o instante, em que nem eu poderei mais escrever nem tu ler. ?Quem é o homem que viverá e não verá a morte?? (Sl 89,49). Está proferida a sentença. Nunca existiu homem tão néscio que se julgasse isento da morte. O que sucedeu a teus antepassados, também sucederá a ti.
Onde estão os gênios com suas mentes brilhantes, os grandes reis, imperadores, ... do século passado, que um dia pisaram nesse mundo ?
Nada deles resta, senão cinzas e vermes.