Gabriel 22/09/2023
Mais do que um simples diário feito pelo Camus durante suas viagens pelos Estados Unidos da América, Canadá, Brasil, Chile, Argentina e Uruguai, este livro é um convite para se aproximar da alma do franco-argelino.
As observações registradas no diário naturalmente refletem o humor e o temperamento de Camus, de modo que a leitura é, ao mesmo tempo, divertida e melancólica. Divertida porque há um refinamento irônico na observação que o autor faz dos lugares por onde passa e das pessoas com quem dialoga. Melancólica porque o próprio Camus diz fazer um esforço para parecer normal. Havia um ímpeto depressivo que o arrastava frequentemente
Além do interesse de conhecer um pouco mais do Camus e de sua escrita, o que me trouxe a esta leitura foi a curiosidade de saber o que ele teria a dizer do Brasil quando aqui esteve nos anos 1940.
Durante a viagem, ele passou por Rio, Recife, Olinda, Salvador, São Paulo, Iguape e Porto Alegre. Elogiou a modesta Iguape (que, durante a leitura, descobri que inspirou um conto escrito por ele, chamado "A pedra que cresce"), chamou de feia Porto Alegre e não parece ter se dado tão bem com as outras cidades, apesar dos comentários ora simpáticos, ora sardônicos.
De toda forma, o livro é satisfatório e cumpre a expectativa do leitor que, pelo título e pela descrição, busca se aventurar nessa leitura. Finalizo transcrevendo as palavras do próprio Camus sobre o Brasil:
"País em que as estações se confundem umas com as outras; onde a vegetação inextricável torna-se disforme; onde os sangues misturam-se a tal ponto que a alma perdeu seus limites. Um marulhar pesado, a luz esverdeada das florestas, o verniz de poeira vermelha que cobre todas as coisas, o tempo que se derrete, a lentidão da vida rural, a excitação breve e insensata das grandes cidades -- é o país da indiferença e da exaltação. Não adianta o arranha-céu, ele ainda não conseguiu vencer o espírito da floresta, a imensidão, a melancolia. São os sambas, os verdadeiros, que exprimem melhor o que quero dizer".