Lelouch_ph 24/04/2024
Como se conta uma vida de forma honesta?
Para falar de Maus é importante deixar claro como essa obra fala de um humano, que por mais que tenha passado pelo inferno por puro preconceito ele próprio não supera os que possui. A vida do pai de Art Spiegelman, é uma história de uma pessoa com princípios da década de 20-30. Então antes de ler a obra tenha ciência disso e tente não odiá-lo. Não vou falar sobre a história pois creio que, neste caso em específico, isso tornaria a leitura menos marcante. Mas em compensação, falarei sobre a maneira como o autor adaptou às gravações de conversas que teve com seu pai que inclusive também estão na obra. A parte mais interessante, de fato, é a escolha dos animais que representam cada grupo de personagens. Ratos representando os judeus para mostrar a que nível chegou a caça a essa etnia por parte da Alemanha. Gatos representando os alemães, para demonstrar o nível de aversão aos judeus. Porcos representando os poloneses que, por mais que tenham sido derrotados pela Alemanha, eram tratados de forma menos agressiva ou até respeitosa.(Eram vistos como humanos.) E cachorros para representar os estadunidenses, não são necessariamente amigos dos ratos, mas com toda a certeza são inimigos dos gatos. Essa construção parece simples, mas põe mais ênfase aos papéis de cada personagem trazendo uma profundidade maior aos atos cometidos por cada um. Dessa forma, mesmo para quem entende pouco do nível de atrocidades cometidas na segunda guerra pela Alemanha contra os judeus, torna-se mais simples a passagem da mensagem para um público mais leigo. Outro ponto a se analisar são as expressões dos personagens em momentos de dor ou sofrimento, ele consegue nos fazer sentir tristeza e se sentir tocados em cada quadro onde um rato sofre.
E mesmo sabendo que muitos dali não irão sobreviver, nós torcemos por cada um para que volte vivo. O autor, em mais de uma oportunidade, deixa claro como adaptar uma vida foi o maior desafio de sua carreira. Agradeço a ele por essa sinceridade, pois ela me deu mais certeza de que ele teve o cuidado necessário ao falar sobre o assunto que falou. Spiegelman teve a coragem de incluir cenas que dão mais peso a como a vida de seu pai muitas vezes não foi perdida por pouco, e muitas vezes é mostrado como o pouco pode salvar sua vida em uma situação como a que seu pais viveram. Uma habilidade a mais, ou menos, pode definir se você continuará vivo mais um dia ou não. Muitos filmes tentam demonstrar o nível de dificuldade que havia na vida dos que infelizmente estiveram nos campos de concentração. Mas neste livro, vemos essa adaptação feita com uma maestria rara de se ver. Aceitar um desafio como este por si só já é motivo de elogio, e conseguir concluir demonstra a genialidade do autor. Indico essa obra para qualquer pessoa que queira sentir a dor da sobrevivência que uma das pessoas presentes no holocausto teve de passar. E para aqueles que sejam fãs de quadrinhos, indico que analisem a obra com os dois olhos. Cada quadro possui uma peculiaridade que merece um olhar mais demorado. Não vão se arrepender de ler esse quadrinho.