Jean 07/01/2015
Não Verás País Nenhum - Ignácio de Loyola Brandão
Um livro peculiar, a princípio não se assemelha aos livros nacionais clássicos, o autor criou uma “bela” de uma distopia, elaborou uma sociedade que sofre por conta de um governo autoritário, pela má distribuição de renda e a pior das brutalidades, crise ambiental casada pelo erro deste governo. A Época da Grande Locupletação é o momento histórico do livro que se passa no Brasil, um País que outrora grandioso agora reduzido somente a uma futurística São Paulo, se tornando uma cidade caótica. A população sofre por conta do calor incessante, pela falta de água, desmatamento, alimentos industrializados (Factícios), entre outros problemas. O que se ver pelos distritos são corpos espalhados pelas ruas, fedor de podridão, mortes causadas pelo calor e pelo governo que destruiu e destrói vidas sem dó nem piedade. Não Verás País Nenhum é um ótimo título dado ao livro, pois o Brasil que era uma reserva natural, com extensão grandessíssima resumiu-se a uma cidade destruída e reduzida a praticamente nada.
A História do livro é narrada através do ponto de vista de Souza, um homem de 50 anos, ex-professor de história que trabalhava em uma universidade de São Paulo, foi aposentado por conta do governo no início da Época da Grande Locupletação. O livro trás o dia-a-dia deste homem que, mesmo sendo aposentado ele continua a trabalhar como funcionário de uma empresa, aonde tem como função a verificação de números, papéis, conferindo se há algum erro de impressão, erro que nunca encontra, pois as máquinas são “perfeitas”, sem erros. Sua rotina era algo monótono, todos os dias levantava às 05:45, arrumava, saia de casa e vai pega seu transporte público, o ônibus S-7.58, caso ele atrasasse ou não seguisse a risca sua rotina, teria problemas com os Civiltares (semelhantes ao exercito de hoje, mas com um poder maior agressivo, tinham a função de “proteger” a população ).
Este novo emprego passa a ser uma forma de Souza passar o tempo, enfrentar a vida desgraçada que levava por conta da sociedade desestruturada onde vive, sua vida era “tranquila” até aparecer de forma misteriosa um furo em sua mão quando ia para o emprego, de forma súbita começa uma cocheira na palma de sua mão quando estava dentro do ônibus. A partir deste momento a narrativa toma um rumo fantástico.
O livro tem uma premissa excepcional, o prologo me surpreendeu e me fez querer ler o livro imediatamente, o autor tinha tudo para fazer deste livro uns dos melhores clássicos contemporâneos brasileiros, entretanto, acabou se perdendo durante a narrativa. Não posso negar que ele soube criar e desenvolver uma sociedade distópica aceitável, com todos elementos necessários, porém, o rumo que o livro teve e o seu desfecho deixou a desejar. O autor infelizmente não soube desenvolver os personagens, o Souza por exemplo é um homem insuportavelmente chato, da metade do livro até o final a forma dele descrever a história e seus flashbacks fizeram com que a narrativa ficasse cansativa, entediante. Um ponto positivo em relação ao livro é que o autor trouxe uma novidade para o Brasil, principalmente na época em que foi publicado em 1981, época do fim da ditadura, nenhum livro deste gênero ainda não tinha sido publicado no Brasil e este foi lançado em uma época oportuna. A diagramação do livro é muito interessante, os capítulos não são divididos numericamente e sim por frase de um narrador-observador que amplia a visão dos acontecimentos para o leitor. Concluindo: Um livro muito bom, com uma premissa fantástica mas que no fim, deixa muito a desejar. Recomendo a todos que gostam do gênero literário distópico.
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