Paulo Silas 17/05/2014Obra na qual Freud vai além da dedicação estrita à psicanálise, abrangendo nesta o seu campo de estudo, discorrendo em conjunto sobre a área de humanidades, mais especificamente a etnopsicologia e antropologia.
Observando o fenômeno do totemismo e do tabu como sua consequência (ou não), Freud remonta às sociedades primitivas (denominando-as como povos selvagens) para buscar constatações sobre a origem de determinados preceitos e "regras não escritas" destes povos, das quais muitas perduram até hoje. Para tanto é que a maioria das referências contidas na obra são do campo da antropologia, vez que o autor busca nelas o estudo sobre as hipóteses de tais fenômenos.
Não havendo consenso que delimite e defina as razões ou motivos acerca da origem do totemismo, Freud discorre sobre cada qual, explanando sobre os aspectos e teorias nominalistas (necessidade de denominação específica de um povo), sociológicas (relação dos povos com determinado objeto, animal ou vegetal, e a sua personificação pelo totem) e psicológicas (a que busca a "exteriorização da alma", personificando-a no totem, pelos mais diversos motivos).
O caminho percorrido pela sociedade até a atual também é demonstrada da seguinte forma cronológica: animismo, totemismo, religioso e científico. Neste ponto, o estudo é bastante interessante quanto Freud sugestiona algumas hipóteses de transição entre tais "sistemas".
Os três primeiros ensaios do livro dão sustento para aquilo que discorre e propõe o autor no último capítulo. Qual a origem do totemismo? Qual a razão da escolha de determinado animal para figurar como totem de um povo? Quais são os critérios (se existem) que estabelecem o tabu? Há alguma relação possível de ser detectada entre as neuroses da sociedade atual e a forma com que se davam os povos selvagens?
Estes e outros tantos questionamentos (que são apresentados na obra como hipóteses, sugestões e deduções históricas) levam Freud a propor o complexo de Édipo, salientando que neste coincidem os inícios da religião, moralidade, sociedade e inclusive da arte. Assim, estabelece que o "pai tirano", ao ser assassinado pelos filhos, seria a causa base para o sentimento de culpa e da exogamia, se tratando inclusive de um dos pilares que culminou na religião.
Leitura muito interessante. Recomendo!