Lucio 09/08/2016
Obra Prima! A Existência de Deus e Imortalidade da Alma discutidas com vigor!
Esse é um clássico que honra completamente o nome! Embora eu tenha diferenças e algumas discordâncias, não há como não se impressionar com o texto. Descartes é fascinante! Como leitor da tradição platônica, percebi muitos links entre o pensamento cartesiano e o pensamento platônico-agostiniano. Talvez ele o tenha recebido diretamente dessas fontes, ou talvez o tenha visto nos escolásticos. Discute-se as raízes de seu pensamento. Mas ele mesmo admite ter colhido o melhor do que foi produzido nas Escolas no que tange à prova da Existência de Deus e da Imortalidade da alma, bem como distinção substancial entre alma e corpo.
Em resumo, poderíamos dizer que Descartes propõe-se duvidar de todas as coisas e buscar os fundamentos epistemológicos que justifiquem qualquer conhecimento. Da dúvida hiperbólica ele descobre a inegabilidade da existência do ego. Daí ele segue para demonstrar sua natureza observando as várias 'faculdades' da mente. Em seguida, nota que a ideia de algo sumamente perfeito demanda a existência desta coisa como causa formal e eminente. Apoia tal argumento observando a necessidade que ele tem de ser criado e de sua existência ser sustentada. Logo, lida com questões do que Leibniz viria chamar de 'Teodiceia' e explica a origem dos juízos falsos, equivocados, sem prejudicar a santidade de Deus. Segue com o argumento ontológico. Por fim, termina de explorar a distinção entre mente e corpo, bem como desenvolve algumas de suas faculdades e delineia mais suas diferenças substanciais. Descartes também demonstra como o conhecimento sobre Deus é óbvio e primeiro, e nele se apoia a justificativa para se conhecer quaisquer outras coisas (o que faz uma ponte muitíssimo interessante com a Epistemologia Reformada e com o Pressuposicionalismo). Com base no princípio de que não se tomará por verdadeiro nada que for minimamente dúbio, e tomando como princípio epistemológico tudo que for claro e evidente, Descartes conclui a existência de Deus, a imortalidade da alma, a possibilidade das ciências pela garantia da existência das coisas externas pelo fato de que Deus constitui-nos com um aparelho epistemológico correto para perceber o mundo, já que ele, sendo bom, não poderia nos fazer gnosiologicamente viciados no engano.